Namoradinho da nova MPB

Talento

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Criado em 10 de Agosto de 2015 Talento
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Vindo de uma família de músicos e um dos mais consagrados intérpretes de mineiros, Juninho Braga mostra toda a brasilidade da música popular no primeiro trabalho solo de sua carreira, o CD “Registros”
 
Lisley Alvarenga
 
FOI DURANTE ENCONTROS despretensiosos na casa de amigos, nos botecos da esquina e nas animadas festas de família que um dos maiores talentos de Betim quando o assunto é música popular tipicamente brasileira nasceu. Dono de uma voz suave e aveludada, Tarcísio Eustáquio Braga Júnior, 36 anos, o Juninho Braga, como é conhecido, está para a nova MPB como Nara Leão para a bossa-nova ou Gal Costa para o tropicalismo. Contudo, antes de conquistar a chancela de ser uma das mais promissoras vozes de produção musical autoral do Brasil, esse talentoso músico teve que percorrer um longo percurso. “Somente de uns três anos para cá decidi mergulhar na arte de cantar e torná-la o meu ofício atual”, relata.
 
Desde os 13 anos, Juninho cantava em grupos de jovens e em bandas juvenis do município. A primeira vez em que o betinense, formado em publicidade e propaganda, mostrou seus predicados como intérprete foi no período em que participou da banda do Encontro de Adolescentes com Cristo (EAC), da Paróquia Nossa Senhora do Carmo. Na época, ele cantava em missas e eventos religiosos. Em 2002, o cantor foi convidado para fazer parte da banda ZAP, como vocalista, quando se encantou pela MPB. “Com essa formação, nos apresentávamos em bares e festas. Foi um período de grande aprendizado”, afirma. Anos depois, por um ano e meio, ele estudou técnica vocal com a cantora Andréia Amendoeiras, treinadora vocal do grupo Galpão, em Belo Horizonte.
 
Em seguida, surgiu o convite para o betinense integrar o Clube do Choro de Betim, consagrado grupo musical do qual ele faz parte até hoje. Nesse meio-tempo, Juninho integrou-se ao grupo Calofé, da capital mineira. Sua sintonia com a música popular ficou ainda mais estreita quando ele ingressou também para o Flor de Abacate, grupo mineiro de choro que se destaca pela interpretação e pelos arranjos de composições próprias e de autores como Pixinguinha, Hermeto Pascoal, Anacleto de Medeiros, Radamés Gnattali, Astor Piazzolla, Villa-Lobos, Tom Jobim, Edu Lobo e Ernesto Nazareth.
Fã de Gilberto Gil, Caetano Veloso, Chico Buarque, Tom Jobim, Elis Regina, Maria Bethânia, Gal Costa, Clara Nunes, Ney Matogrosso e Milton Nascimento, Juninho conta que foi ouvindo esses ícones da música popular brasileira que se inspirou para formar-se como cantor. “Eles são artistas completos, que traduzem a musicalidade brasileira; uns na arte de compor, outros na de interpretar”, explica.
 
Vindo de uma família de músicos – Juninho é neto do maestro musical Divino Braga e irmão de Dudu e Ramon Braga, músicos profissionais e seus parceiros de trabalho –, o betinense diz que sempre flertou com a música, desde criança. “Meus pais, Tarcísio e Penha, sempre ouviam música em casa. Aliás, tanto a família Braga, do meu pai, quanto a, da minha mãe, são muito musicais. Onde se reunia a família, lá estava a música animando todos. Hoje, somos três músicos em casa, eu e mais dois irmãos. Tocar com eles é quase que sagrado para mim. Tudo flui naturalmente. Coisas de Deus”, brinca. Foi essa familiaridade que fez com que esse talentoso intérprete se apaixonasse de vez pela música. “Considero-me cantor, módico, mas ainda cantor. Hoje, estou mergulhado no universo do samba e do choro, mas é na música popular brasileira em que eu me afogo de verdade. Minha paixão é a música”, garante.
 
REGISTRO DO TALENTO
Apesar do sucesso e do reconhecimento de mais de 15 anos, Juninho, com o tempo, percebeu que era preciso alçar voos mais altos. Foi então que decidiu que havia passado da hora de ter um registro musical próprio. “Já estou na estrada há muito tempo, ainda que informalmente. Esses anos de experiência me levaram à decisão de me inscrever na Lei de Incentivo à Cultura Noemi Gontijo (de Betim) para gravar um disco. O projeto foi aprovado pela Comissão de Avaliação e Seleção (CAS) e financiado pelo Fundo Municipal de Cultura. Por isso, sou eternamente grato à Funarbe (Fundação Artístico-Cultural de Betim) e à Prefeitura de Betim pelo suporte e pela concretização desse sonho”, agradece.
 
O fruto desse trabalho, intitulado “Registros” e finalizado no início deste ano, está sendo lançado neste mês, em um show realizado no auditório do Centro Administrativo João Paulo II. O trabalho solo possui, além de composições de cantores mineiros, inclusive de Betim, regravações em outros idiomas e demonstra bem a versatilidade do cantor. “Esse é um trabalho que tem como diferencial a verdade. Todas as faixas são canções que me tocaram desde quando as ouvi pela primeira vez e que despertaram em mim a vontade de cantá-las. O disco tem uma sonoridade intimista e reflete muito meu perfil musical, além de demonstrar minha versatilidade no que se refere aos diversos estilos musicais presentes no disco”, afirma o cantor ao ressaltar que aprecia todos os estilos de música. “Acredito que cada estilo musical tem seu momento e local adequados. Mas, é claro, tenho minhas predileções, dentre elas a MPB, a sonoridade do Clube da Esquina e a singeleza das canções regionais”, salienta.
 
AVESSO À MASSIFICAÇÃO
Profundo defensor da música de qualidade, sobretudo das que são produzidas nas terras mineiras, Juninho acredita que, apesar de o Estado continuar sendo destaque no cenário musical brasileiro, os artistas daqui enfrentam muitos desafios. “O mineiro tem na música uma forma de romper barreiras, alçar voos e quebrar paradigmas, mas ainda é preciso sobreviver à hegemonia do sertanejo e do funk. A música popular brasileira atual, tocada em rádios e TVs, apoiada e escutada por uma grande massa, é pobre. O povo anda carente de música boa. Hoje, basta a música ter uma batida contagiante e um arranjo mais elaborado que ela pode se tornar um hit. Muitas dessas canções têm letras superficiais e quase infantis. Para mim, perderam-se a poesia e a sensibilidade. Mas, de qualquer forma, sempre digo que, se a música é boa de verdade, ela se garante”, pondera.
 
Ainda de acordo com ele, muitos artistas da música popular no país são desvalorizados, principalmente pelo fato de não se encarar a música como profissão. “A maioria entende a música apenas como diversão, um hobby. Penso de maneira oposta. A música exige disciplina, organização e, acima de tudo, treino, muito treino”.
 
PROJETO FUTURO
Mal acabou de tirar do forno seu primeiro disco solo, Juninho diz que já pensa nos projetos futuros. “Vou me inscrever na lei de incentivo para gravar um disco com meus dois irmãos, Dudu e Ramon Braga. Gostaria muito de registrar, na própria música, essa irmandade que temos na vida”, finaliza o cantor.

 




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