Com amor, sempre cabe mais um

Movidos pelo desejo de ajudar os animais que vivem nas ruas, cidadãos comuns abrem suas casas para servirem como lares temporários dos bichinhos até que eles sejam adotados

Criado em 30 de Agosto de 2017 Bichos

A empresária Vilma Mesquita foi incentivada pela filha a abrir sua casa para os bichinhos abandonados e, hoje, abriga dois filhotes de gatos, que dividem a casa com outros dois felinos adotados por Vilma

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Para algumas pessoas, dedicar-se aos animais é perda de tempo. Para muitas pessoas, oferecer atenção e carinho aos animais não é apenas algo necessário, mas uma missão de vida, e, assim, elas fazem ainda mais: concedem um espaço na própria casa para abrigar os que foram abandonadas ou que, simplesmente, nasceram na rua.

Esses lares temporários desempenham um papel fundamental no acolhimento de animais de rua ou que foram rejeitados pelos donos. Nesses locais, eles são cuidados, vermifugados, recebem até tratamento veterinário caso estejam com algum problema de saúde e, em seguida, são levados para a adoção. É o que afirma a professora aposentada Sônia Maria de Campos, de 61 anos. Ela, a irmã e a filha resgatam os bichinhos em situação crítica e os levam para casa. Dos 34 cães do lar, nove são dela e da irmã. Os outros 25 vivem temporariamente lá. Eles ficam no quintal da residência, que é grande, e todos os dias recebem alimentação com fartura, além de terem atendidas todas as necessidades como banhos e remédios. A maior parte dos insumos gastos é obtida por meio de doação, mas, segundo Sônia, muitas vezes ela tira do próprio bolso. Porém, o mais importante nunca falta: amor pelos bichos. “Aprendi com meus pais desde criança a respeitar os animais e faço o que posso para ajudá-los e defendê-los. É um amor incondicional. Acho que toda criatura viva é filha de Deus. E, como os animais não falam, não podem pedir socorro. Então, a gente faz isso por eles”, diz Sônia.

Além de resgatar os pequenos e abrigá-los, a professora aposentada também deixa ração do lado de fora, no passeio, para os que ela não consegue receber em casa. Sõnia conta que, frequentemente, leva os que vivem com ela para feiras de adoção, onde alguns deles conseguem ganhar um lar definitivo. Os que não são adotados voltam para o temporário. “Mas sempre aparece um anjo para adotar”, comenta.

Apego

Algumas pessoas se apegam tanto aos animais que, em vez de entregá-los para a adoção, ficam com eles de forma definitiva. A psicóloga Joice Caldeira Pereira, de 35 anos, tem um cãozinho cadeirante e um gato amputado – ambos chegaram à casa dela para receberem cuidados por um período e acabaram ficando. “Todos os cães e gatos que tive vieram de lar temporário”, recorda-se. Recentemente, ela “apadrinhou” três cachorros e uma gata, que aguardam adoção. São animais que, segundo ela, normalmente não ficam por muito tempo nos lares temporários, até mesmo para não se apegarem e não sofrerem quando forem para suas casas definitivas.

Joice participa do Juntos Somos Mais fortes, grupo de proteção animal que existe em Betim, e conta que, para manter os custos nos lares temporários e desenvolver outras ações em prol dos animais, são realizados bazares, rifas, buscam por doações, entre outras iniciativas. “É uma corrente mesmo. O que nos motiva é saber que podemos fazer alguma coisa, oferecendo um pouco de dignidade para esses animais”, ressalta.

Em família

Participante do Grupo de Amigos Protetores dos Animais (Gapa), também de Betim, a psicóloga Vanessa Mesquita, de 37 anos, abrigou o primeiro cão a pedido do filho dela, que o encontrou na rua e resolveu levá-lo para casa. Desde então, frequentemente ela e a família recebem cachorros e gatos em casa. Segundo Vanessa, os itens gastos são custeados por doações e ajuda de amigos.

Ela destaca que faz esse trabalho com muito amor, mas afirma que enfrenta algumas dificuldades. “Há alguns protetores que abandonam os animais no lar temporário, oferecem uma pequena ajuda e não aparecem de novo. Isso faz com que as pessoas fiquem receosas de receberem os animais, afinal cuidar deles gera custo e ocupa um tempo”, pontua.

Mas os obstáculos não a impedem de fazer o bem, tanto que ela até incentivou a mãe, a empresária Vilma Mesquita, de 66 anos, a fazer o mesmo. “A Vanessa começou a trazer para minha  casa, e eu gostei. Sinto-me bem em ajudar esses animais”, diz. No momento, ela abriga dois filhotes de gatos, ambos bem cuidados e disponíveis para adoção. Eles dividem a casa com outros dois felinos adotados por Vilma e que também chegaram para ficar temporariamente. Faço porque gosto mesmo. A Vanessa consegue doações de ração e medicamentos. E, quando é preciso, eu compro. Todos deveriam fazer isso, principalmente quem mora sozinho, como eu. É muito bom, faz companhia pra gente”, afirma.

