Corrente do bem

Bom exemplo

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Criado em 14 de Setembro de 2015 Bom Exemplo
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Conheça cinco mulheres que transformaram a luta contra o câncer em solidariedade e se tornaram fonte de esperança para muitos

Luna Normand

A ESTUDANTE Thamara Paola Quirino, 23 anos, descobriu que tinha câncer em março de 2014, após quase dois anos sen­tindo mal-estar, pressão alta, enjoos e dis­funções hormonais. Depois da confirma­ção do diagnóstico vieram os dias de luto, os questionamentos e o início da luta. Em vez de se esconder e enfrentar tudo so­zinha, no entanto, ela preferiu comparti­lhar seu tratamento em um blog e tentar ajudar outras pessoas na mesma situação.

Atitudes como essa são cada vez mais comuns em nossa sociedade. Transformar a dor em solidariedade e fonte de espe­rança tem se tornado projeto de vida de gente que busca amenizar o sofrimento de doentes e familiares com a simples tro­ca de informação e um pouco de afeto e de atenção.

Thamara escreve diariamente sobre dicas de eventos, cuidados com o corpo e a pele, alimentação e maquiagem, mas são suas amarrações de lenços que fazem sucesso na internet e entre pacientes com câncer. “Ao colocar a peruca pela primei­ra vez, eu me senti muito desconfortável, incomodada. Ela arranhava o couro cabe­ludo, que estava muito sensível. E outro fator ruim foi a sensação de ‘mentira’ que eu senti quando me vi usando uma. Todos decidi assumir isso de uma forma muito natural”, conta.

A ideia de criar o blog surgiu após ela compartilhar esses e outros momentos nas redes sociais, demonstrando que é possível, sim, manter a autoestima ele­vada mesmo com a quimioterapia. Para colocar o projeto em prática, Thamara teve a ajuda da irmã, Polly Quirino, e das amigas Vanessa Luiza, responsável pelas artes gráficas e pelas fotografias, e Thaíse Lopes, pelas maquiagens. "Meu objetivo é motivar mulheres com a autoestima baixa, em tratamento de câncer ou não, a se cuidarem. Procuro mostrar a elas que é possível estar bem consigo mesma em todos os momentos e que não é porque estamos sem cabelos e com a pele mais sensível que não podemos ficar lindas. Claro que podemos!”, afirma.

O trabalho tem rendido bons fru­tos. Com menos de 30 dias no ar, o site (www.thamaraquirino.com.br), lançado em julho, já contabilizava mais de 3.000 acessos. Além disso, ele tem rendido participações de Thamara em programas de televisão, como o “Moda & Estilo”, da Globo Minas, bem como publicações de textos em diversas mídias e muitos compartilhamentos em outros blogs que abordam a luta contra o câncer. “Muitos pacientes, seus familiares e mesmo pes­soas que não estão doentes fazem ques­tão de enviar depoimentos de histórias e agradecem pela motivação que recebem com meus posts. Me sinto muito feliz. Re­presenta uma missão e me traz muita gra­tidão. A cada nova história que conheço, me sinto ainda mais motivada a continuar lutando pela minha vida e incentivando outras pessoas a também lutarem. Perce­bo que, por mais árdua que seja a batalha, é o modo como você a enfrenta que faz a diferença”, ressalta.

Thamara Quirino faz planos para o futuro. Entre os projetos estão parceiras com instituições para a divulgação de eventos, arrecadação e distribuição de lenços, além da oferta de cursos de ma­quiagem para pacientes. “Também estou e preparando um espaço para receber convidados, fazer vídeos e continuar le­vando a motivação aonde ela for necessá­ria”, antecipa a blogueira.

DOAÇÃO

Foi a partir da perda de pessoas que tanto amava que a jornalista Flávia Freitas, 32, resolveu levantar a bandeira da soli­dariedade e ajudar o próximo por meio de uma ação de cidadania. Ela é idealiza­dora da Quinta do Bem, campanha que, há quatro anos, incentiva o cadastro de medula óssea e contribui para aumentar as chances de salvar a vida de pacientes que precisam do transplante.

Flávia acompanhou e sentiu toda a dor do câncer duas vezes: a primeira, quando o irmão mais velho, Anderson, morreu ví­tima da leucemia, 15 anos atrás. Em 2011, foi a vez da prima dela, Ana Paula, perder a batalha para a mesma doença. “A campa­nha, criada em Betim, teve o objetivo de encontrar um doador que pudesse salvar a vida de Ana Paula e de outras pessoas que precisam do transplante. A ideia sur­giu no dia em que minha prima soube que não tinha doador compatível na família. O dia era uma quinta-feira. Por isso, o nome Quinta do Bem”, explica.

Desde então, o gesto de solidariedade se tornou missão para a jornalista. Todas as quintas-feiras, ela propõe a dezenas de mulheres o uso do lenço na cabeça e a homens, o uso de uma fita vermelha no braço, que são os símbolos da campanha. Para divulgar a ação, as pessoas postam e compartilham nas redes sociais as fotos usando os acessórios.

A adesão à campanha foi imediata, e a Quinta do Bem ganhou apoiadores e voluntários de várias partes do Brasil e até exterior, uma página no Facebook e um blog, o ocomuniquebem.blogspot.com. “A Quinta do Bem é uma campanha social, voluntária e sem fins lucrativos. As ações realizadas contam com o apoio de familiares, amigos, seguidores da campanha, empresas e instituições”, afirma Flávia.

