Leishmaniose: quem é o vilão dessa história?

Leishmaniose

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Criado em 11 de Novembro de 2013 Bichos

Para a protetora de animais Zilda Cabral, falta informação sobre o tema é um grande desafio

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Eutanásia de cães portadores da doença não precisa nem deve ser a melhor solução para combater a enfermidade
 
Pollyanna Lima
 
Se, como o velho ditado diz, “o cão é o melhor amigo do homem”, por que algumas pessoas ainda insistem em abandoná-los quando eles mais precisam de ajuda? Muitos são deixados nas ruas por seus próprios donos após serem diagnosticados com alguma doença e/ou infecção. A leishmaniose é uma delas, que, quando descoberta, causa desespero entre os donos, a família e os vizinhos do animal infectado, fazendo com que, na maioria das vezes, ele seja abandonado ou até sacrificado.
 
A leishmaniose é uma doença infectocontagiosa transmitida pela picada da fêmea do mosquito palha – também chamado de birigui – infectado pelo protozoário Leishmania chagasi. A transmissão só ocorre dessa forma, não podendo ser passada de cão para cão nem mesmo de cão para pessoa. Para que ela seja contraída, é preciso que o mosquito pique um animal infectado e, em seguida, pique outro animal ou mesmo uma pessoa. A partir do momento em que a vítima é infectada pelo mosquito, ela se torna um reservatório da doença, podendo transmiti-la por meio de outros mosquitos.
 
Ainda não foi descoberta a cura da leishmaniose, mas já existem tratamentos que impedem que o animal portador seja proliferador da doença. Por isso, ao suspeitar que o cão esteja infectado, é necessário levá-lo ao consultório veterinário para que sejam feitos os exames que confirmem, ou não, o diagnóstico.
 
 
De acordo com o veterinário Felipe Coutinho, não é possível realizar o diagnóstico da doença somente por exame clínico. “O dono deve marcar uma consulta com um médico veterinário para a realização de um exame de sangue e, caso confirmada a doença, buscar orientações sobre como proceder, as formas de prevenção, o controle e as opções de tratamento”, explica.
 
Para Coutinho, o maior risco é manter dentro de casa o vetor da doença, que, no caso, é o inseto. “Conservar o quintal bem limpo e sem umidade já ajuda, e muito, a eliminar os sítios de multiplicação desse transmissor”, diz Felipe. “O número de casos de leishmaniose aumenta de acordo com a região. Geralmente, nas periferias urbanas, há muita incidência, uma vez que ainda são deficientes em saneamento básico, motivo que as tornam grandes áreas endêmicas. Além disso, essas regiões são carentes de políticas públicas consistentes, com campanhas informativas sobre o vetor da doença”, explica o especialista.
 
A protetora de animais Zilda Cabral também concorda que falta informação sobre o assunto. “Existe muito preconceito em torno da leishmaniose. As pessoas precisam conhecer melhor a doença para que possam contribuir para a eliminação dos mosquitos nas áreas urbanas e para a solidariedade aos cães portadores. Abandoná-los nas ruas não vai acabar com o problema e, sim, aumentar a sua proliferação, já que esses cães abandonados não receberão os cuidados necessários, podendo ser hospedeiros para a contaminação de novos mosquitos”, declara.
 
Thaís Tavares, veterinária/ Fotos: Deivisson Fernandes
 
Segundo a médica veterinária Thaís Moreira Tavares, muitos proprietários negligenciam a doença em seus pets, por questões financeiras ou mesmo por descaso. “Nesse momento, uma questão muito importante e pouco discutida é a ‘posse responsável’, ou seja, a partir do primeiro momento em que se decide ter um animal, a pessoa deve ter em mente os gastos com vacinas, a necessidade de fazer vermifugação, o tratamento médico, a alimentação, o conforto e as prováveis emergências. Um cão infectado sem acompanhamento, cujo dono ignora as instruções do médico veterinário, é considerado um risco à sociedade, pois ele se tornará um reservatório da doença. Mas, veja bem, quem é o ‘vilão’? O cão, que teve seus cuidados negligenciados, ou o proprietário, que, consciente dos riscos, os ignora?”, questiona Thaís.
 
Para a veterinária, o tratamento é eficaz, desde que o dono do animal esteja comprometido com o cão. “O tratamento não cura o animal, pois ele continua com uma carga parasitária reduzida em seu organismo. Porém, estudos científicos comprovam que cães em tratamento têm a capacidade drasticamente reduzida de infectar os insetos vetores durante o repasto sanguíneo, além de que, após o tratamento, com o devido acompanhamento veterinário, os animais têm a qualidade de vida restabelecida. Tratar o animal é uma alternativa segura para mantê-lo em sociedade”, salienta.
 
Thaís ainda explica que, caso a doença já tenha comprometido funções orgânicas importantes, o tratamento se tornará inviável, pois só prolongaria o sofrimento do animal. “Em cães muito idosos, a avaliação também deve ser criteriosa. Mas é sempre importante lembrar que cão positivo em tratamento ou negativo para a doença deve ser cercado de cuidados contra a aproximação desse mosquito, já que vivemos em uma região endêmica”, reforça a veterinária.
 

 




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