A dama do jeans

Entrevista - Regina Matina Vidal

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Criado em 09 de Agosto de 2013 Conversa Refinada
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Uma das figuras mais importantes da moda mineira, ela não mede esforços para superar os momentos difíceis e manter a DTA, empresa fundada por ela e seu marido, o empresário Ermínio Vidal, no hall das mais importantes confecções do país. Saiba mais sobre Regina Matina Vidal, 45, uma mulher decidida, disciplinada e com grande espírito de liderança

Viviane Rocha

REVISTA MAIS - Como começou sua trajetória profissional?

Regina Matina – Iniciei como estagiária na Caixa Econômica Federal, em 1985. Fiquei lá por dois anos. Após o término desse estágio, fui trabalhar em uma construtora civil, em Belo Horizonte. Na época, essa empresa construía uma casa para o Ermínio (fundador, diretor-geral da DTA e marido de Regina) e, por isso, acabamos nos conhecendo. Lembro que ele precisava de uma assessora para assisti-lo na Câmara de Betim e me fez o convite de emprego. Decidi aceitar e vir para cá. Nesse período, ele era vereador e presidente do Legislativo da cidade, além de superintendente da Cerâmica Saffran.
 
Como foram os primeiros anos em Betim?
Logo depois que vim para cá, nós começamos a namorar. Então, deixei meu cargo na Câmara e, em 1988, ele candidatou- se a prefeito, mas acabou perdendo. Foi nesse mesmo ano que começamos a construção da fábrica ICL - Industrial Cachoeira Ltda, detentora da marca DTA. Em 1989, o galpão já estava em funcionamento. Mas, antes disso, a ideia do Ermínio era fabricar tênis, porém, para isso, teríamos de competir com marcas muito fortes, como a Topper e a Rainha.
 
Foi então que surgiu o projeto da DTA Jeans?
Sim. Na época, o Ermínio era superintendente da Saffran e desejava abrir um negócio próprio. Mas iniciar essa empresa pequena, já competindo com gente tão grande e poderosa e com um avançado know-how, seria muito difícil. Deixamos essa ideia da fábrica de tênis de lado e decidimos investir em outro projeto que era a confecção. Passamos por muitas dificuldades, batemos de porta à porta para vender e levamos muitos nãos na cara. Como não viemos do ramo de confecção, eu e Ermínio, que é contador, começamos atuando na área administrativa da ICL. Entre 1989 e 1990, foi o período de montar a estrutura física da empresa, formar os grupos de costura, a equipe da lavanderia, do corte e os outros setores necessários para que a primeira coleção Disritmia fosse lançada. Começamos a empresa com cerca de 20 funcionários. Hoje, temos 380. Na época, recebemos muitas propostas para nos tornarmos faccionistas de grandes redes de magazines, como a C&A, mas recusamos todas. Queríamos desenvolver e confeccionar o nosso próprio produto, muito bem modelado, muito bem cortado, muito bem lavado e que levasse a nossa marca.
 
Como aconteceu?
Ficamos sabendo que uma grande fábrica do ramo de confecção havia fechado no Nordeste. O Ermínio, juntamente com o senhor Damião Chaves, gerente de produção da fábrica da Divina Decadência e recém-contratado para ser o nosso gerente de produção, foram até Alagoas, compraram todas as máquinas dessa empresa. Logo em seguida, o senhor Damião fez o layout de todas as máquinas da empresa: máquinas de costura, lavanderia, corte e acabamento. Em 1991, quando começamos, o Ermínio dividia o tempo dele entre a ICL e a Saffran. Já eu era a pessoa dele na ICL, como acontece até hoje. Fico exclusivamente aqui. Nesse mesmo ano, lançamos nossa primeira coleção. Antes disso, fizemos facções para a Divina Decadência e para outras fábricas, mas somente para acertar o processo de produção. O projeto mesmo era criar a DTA, que, na época, se chamava Disritmia.
 