Com o crescimento da campanha, a jornalista passou a receber convites para palestrar voluntariamente em escolas, universidades, empresas e instituições. Foi numa dessas palestras que ela teve a ideia de transformar a história da campanha em revista em quadrinhos, “A Liga da Quinta do Bem”, a primeira de Minas Gerais que transforma a luta contra a leucemia em animação. “Os primeiros exemplares para o lançamento foram impressos com recursos próprios. A história retratada na revista narra casos de meu irmão e da minha prima, que, infelizmente, faleceram por causa da doença. Seu formato lúdico e didático busca divulgar a importância da doação de medula óssea e também sensibilizar e informar as crianças e os jovens sobre o cadastro de doadores feito nos hemocentros, contribuindo para que o público infantojuvenil seja multiplicador da campanha”, diz.
 
O reconhecimento da Quinta do Bem veio no ano passado, com a indicação de Flávia Freitas para o Prêmio Bom Exemplo, uma iniciativa da Globo Minas, em parceria com a Fundação Dom Cabral, a Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais (Fiemg) e o jornal O Tempo, a condecoração com a comenda mérito da Saúde do Estado de Minas Gerais como cidadã voluntária parceira do SUS e o convite para ser madrinha do Outubro Rosa. Apesar dos prêmios, ela diz que a participação e o apoio das pessoas são o que fazem a campanha acontecer. “Digo que a Quinta do Bem não é da Flávia, é de todos que participam dela, porque a gente não faz nada sozinho. A Flávia, pela história familiar, passou a ser um agente de mobilização, mas a campanha se faz por todos que abraçam a causa”, salienta.
 
E de onde vêm a força e a inspiração para continuar? “Desses encontros e experiências que a Quinta do Bem me proporciona. São muitas histórias emocionantes, e já não consigo mais mensurar quantas pessoas fizeram o cadastro, são centenas. Torço para que a campanha possa tocar e sensibilizar cada vez mais pessoas para essa causa”, comemora.
 
CONHECIMENTO QUE SALVA VIDAS
 
 
Que tal uma aula sobre câncer de mama? É o que propõe o grupo Pérolas de Minas, criado, em março, por três mu­lheres que compartilham a mesma histó­ria: elas venceram o câncer de mama. Foi assim que a administradora Ana Carolina Calabró, 40 anos, a confeiteira Denise Paiva, 38, e a administradora Maria Luiza de Oliveira, 53, se conheceram e decidi­ram, por meio das próprias experiências, falar sobre a doença para mulheres em tratamento ou não. “Depois da supe­ração, sentimos a necessidade de levar palavras de apoio, informação e nossos depoimentos para as pessoas. A maioria não tem nenhum conhecimento sobre o câncer de mama. Sendo assim, fica mui­to difícil entender o que irá acontecer durante o tratamento e quais são os di­reitos que temos nesse período”, afirma Maria Luiza.

As três promovem, por conta pró­pria, lanches em casas de apoio, onde falam da vida pós-tratamento e da im­portância da detecção precoce da do­ença, além de darem dicas para quem está passando pela quimioterapia. “Alertamos as mulheres sobre sintomas, como nódulo endurecido e inversão do mamilo, e a respeito da importância de se fazer a mamografia. É ela que vai identificar algum problema. Esse é o exame indicado pela Sociedade Brasilei­ra de Mastologia, e, diante de qualquer dúvida ou alteração, recomendamos procurarem o médico”, contam.

O Pérolas de Minas participa de projetos que visam arrecadar fundos para instituições que acolhem pacien­tes com câncer, como o recente Bazar MMartan, em Belo Horizonte, que teve parte da renda revertida para crianças em tratamento do câncer acolhidas pela Casa Aura. “O grupo é a realização de um sonho, e o retorno é o melhor possível. É muito bom ler ou ouvir al­guém dizer que você o ajudou esclare­cendo a doença e, com isso, diminuir o medo. É um amor incondicional poder ajudar o próximo a enfrentar esse mo­mento de dor, que nos deixa frágeis e debilitadas. Acredito que isso seja com­partilhar amor”, diz Maria Luiza.

Ela lamenta, no entanto, a falta de empenho e visão de algumas institui­ções e empresas, que só procuram o grupo por ocasião da campanha Outu­bro Rosa, realizada, todos os anos, no mês de outubro. “É uma pena, pois a doença surge todos os dias. Um alerta para a detecção precoce pode salvar uma vida”, destaca.

Exatamente para levar informação a muito mais mulheres, Maria Luiza já vislumbra novos caminhos. “Quere­mos tornar o projeto um instituição jurídica e, depois, abrir uma casa de apoio a mulheres em tratamento”, re­vela. Por enquanto, o acesso ao Pérolas de Minas pode ser feito apenas pelo Facebook ou por e-mail (perolasdemi­[email protected]).

 

SERVIÇO

Como saber mais sobre esses projetos:

Thamara Quirino

(www.thamaraquirino.com.br)

Quinta do Bem

(comuniquebem.blogspot.com) ou pelo Facebook

Pérolas de Minas

([email protected]) ou pelo Facebook

 




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