Muito além da folia de Carnaval

Amor de carnaval

0
Criado em 12 de Fevereiro de 2014 Relacionamento
A- A A+
Histórias felizes de casais apaixonados que se conheceram nesse período do ano comprovam que é possível, sim, conhecer sua cara-metade nos momentos mais inesperados
 
Pollyanna Lima
 
Reza a lenda que amor de carnaval não passa da Quarta-feira de Cinzas. Mas será que isso é realmente verdade? Será que essa paixão, pautada pela emoção da folia e por uma forte química corporal, tem alguma chance de chegar até a Semana Santa e, quem sabe, transformar-se em um romance de verdade? A resposta é sim. Em meio ao pula-pula dos foliões, entre confetes e serpentinas, alguns sortudos, conseguem encontrar o amor de suas vidas. Basta estar aberto para conhecer pessoas novas e aproveitar bem as oportunidades.
 
Foi o que aconteceu, por exemplo, com a estudante de direito Sabrina Dumont, 23, em sua viagem para Martinho Campos, em 2012. Ainda no primeiro dia de carnaval, ela conheceu o educador físico Juarez Vinícius, 29, e hoje, dois anos depois, eles estão prestes a se casar. “A família dele tem uma casa na cidade e, praticamente todos os anos, ele passava o carnaval lá. Minha mãe é amiga da madrinha dele e, nesse ano, ela me chamou para ir junto. Confesso que não queria ir, porque já tinha programado com minhas amigas um carnaval mais badalado, mas acabei mudando de ideia de última hora. Quando o vi, foi amor à primeira vista. Achei-o lindo, fiquei sem palavras”, recorda Sabrina.
 
Com Juarez não foi muito diferente. “Ela estava maravilhosa. Eu me apaixonei pelos cabelos dela e fiquei até com medo de me aproximar. Mas ainda bem que decidi arriscar, pois deu tudo certo. Depois que ficamos não quis mais sair de perto dela para nada”, confidencia o jovem.
 
O casal conta que, no ano seguinte em que se conheceram, eles passaram novamente o carnaval em Martinho Campos, aproveitando também para foliar nas cidades vizinhas. Eles acreditam que, por mais difícil que seja encontrar um amor de verdade na balada, isso não é impossível. “A vida pode nos surpreender. Quando é para ser, não tem jeito, é na folia, na calourada da faculdade, na micareta, em qualquer lugar. O destino acaba fazendo com que um cruze o caminho do outro e, quando nos damos conta, já estamos organizando os preparativos para o casamento”, brincam os noivos.
 
Para os noivos Sabrina Dumont, 23, e Juarez Vinícius, 29, o amor verdadeiro pode acontecer em qualquer ocasião./Foto: Deivisson Fernandes
 
Receio cultural
A psicóloga e especialista em terapia cognitiva comportamental e sexual Graziella de Lima explica que essa desconfiança em iniciar um relacionamento sério no carnaval é cultural. Segundo ela, as pessoas já entendem que essa é uma festa em que o indivíduo é livre para fazer coisas que, em outro período do ano, seriam desaprovadas, por exemplo, sair no mesmo dia com várias pessoas, beijar muito, e até chegar a praticar sexo. “O significado da palavra em si já diz o motivo da festa. Carnaval vem do latim ‘carnis valles’, que significa ‘a festa da carne’. Criado no século XI, o evento era, e ainda é, marcado por grandes festas, onde se comia, bebia e se participava de alegres celebrações na busca incessante por prazer”, contextualiza a psicóloga.
 
De acordo com Graziella, a forma como o jovem se organiza para curtir o carnaval é o que determina parte de como ele agirá nesses relacionamentos temporários. “A intenção de não se envolver, normalmente, é o que prevalece, mas pode haver uma mudança de ideia se os jovens, sem esperar, acabarem se envolvendo e se encontrando mais de duas vezes durante os dias que antecedem a Quarta-feira de Cinzas. E é certo que, se ambos se permitirem viver esse sentimento, existirá uma grande chance de ele se tornar um relacionamento sério”, afirma a especialista.
 
Foi o que aconteceu com o produtor cultural, João Paulo Martins Batista Silva, 32, outro exemplo de que o namoro de Carnaval pode, de fato, tornar-se algo mais sério. Ele conheceu a atriz e arte-educadora, Bárbara Silva Oliveira Martins, 27, no Carnaval de Milho Verde, na região do Alto do Jequitinhonha, quando realizava excursões para a cidade, em 2009. Bárbara ligou para ele consultando passagens para a excursão sem ao menos imaginar que, cinco anos mais tarde, eles seriam marido e mulher.
 