Quando vocês perceberam que a fábrica já estava consolidada?
Toda coleção é sempre um desafio. Por isso, é difícil datar com precisão. Entre 1991 e 1992, foram muitas dificuldades. Nos dois ou três primeiros anos, é complicado estabelecer um padrão para o produto. A primeira coleção foi bem pequena, com cerca de 20 peças. Comercializávamos apenas jeans. Já a segunda coleção foi maior e já tínhamos a sarja. Depois, com o aumento do número de representantes, conseguimos atingir o mercado brasileiro. Cerca de cinco anos após a fundação, a marca Disritmia já havia lançado 10 coleções e havíamos conseguido uma estabilidade. Esses primeiros anos foram cruciais para testar a marca, alinhar o mix de produtos, acertar a equipe de trabalho e o estilo de roupa com que iríamos trabalhar.
 
De onde vem a mão de obra da DTA?
Ela é 80% de Betim. Os outros 20% ficam divididos entre Contagem e Belo Horizonte. Também formamos profissionais dentro da fábrica para valorizarmos as pessoas daqui.
 
A senhora mora em Betim?
Não. Morei aqui até o ano passado. Fiquei em Betim por 21 anos. Residíamos em uma casa muito grande, mas decidimos ir para Belo Horizonte, morar em um apartamento, porque queríamos ficar perto das nossas famílias. Boa parte dela vive na capital. Os filhos, a mãe, os irmãos e outros parentes do Ermínio moram em BH.
 
 
Como a senhora fica o dia inteiro na fábrica e, às vezes, até altas horas da madrugada trabalhando, o deslocamento para empresa dever ser bastante desgastante. Tem um ponto de apoio na cidade para não ter de voltar para a capital?
Não. No momento que saio de BH e entro no carro, já coloco o celular no Bluetooth e venho trabalhando. Antes, realmente, tínhamos um ponto de apoio aqui. Chegamos até a alugar um apartamento aqui, mas isso acaba gerando transtornos e decidimos não ter mais. Agora, nosso ponto de apoio é a nossa casa. Qualquer eventualidade, tenho uma geladeira em que guardo sempre um lanchinho aqui na fábrica. Se tenho um compromisso a cumprir após o expediente, eu me viro por aqui mesmo.
 
O que Betim significa para a DTA?
É a cidade que nos acolheu. Temos orgulho de estar em Betim e sabemos que a cidade se orgulha de nós. Quem vem pela primeira vez ao bairro Cachoeira, local onde a fábrica está instalada, tem como referência a DTA. Nestes 22 anos de atuação, possuímos funcionários com 20, 21 anos de casa. Muitos continuam aqui, outros já se desligaram da empresa, mas me lembro da fisionomia de
cada um. Sei que eles também pensam na DTA com muito carinho, criamos um bom relacionamento de trabalho.
 
Como observa a evolução da moda no Brasil? Acha que o brasileiro se veste bem?
O Brasil é um país tropical, com muitas cores e estampas. As pessoas são vaidosas, ligadas à beleza e, por isso, gostam de se vestir bem. É uma população que dá muito valor à roupa e que fica em dia com a moda.
 
A senhora viaja bastante?
Sim. De quatro a seis vezes por ano vou ao exterior. Nós viajamos para fazer pesquisas, temos de trazer informações de tendências e de estampas. Criamos 1.300 peças por ano. É um número alto, um ritmo alucinante. Hoje, temos os mais importantes centros de moda em Nova York, Londres, Milão e Paris. São lugares importantes, onde podemos fazer um resumo de tudo o que está acontecendo na moda.
 
O que gosta de fazer nas horas vagas?
Gosto muito de escutar música dos anos 1980 e MPB. Meu hobby também é fotografar. Gosto de ver revistas de moda com calma, pesquiso marcas, faço um estudo da concorrência e acompanho os desfiles. Não consigo fazer isso no meu trabalho. Mas também adoro organizar festas de família, como escolher o local, cardápio e a decoração. Sempre nos reunimos em datas específicas, como o Natal, o Réveillon, Dia das Mães, Dia dos Pais e aniversários. Algumas vezes, Ermínio e eu juntamos as duas famílias. Mas, se a data pede uma “separação”, cada um passa com a sua.
 
Tem filhos?
Não.
 
A maternidade não a atraiu?
Meus filhos são as coleções. Com o tempo, o trabalho foi naturalmente me absorvendo. A dedicação a ele também me influenciou. Não foi uma vontade muito grande, passou. Na época em que conheci o Ermínio, os filhos dele ainda eram muito pequenos e eu também tenho irmãos mais novos. Sempre fui “irmãe” dos meus irmãos, dos meus enteados, dos funcionários, das coleções. Fui e sou um
pouco mãe de tudo.
 
