Os motoristas da rodada

CONSCIÊNCIA NO TRÂNSITO

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Criado em 14 de Maio de 2014 Atualidade

Se vai beber, o microempresário Diogo César (à direita) opta por curtir com os amigos em casa e, quando vai dirigir, nunca consome qualquer tipo de álcool - Fotos: Muller Miranda

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É possível unir diversão e alegria sem envolver bebida alcoólica? Alguns jovens motoristas são exemplos de que sim; responsáveis e conscientes, eles preferem sair tranquilos de baladas e barzinhos, sem correrem o risco de causar algum acidente ou serem pegos nas blitze da Lei Seca
 
Renata Nunes
COMBINAR A BALADA COM UM GRUPO DE AMIGOS, decidir qual o melhor destino da noite, caprichar na roupa e no visual, sair de carro e relaxar bebendo cerveja ou vodca. Tudo pronto para a noitada, exceto a péssima ideia de associar direção com bebida alcoólica. Por isso, para ir a festas e barzinhos com segurança, a assistente administrativa Herica Nogueira, 26, prefere abrir mão de consumir qualquer tipo de bebida alcoólica. “O certo é dirigir para nós e para os outros motoristas. Se eu beber e dirigir, posso colocar em risco a vida de quem está de carona comigo. Como vou assumir algum tipo de responsabilidade alcoolizada? Impossível.” Outro fator que impulsiona o cuidado de Herica é o medo de ser multada. “Além do perigo de acontecer um acidente, se eu for pega alcoolizada, o valor da multa que tenho de pagar é altíssimo.Sem contar a possibilidade de ser presa, responder a um processo e ter a carteira de motorista suspensa”, pondera.
 
Geralmente, ela sai com quatro ou cinco amigas para curtir as baladas. E é justamente pensando no bem-estar delas que Herica não toma nenhuma gota de álcool. “Não basta pensar só em si mesmo, mas, sim, nas pessoas que estão no veículo. Por um descuido ou por falta de reflexo, você pode tirar a vida de um amigo que não tem culpa por você estar dirigindo alcoolizado.” Ela confessa que sente vontade de beber, nem que seja apenas um copo, mas prefere resistir. “Bate, sim, aquela vontade, mas, nada desesperador a ponto de arriscar minha própria vida depois de uma noite de divertimento.” Quando, às vezes, Herica se dá ao luxo de ser a carona da rodada, ela se permite beber sem se preocupar.
 
Receber elogios por ter a consciência e a responsabilidade de não beber e dirigir é comum para ela. “Já me perguntaram como eu consigo ficar sem beber. Algumas pessoas me parabenizam, falam que já tentaram e não conseguiram. Sempre respondo que acho normal, que até prefiro ficar somente no suco ou no refrigerante”, revela.
 
Para ir a baladas com as amigas, Herica Nogueira (de laranja) assume o papel de motorista da rodada e prefere abrir mão de consumir qualquer tipo de bebida alcoólica.
 
BALADAS SEM ÁLCOOL
Ao contrário de Herica, a coordenadora de marketing Deborah Miranda, 27, recebe inúmeras críticas por não consumir álcool quando vai dirigir. “Alguns conhecidos acham desnecessário e me oferecem bebida insistentemente. Acho que, se eu aceitasse, teria mais histórias para contar, mas nem sempre elas seriam mais divertidas e felizes, pois direção não combina com álcool”, diz.
 
Antes de ter o próprio carro, a bebida alcoólica completava a “alegria” da betinense nos fins de semana. Depois que começou a dirigir para todos os cantos, com foco em garantir a segurança dela e de terceiros, ela decidiu não beber quando assume a direção do veículo e sai com os amigos. “Sempre vou a baladas e bares em Belo Horizonte. Prefiro não beber. Fico com receio de perder o reflexo, ficar sonolenta, ou que algo mais grave aconteça. Em Betim, antigamente, eu até arriscava e tomava um copinho de cerveja, mas, com o aumento das blitze na cidade, preferi parar de consumir álcool quando dirijo”, revela.
 
