Poesia é vida

Escritores da melhor idade se inspiram na beleza da literatura para externar os mais nobres sentimentos e, assim, se mantêm ativos e atualizados

Criado em 19 de Dezembro de 2019 Destaque
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Sara Lira

Há quem pense que a aposentadoria é o fim de uma jornada e, dali em diante, fica mais difícil realizar novas experiências. Negativo. Para alguns, essa foi a fase de se descobrir nas palavras, por meio da escrita e da leitura. É o caso do promotor de Justiça aposentado Raimundo de Freitas Campos, de 90 anos. Apaixonado pela língua portuguesa desde criança, na terceira idade começou a publicar livros com recortes de jornais sobre o assunto. Mas não são recortes aleatórios: ele compila, há mais de 50 anos, colunas de diferentes veículos de imprensa, como os jornais “Estado de Minas” e “Super Notícia”, abordando dicas de gramática. Seu Raimundo os recorta cuidadosamente e os fixa em folhas de papel. Depois, os filhos se encarregam de enviar o material para uma gráfica a fim de imprimirem a publicação “Língua Portuguesa em Recortes”. Ele já organizou dez edições, e a 11ª está em conclusão, para ser publicada em 2020.

De acordo com uma das filhas de Raimundo, Goretti Campos, de 59 anos, ele começou a transformar os recortes em livros para ajudar os netos nos estudos. Além disso, distribuía os exemplares gratuitamente em escolas e para professores. Segundo ela, no arquivo do pai, há recortes que datam da década de 60. “Nós fomos criados em volta de livros, revistas e jornais. Nossa mesa de jantar sempre foi mesa de estudo”, conta. “Sinto-me satisfeito em ajudar, me realizo nisto”, completa o idoso.

Com a voz serena e uma sabedoria típica de quem tem somado conhecimento pelos últimos 90 anos, Seu Raimundo conta que todos os dias toma café e, logo em seguida, vai se informar lendo jornais e revistas, entre elas a Mais. “Gosto de ler e de me informar. Além de ser leitor assíduo, vou à academia e durmo bem. Não tenho problema de saúde nenhum”, destaca.

EM ATIVIDADE

A aposentada Edinéia Alves, de 64 anos, também entrou no ramo da escrita depois da aposentadoria. Com uma carreira vivida na comunicação social, especialmente na área de relações públicas, ela teve muito contato com a leitura, e, por hobby, Edinéia já escrevia alguns poemas antes de se aposentar. “Mas comecei a produzir mais textos depois, porque, quando você se aposenta, tem mais tempo livre. E, como eu não sou de ficar quieta, resolvi escrever”, lembra.

Depois de aposentada, ela voltou para a faculdade, formou-se em jornalismo e já lançou dois livros. Na época dos estudos, ela se dividia entre eles, o trabalho em uma emissora de TV e a produção dos textos para as publicações. “Envelhecer é uma coisa natural, mas se atualizar é imprescindível”, afirma.

O primeiro livro que Edneia lançou foi em 2005 e se chama “Dos Olhos ao Coração”. Ele traz crônicas sobre assuntos diversos. “Tudo me motiva a escrever. Basta olhar ao redor, o que acontece na vida. Tudo é motivo de inspiração”, conta. Na época, a publicação rendeu a ela um prêmio da Academia Betinense de Letras e da Fundação Artístico-Cultural de Betim (Funarbe).

O segundo livro de Ednéia é “Beijo de Lua”, de 2008, uma coletânea de poesias escritas ao longo da vida e após a aposentadoria. E ela não para. Atualmente, escreve novas crônicas para lançar no terceiro livro, possivelmente em 2020. “A dica que eu daria para outros idosos que querem escrever é: leiam muito, tenham gosto pela leitura”, salienta ela, que também faz parte do grupo de leitura da Biblioteca Pública Leonor de Aguiar Batista.

POESIAS QUE ALIVIAM

Já a aposentada Geralda Santana Reis, de 80 anos, não tem livros lançados, mas escreve poesias que vêm com mensagens do fundo da alma. A motivação começou anos atrás, para aliviar a dor pela perda da mãe, há alguns anos. Porém, os poemas criaram ainda mais forma após a perda do filho de 54 anos, em setembro do ano passado. “Quando bate a tristeza, eu faço poesia, para esquecer um pouco e alegrar o coração”, desabafa. As palavras funcionam, e Dona Geralda se sente melhor depois de escrever um dos textos em homenagem ao filho.

Os poemas não são tristes. Com palavras que trazem leveza, as frases são como um refresco para a alma. E quem escuta Dona Geralda recitando percebe sentimento e inspiração em cada letra. “Escrever também é uma forma de agradecer pelo tempo que convivi com ele e de extravasar a saudade”, frisa.




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