“O João fazia excursões com a galera da PUC. Meu irmão e eu já tínhamos ouvido falar de Milho Verde e estávamos com vontade de passar o Carnaval lá. Foi quando pesquisei na internet sobre a cidade e acabei encontrando o perfil do João. Liguei para ele e combinei de viajarmos com o grupo dele. Durante o trajeto, não conversamos muito, já que o ônibus estava cheio e a galera fazendo muita farra. O pessoal havia alugado duas casas no centro da cidade e eu e meu irmão íamos acampar, mas, por obra do destino, tivemos um problema e o João nos ofereceu o quintal da casa. Na terça-feira de Carnaval, um amigo nos chamou para irmos para a cachoeira do Lajeado. Lá, passamos o dia todo juntos e combinamos de encontrar à noite no barzinho, onde aconteceu nosso primeiro beijo, depois de muita dança. Foi mágico. Só quem conhece o céu de Milho Verde sabe do que estou falando”, afirma Bárbara.
 
João Paulo Silva, 32, conheceu a atriz e arte-educadora Bárbara Silva, 27, no carnaval de Milho Verde e, hoje, eles estão casados. / Foto: Arquivo Pessoal
 
O produtor cultural também lembra com saudosismo esse momento especial. “Quando a vi naquela cachoeira, o dia ficou até mais claro Descobri que era aquilo que eu queria, tanto que, ao voltarmos para Belo Horizonte, eu já a chamava de minha namorada, mesmo que ela não concordasse com isso ainda”, recorda Silva.
 
Agora, o casal que se casou em julho de 2013 considera o Carnaval uma data mais que especial. “Não gostamos de confusão, preferimos acampar, curtir a natureza. Também aproveitamos o Carnaval de bloquinhos de ruas, marchinhas e fantasias. É nesses momentos que comemoramos o nosso primeiro encontro” explica a atriz.
 
Outro relacionamento, iniciado nesse período, é o da economista Joana*, 31, com o diretor escolar Carlos*, 33. Eles se conheceram no camarote do Nana, no carnaval de Salvador, em 2012, e, segundo eles, o encontro foi amor à primeira vista. “No primeiro momento em que vi o Carlos, já me encantei com a sua forma de conversar com os amigos e com o seu jeito de sorrir. Lembro que eu olhava para ele e ficava imaginando que ele seria um bom pai e um bom marido. Isso tudo sem sequer ele ter me visto. No fim daquela noite, por sorte, estávamos no mesmo lugar. Foi então que ele me viu e, com a ajuda da irmã, percebeu que eu estava olhando para ele”, lembra a economista.
 
Carlos diz que, inicialmente, só pensava em se divertir com a irmã e com os amigos, mas os planos mudaram quando ele conheceu Joana. “Em um determinado momento da noite, minha irmã chamou minha atenção para uma moça que estava me olhando. Virei para o lado e vi Joana. Naquele instante, senti um frio na barriga, mas resolvi me aproximar dela e me apresentar. Quando fiz isso, havia um trio elétrico passando em frente ao camarote e o barulho estava ensurdecedor. Mesmo assim, tentei iniciar uma conversa. Joana pediu que eu esperasse o trio passar. Recordo que aqueles cinco minutos foram os mais longos da minha vida. Passado o trio, começamos a bater papo”, conta o diretor escolar, ao ressaltar que seu encontro com Joana foi amor à primeira vista.
 
“Já eram 5 horas da manhã quando iniciamos esse jogo de conquista que, por sinal, foi delicioso, cheio de risadas, conversas, troca de carinhos e beijinhos com gosto de quero mais. Em nossos corações, começamos a namorar naquele momento, inclusive, comemoramos nosso primeiro encontro como se fosse a data do início do nosso namoro. Como, na época, o Carlos morava em Salvador, na Quarta-feira de Cinzas ele já estava de passagens compradas para Belo Horizonte para concretizar o que iniciou no meio da maior festa do Brasil”, relembra a economista.

*nomes alterados para preservar a identidade dos entrevistados.




AVISO: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião de Revista Mais. É vedada a inserção de comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros. Revista Mais poderá retirar, sem prévia notificação, comentários postados que não respeitem os critérios impostos neste aviso ou que estejam fora do tema da matéria comentada.