Os conselhos dos pais também contribuíram, em muito, para que Deborah adquirisse essa consciência sobre suas responsabilidades enquanto motorista. “Na minha casa sempre ficou implícito que, quando eu ganhasse o carro, deveria ter responsabilidade.” E o cuidado vai além. Deborah também recusa carona de pessoas que bebem. “Se sei que as companhias vão beber, prefiro ir no meu carro a voltar de carona”, afirma.
 
Deixar de beber não é um sacrifício para ela. “Tomo energético para ficar ligada e aproveito tanto quanto se estivesse consumindo álcool. As pessoas precisam entender que é possível se divertir sem beber. Álcool não é sinônimo de felicidade. Não sou contra a bebida, quando tenho oportunidade de beber sem ter de me preocupar, bebo”, salienta.
 
O PREÇO DA IMPRUDÊNCIA
 
Há seis anos, a Lei Federal 12.760/2012, conhecida como Lei Seca, foi promulgada no Brasil com o objetivo de reduzir os acidentes provocados por motoristas embriagados. Contudo, é notório que nem todos os condutores respeitam a legislação e assumem a direção do veículo quando estão alcoolizados. Os resultados estão nos números de acidentes registrados pela Polícia Rodoviária Federal (PRF). Em 2013, foram 733 acidentes envolvendo pessoas alcoolizadas na direção, 696 feridos e 49 pessoas mortas nas rodovias federais que estão sob jurisdição da PRF.
 
A coordenadora de marketing Deborah Miranda (de branco, à esquerda) diz que recebe inúmeras críticas por ter a responsabilidade de deixar de beber quando vai dirigir
 
O MOTORISTA PREFERIDO
Sair e beber não é uma preocupação para o microempresário Diogo César, 32, que é tão prudente que prefere, na maioria das vezes, se divertir em casa, em festas com os amigos. “Gosto muito de reunir a galera em casa. Normalmente, preparamos churrascos ou tira-gostos. Assim, todo mundo pode beber e se divertir. Quando nos reunimos em minha casa, eles já ficam por lá mesmo e só vão embora no outro dia, exatamente para não correrem o risco de assumir a direção do carro alcoolizados”, explica
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A responsabilidade de Diogo é conhecida pelos familiares. “Quando saio com o meu padrinho, por exemplo, ele me pede para ficar com a chave do carro e dirigir, assim, ele pode beber à vontade.” As saídas com os amigos também têm Diogo como o motorista da vez. “Principalmente, por ser difícil achar alguém que esteja disposto a não beber. Não me importo em ser sempre o motorista da rodada”, afirma.
 
Ele revela que, às vezes, é julgado de forma negativa por fazer essa escolha. “Já recebi várias críticas, mas não me importo, porque sei que estou agindo certo e respeitando as leis de trânsito.” Em contrapartida, alguns amigos o incentivam. “Também recebo vários elogios. Falam que sou um exemplo a ser seguido”, orgulha-se.
 
E não é somente a admiração e o apoio dos conhecidos que o fazem ser consciente. Diogo já perdeu um amigo que dirigia alcoolizado. “Fiquei traumatizado. Ele perdeu o controle do carro e capotou na BR-381. Era uma pessoa muito próxima e muito querida por todos”, lembra.
 
AJUDA DIGITAL
Para tornar a escolha do motorista da rodada mais prática, divertida e democrática, o Ministério das Cidades disponibiliza um aplicativo que sorteia e comunica a um grupo de amigos quem vai dirigir. É o aplicativo “Motorista da Parada”, que pode ser baixado de forma gratuita. Ele ajuda a escolher quem será o motorista na próxima saída e permite realizar o sorteio com até quatro contatos. Após o sorteio, uma mensagem de texto pode ser enviada gratuitamente avisando que o amigo sorteado foi escolhido para ficar sóbrio naquele dia e levar os demais em segurança. O aplicativo também permite que você seja o motorista do momento e envie um SMS gratuito informando aos amigos que não beberá para levá-los para casa.



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