4 x 4 pelo bem

Jipeiros auxiliam trabalhos de combate a incêndio no Parque da Serra do Rola Moça. Facilidade de locomoção dos veículos off road agiliza os trabalhos.

Criado em 26 de Outubro de 2017 Bom Exemplo
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DURANTE O PERÍODO DE SECA, é comum a incidência de queimadas em grandes áreas preservadas, como o Parque da Serra do Rola Moça, na região metropolitana de Belo Horizonte. Por lá, centenas de bombeiros e brigadistas voluntários têm atuado arduamente dia e noite para debelar as chamas, que, quanto mais avançam, mais destruição causam.

Em meio ao trabalho incessante, um grupo de jipeiros de Betim, também na região metropolitana, tem se voluntariado, dando suporte às ações de combate ao fogo. Por terem veículos apropriados para circular em terrenos irregulares, com terra fofa e lama, eles vão até os locais para oferecer o apoio necessário: levam água, comida, materiais e ferramentas e transportam os brigadistas e os bombeiros da base até onde estão os focos dos incêndios. “Nosso trabalho no Rola Moça não é feito no ano todo, só nos meses mais críticos: agosto, setembro e parte de outubro, período muito seco, em que ficamos em alerta e em contato com os bombeiros. Nós nos comprometemos a ficar de plantão”, explica um dos integrantes do grupo, o motorista cegonheiro Elmírio Eduardo de Almeida, o Mirim, de 40 anos, jipeiro nas horas vagas.
O trabalho é uma parceria com o Corpo de Bombeiros. O Comandante do Batalhão de Emergências Ambientais e Respostas a Desastres (Bemad), major Anderson Passos, detalha que reuniões com os jipeiros começaram a ser realizadas antes do período de queimadas, em meados de abril. Segundo ele, o entrosamento da equipe voluntária com a corporação superou as expectativas. “Montamos um Sistema de Comando em Operações, por meio do qual existem uma divisão de tarefas e o estabelecimento de prioridades. Os jipeiros chegavam lá e recebiam uma orientação. Mesmo que, no meio do caminho, houvesse outras circunstâncias, eles permaneciam com o que foi passado pelo posto de comando. Afinal, uma característica dos incêndios florestais é eles acontecerem em áreas muito grandes, onde a comunicação é difícil. Então, combinar e seguir o combinado são duas coisas fundamentais para o sucesso do trabalho”, salienta.
 
FACILIDADE
 
O jipe agiliza uma série de ações em comparação com outros meios de locomoção, como carros ou até mesmo aeronaves. Segundo a psicóloga e fotógrafa Márcia Andrade, de 52 anos, que também é jipeira, há locais dentro do parque distantes da base dos bombeiros, com terreno muito irregular, aonde só o jipe consegue chegar. Além disso, o veículo tem a facilidade de transportar muitas pessoas em um curto espaço de tempo. “Houve um dia em que eles estavam atuando com 180 pessoas e precisavam levá-las até os focos. Dentro da aeronave, cabem cinco, mas, com dez jipes, levávamos uns 40 de uma vez só e também as ferramentas”, relata.
Outra função dos jipeiros é ajudar na visualização de possíveis focos ao transitarem no asfalto das imediações do parque, já que dentro dele é proibido andar, a menos que seja para combater queimadas. “Quando o incêndio termina, ficamos monitorando alguns focos. Onde há sinais de fumaça, conferimos se o fogo realmente está extinto; se não estiver, comunicamos à base e enviamos brigadistas para o local”, diz Márcia.
Para auxiliar no conhecimento geográfico do parque, Mirim está mapeando a área do parque a fim de descobrir rotas mais rápidas para quando for necessário chegar a locais que são de difícil acesso mesmo com o uso de GPS. A ideia também é saber quais estradas comportam cada tipo de veículo (carros leves, off road, entre outros).
 
 
APRENDIZADO
 
Como ocorre em quase toda ação voluntária, quem fica mais marcado com a situação é a pessoa que se prontifica a ajudar. Saber que está fazendo algo que promove a diferença e gera uma mudança real é uma das coisas que movem esses jipeiros. Para Márcia, o reconhecimento por parte do Corpo de Bombeiros e dos brigadistas vale todo o esforço. “Aprendemos muito com eles nesse momento crítico. Vale a pena auxiliá-los nesse trabalho, que é árduo, pois há brigadistas que passam o dia atuando e não se lembram de beber água, por exemplo. Nós os auxiliamos nesses aspectos, e eles se sentem gratos com isso”, conta.
Mirim destaca o repasse de experiências técnicas. Eles ensinam para os bombeiros aspectos da conduta off road, como a forma ideal de dirigir em uma estrada com terra ou lama, a transposição de obstáculos comuns em vias não urbanizadas e o uso de equipamentos específicos que podem ajudar em situações de resgate. “É uma troca de conhecimento muito grande e oportuna”, afirma.
Para o major Anderson Passos, o apoio logístico dos jipeiros é fundamental. “No incêndio florestal, a maior parte do esforço inclui prestar assistência logística a quem está na ponta do fogo, posicionar os brigadistas, levar água e comida. A cada novo foco de incêndio que surge, a turma já fica preparada e se prontifica a ir”, elogia.
 
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Jipeiros de Betim atuaram como apoio no salvamento das vítimas do rompimento da barragem de Fundão, em Mariana, na região Central de Minas, em 2015
 
 
OUTRAS SITUAÇÕES DE EMERGÊNCIA
 
Rompimento de barragem em Mariana, na região Central de Minas, em 2015, deslizamento de terra em Itajaí (SC) em 2008 e enchentes em cidades da região serrana do Rio de Janeiro em 2011. Essas foram algumas das emergências em que os jipeiros já atuaram. A função? O que for preciso fazer. A facilidade do jipe de transitar pela lama e em terrenos irregulares serve para transportar ferramentas, equipamentos, donativos e até para retirar pessoas de áreas de risco ou socorrer vítimas.
Esse trabalho não é exclusividade do grupo de Betim.  É comum a jipeiros ao redor do mundo, segundo Elmírio. Ele conta que sua turma atuou no resgate às vítimas e na reconstrução de cidades afetadas pelo furacão Irma, nos Estados Unidos, que arrasou algumas regiões do país entre o fim de agosto e o a primeira quinzena de setembro últimos. “Uma coisa que eu gostaria de exaltar é a união. Hoje os jipeiros formam uma das classes mais unidas que existem, principalmente nessas causas de catástrofes”, conclui. “É muito bacana esse espírito de ajudar as outras pessoas que precisam. A gente vê o quanto elas ficam agradecidas por estarem recebendo essa ajuda. E o mais importante: trabalhamos em equipe, todos unidos e juntos por uma mesma causa”, confirma Márcia.
 



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