Entre os 8 melhores no arremesso de dardos

Aos 27 anos, betinense que ficou paraplégica em 2013 se destaca no paratletismo em nível nacional, exibindo medalhas e a vitória da superação

Criado em 23 de Agosto de 2018 Gente
A- A A+

Mostrar as duas medalhas de ouro obtidas no Circuito Caixa de Atletismo tem um gosto a mais para a paratleta Marcella Guimarães. Quem a vê hoje de bem com a vida e com um futuro promissor no esporte não imagina as barreiras que ela já enfrentou.

Em julho de 2013, quando tinha 22 anos, a jovem sofreu uma reviravolta. Antes estudante de design de interiores e completamente independente, a moça recebeu o diagnóstico de um hermangioma na medula. O tumor era benigno, mas, como ele se rompeu, ela teve que ser operada às pressas. Na cirurgia, quatro vértebras precisaram ser retiradas, o que a deixou paraplégica.

O choque inicial foi grande, conforme Marcella relata. Mas, aos poucos, ela foi reaprendendo a viver e a usar a cadeira de rodas. No começo, ficou três meses acamada. Depois, mais três meses de reabilitação no hospital Sarah Kubitschek, em Belo Horizonte. Lá, a jovem ouviu pela primeira vez do médico que não voltaria a andar. “Foi o único momento em que desabei. Mas, em seguida, aprumei e tentei me manter cada vez mais firme”, lembra.

Foi no Sarah que Marcella teve contato com o esporte sobre cadeira de rodas, quando começou a jogar basquete. Depois, já mais recuperada, ela comprou uma handbike, bicicleta guiada pelas mãos, que  usava como um hobby. O trabalho feito na fisioterapia e no pilates a ajudou a fortalecer os braços e o abdômen e a redescobrir o próprio corpo. Com isso, ela começou a praticar várias atividades, como natação e hidroginástica, até chegar ao atletismo.

O contato com esse esporte competitivo veio há sete meses, quando a fisioterapeuta que a acompanha a apresentou para a técnica do programa Viva o Esporte, da Prefeitura de Betim. Desde então, ela pratica arremesso de dardos e corrida em cadeira de rodas, duas modalidades do atletismo.

Marcella faz parte da equipe que representa a cidade e, em abril, participou da primeira competição que ranqueia atletas em todo o país, o Circuito Caixa, no qual ganhou duas medalhas de ouro: uma pelo arremesso de dardos, ficando entre os oito melhores do Brasil, e a outra na corrida de cadeira de rodas. A fase final do circuito vai ser realizada em setembro.

Apoio

Chegar até o pódio só foi possível com o apoio de muita gente. Marcella conta que a mãe, a irmã e os amigos estiveram com ela em todo o período da recuperação, incentivando-a a avançar. E cada pequena conquista era uma grande vitória, como voltar a sentir um dedo ou recuperar algum movimento. “Eu matava um leão por dia”, recorda-se.

Uma das amigas, a engenheira de produção Inahê Zaidan Drumond, de 28 anos, emociona-se ao lembrar as lutas enfrentadas por Marcella.  Era ela quem passava o “boletim médico” para o restante da turma. Obstáculos vencidos, Inahê vibra com cada vitória da amiga. “Vi uma menina com 22 anos, independente, ficar 100% dependente e, aos poucos, redescobrindo-se. Fico muito orgulhosa de ver a diferença entre o primeiro episódio, há cinco anos, e agora”, diz.

Vitória

Atualmente, Marcella mora sozinha, dirige, sai com os amigos e consegue levar uma vida independente, inclusive para o treino, feito cinco vezes por semana no Horto Municipal. São sete horas por dia de treinamento intensivo.

Como atleta disciplinada que é, ela faz acompanhamento nutricional e se alimenta adequadamente para melhorar os resultados dos treinos. A moça também frequenta a academia de segunda a sexta-feira.

A jovem ressalta que dificuldades impostas pela sociedade, como falta de acessibilidade em locais públicos ou em estabelecimentos comerciais, não a impedem de lutar pela mudança de realidades nem por seus sonhos. O principal deles, salienta Marcella, é evoluir no esporte, melhorar suas marcas e chegar às próximas Paraolimpíadas, em 2020. Para quem já venceu tantas barreiras, nada é impossível.

 

 




AVISO: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião de Revista Mais. É vedada a inserção de comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros. Revista Mais poderá retirar, sem prévia notificação, comentários postados que não respeitem os critérios impostos neste aviso ou que estejam fora do tema da matéria comentada.