Quem também desenvolve esse trabalho em parceria com a filha é a dona de casa Maria Air Santos Teles da Cruz, de 60 anos. Para ela, atender às necessidades dos animais é desempenhar um papel fundamental. “Por que não ajudar os cãezinhos assim como ajudamos as pessoas? Eles também são filhos de Deus”, diz.

Ela conta que começou a cuidar dos bichinhos de forma gratuita, pois entende que é uma maneira de contribuir com algo de bom para o mundo. E o retorno Maria Air garante que vem. “Quando você está doente e recebe um carinho, um afago, você se sente bem e protegido. Por que não fazer o mesmo com o cãozinho? Quando faço isso, eles olham para mim como se quisessem dizer: ‘obrigada, encontrei alguém que vai me ajudar’”, conclui.

Ativista pede ajuda

Tem gente com coração que não cabe dentro do peito. O comerciante Franklin Soares de Oliveira, de 48 anos, é uma dessas pessoas. Desde os 12 anos atua na causa animal e, atualmente, abriga 95 bichos – 72 cães e 23 gatos – em sua própria casa, nomeada carinhosamente de “Casa de Passagem”. Todos os animais foram resgatados por ele em situação de risco.

Franklin conta que a renda obtida como comerciante mal dá para cobrir as despesas com aluguel, ração, medicamentos, tratamentos, além de água e luz. Os custos chegam a R$ 6.000 por mês, segundo ele. “Tenho parceiros e padrinhos, mas, com a crise, muitos perderam o emprego e não podem mais contribuir”, lamenta. Devido às dificuldades, Oliveira está com uma dívida de R$ 20 mil por empréstimos feitos no banco para custear as despesas com os animais acolhidos.

A ideia é pagar as dívidas e conseguir remanejar pelo menos metade dos bichos para adoção. Mesmo com os obstáculos, Franklin não desanima. “O que me motiva são o amor e a compaixão por esses bichinhos”, comenta ele, que chega a se dedicar oito horas por dia para cuidar dos cães e gatos, mesmo trabalhando fora.

Quem desejar adotar um dos animais ou contribuir financeiramente com o trabalho de Franklin pode entrar em contato com ele pelo número 9 9676-0099 (celular e WhatsApp). O ativista mantém uma página no Facebook (https://www.facebook.com/frankilnsoresdeoliveira) e um blog (http://franklineumassis.blogspot.com.br).

A importância da castração

De acordo com dados divulgados em maio pela Agência de Notícias de Direitos Animais, a Organização Mundial da Saúde (OMS) estima que cerca de 30 milhões de cães e gatos estão em situação de abandono no Brasil.

Por isso, na opinião da fundadora da Sociedade Protetora dos Animais de Betim, Zilda da Silva Cabral, é fundamental o trabalho do lar temporário e de hotéis que recebem animais, por um valor mínimo, enquanto eles não são adotados. “A gratidão que temos dos bichos ao retirá-los da rua e oferecer-lhes um aconchego vale a pena em qualquer situação”, acredita.

Outra atitude importante que ela ressalta no que se refere ao cuidado com animais de rua é a castração. Esse ato ajuda a controlar a natalidade canina e felina e, como consequência, reduz o número de bichos abandonados. “O problema que a não castração gera é a quantidade de animais que vão procriando por aí”, diz.

De acordo com a Lei Estadual 21.970, de 15 de janeiro de 2016, que dispõe sobre proteção de cães e gatos, compete aos municípios o controle populacional desses animais. Em Betim, o serviço é oferecido de forma gratuita pelo Centro de Controle de Zoonozes e Endemias. No entanto, segundo Zilda Cabral, as castrações estão paralisadas há cerca de um mês. Contudo, conforme explicou a presidente da sociedade, foi fechada uma parceria com uma clínica para realizar as castrações de cães e gatos de rua. “Realizamos as inscrições das pessoas que têm interesse em levar os animais e fechamos parceria com uma clínica. As castrações vão ocorrer aos domingos, com veterinários voluntários, e vamos cobrir também toda a medicação pós-operação. Foi um grande apoio”, destaca.

Incentivo

No fim do ano passado, os escritores Laura Medioli e Fernando Fabbrini lançaram o livro “Só de Bicho: Crônicas Divertidas para Quem Ama os Animais”. A venda da publicação é revertida para ONGs que cuidam dos animais, e a Sociedade Protetora dos Animais de Betim foi uma das beneficiadas. De acordo com Zilda, o valor está sendo empregado em campanhas de conscientização sobre a importância da castração e também no apoio a protetores que desejam levar cães e gatos para serem castrados.

 




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