Quantos filhos o Ermínio tem?
Um casal. A Adriana Vidal é a responsável pelo showroom da marca em BH e pela parte de marketing da empresa. Ela trabalha em BH. Já o Marco Aurélio Vidal também trabalha aqui, mas dentro da fábrica. Ele é nosso diretor industrial.
 
Seus parentes também atuam na fábrica?
Sim. Tenho cinco irmãos, e dois deles atuam na DTA. O Paulo Matina é chefe da lavanderia e a Tânia Matina, supervisora de desenvolvimento de coleções.
 
Fica mais fácil trabalhar em família?
Fácil não é, mas aqui funciona porque cada um respeita o seu espaço. Todas as tarefas são bem divididas. Com respeito e essa divisão estabelecida, é muito bom trabalhar em família. Mas também temos colaboradores próximos e figuras muito importantes que nos ajudam na administração da empresa.
 
O Ermínio continua na fábrica?
Sim. Ele é o diretor-geral e cuida de toda a parte comercial, jurídica e contábil da DTA. Ele tem inúmeras atribuições.
 
 
É verdade que a DTA está em crise?
Estamos passando por uma recuperação judicial e trabalhando para nos livrarmos dela. Isso ainda não aconteceu, mas temos boas expectativas. Precisamos acertar mais em cada coleção, vender mais para sairmos deste momento. Temos uma pendência econômica, não financeira, pois estamos vendendo, recebendo, comprando e pagando. Estamos trabalhando para acertá-la.
 
Isso já tem muito tempo?
Cerca de dois anos. É um período muito delicado, como tantos outros por que já passamos e superamos. Agora, é trabalhar e acertar. O que não falta é força de vontade.
 
Qual o perfil de quem consome as roupas da DTA?
Perfil de quem quer um produto de qualidade e sabe que está adquirindo algo muito bem cuidado e bem elaborado. Não há faixa etária definida. A minha sogra tem 88 anos e a calça jeans que ela usa é da DTA. Mas minha sobrinha tem 12 anos e também veste o nosso PP e tamanho 34. Todos podem ser nossos consumidores.
 
Como será a coleção Primavera/Verão, a ser lançada no fim do ano?
Terá peças mais sofisticadas, com vestidos, blusas, estampas florais e de bicho. O jeans Premium chega muito bem elaborado, com lavagens sofisticadas, adornos especiais, e a sarja, que também vai pontuar a coleção, chega com uma cartela de cores exclusiva.
 
O que a inspira?
É sempre inspirador pensar em cores, natureza, lugares paradisíacos. Estudar, imaginando o que as pessoas desejam, pensar muito para acertar. Nós trabalhamos sempre uma estação antes. Temos de estudar, desejar, trabalhar para acertar mais, só que seis meses antes. Precisamos nos inspirar, pensar no que fizemos na edição anterior, ver como está o mercado e escutar o representante, o lojista e o consumidor final.
 
A diferença de idade de 25 anos entre a senhora e seu marido foi um empecilho no relacionamento?
O que nos uniu foi termos pensamentos e costumes parecidos, gostarmos das mesmas coisas, além disso, a força, a dedicação e o trabalho. Defendemos o trabalho sempre com os mesmos objetivos. Conheci o Ermínio já homem formado, respeitado, supercompetente, cheio de atribuições. Ele é um homem muito reconhecido na sociedade e na política. Se um de nós dois pensássemos de forma diferente, seria mais difícil. Tenho esse pensamento. Se homem e mulher têm objetivos comuns, a idade se torna indiferente.
 
O que não falta no seu guarda-roupa?
Meus looks são basicamente preto, branco, azul e jeans. Adoro uma calça jeans, usar legging preta, jeans preto e sarja preta. Amo camiseta branca ou preta. Como trabalhamos muito com estampas, cores e modelagens novas a todo momento, esse excesso de informações me tornou inconscientemente uma pessoa mais clean. Ao mesmo tempo, preciso estar bem e confortável, usar algo que me dê liberdade de movimento. Nos pés, calço sempre um sapato de salto médio ou baixo. Você não vai me ver com um saltão. Só em ocasiões especiais, em que vou ficar sentada e linda. Não tenho elegância para segurar um saltão.

 




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