Rápida e rasteira

Atleta mineira completa prova de 160 km a pé em menos de 24 horas, desbancando os homens e conquistando o primeiro lugar geral em uma competição de resistência

Criado em 11 de Outubro de 2019 Extremos
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Iêva Tatiana

O objetivo dela era completar a prova, sem se importar com a classificação. Aliás, ela nem tinha a intenção de participar, por achar que não estava preparada. E foi assim, despretensiosamente, que Maria Aparecida Cunha, a Cida, de 43 anos, venceu a ultramaratona Caminhos de Rosa, no início de setembro. Se a conquista da primeira colocação já soa bem, espere até saber o baita desafio que a atleta enfrentou: foram 160 km percorridos a pé em 23 horas e 14 minutos.

A competição aconteceu em Cordisburgo, na região Centro-Oeste de Minas Gerais, do dia 4 ao dia 7. O resultado de Cida garantiu-lhe a melhor colocação geral: ela cruzou a linha de chegada 25 minutos antes do vencedor da categoria masculina e pouco mais de quatro horas à frente da segunda colocada da categoria feminina.

Farmacêutica e mãe de quatro filhos – de 22, 18, 11 e 3 anos –, a campeã da Caminhos de Rosa lembra que, depois de ter corrido 135 km da Ultramaratona dos Anjos Internacional, em Itanhandu, no Sul do Estado, em junho deste ano – nessa competição, também chegou em primeiro lugar –, ela não tinha planos de enfrentar outra prova de tamanha resistência, mas descobriu que o marido já havia feito a inscrição dos dois.

“Eu me preparei e me surpreendi muito. Foi uma prova gostosa, mas difícil, porque não existe nenhuma que seja fácil. A gente se dedica, treina bastante, e o resultado depende justamente do preparo, da alimentação e dos treinos”, avalia Cida.

Maria Aparecida Cunha, a Cida, de 43 anos, venceu a ultramaratona Caminhos de Rosa, no início de setembro, após ter corrido por 23 horas e 14 minutos

A largada

A história dela com as corridas teve início há 13 anos, em Itaguara, também no Centro-Oeste mineiro, onde ela morava – hoje, vive em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. Na época, Cida começou a malhar com o intuito de ganhar massa, já que era “magricelinha”, como ela mesma se definia, e tomou gosto pela esteira. Percebendo o bom desempenho de Cida, os colegas passaram a incentivá-la a participar de uma corrida de 4 km que era realizada no município.

“O vencedor ganhava uma lata de cerveja e uma camisa. Era uma brincadeira na cidade. O pessoal da academia me inscreveu, e eu fiquei sem graça de não ir. Fui toda desengonçada, porque nunca tinha corrido na rua. Terminei em primeiro lugar, passei direto pela linha de chegada e fui embora para casa”, diverte-se a atleta ao lembrar-se da falta de jeito no início da carreira.

Uma semana depois, um senhor bateu à porta da casa dela, identificou-se como o organizador do evento e entregou a medalha que ela deixou para trás. “Aquilo, para mim, foi como ganhar a São Silvestre”, conta Cida.

A partir de então, ela começou a voar baixo e a colecionar títulos em provas de 5 km e de 10 km, principalmente. Mas, depois das duas últimas gestações – e ela corria grávida também –, Cida percebeu que estava começando a perder velocidade e passou a se interessar mais pelas corridas longas e pelas trilhas, nas quais a resistência é mais importante do que a pressa.

“A gente vai se superando e se desafiando. Às vezes, as pessoas brincam dizendo que sou campeã, mas ninguém é antes de terminar a prova. Todo mundo tem a mesma possibilidade, porque a corrida é uma coisa muito democrática: 50% dela é da parte física, e os outros 50%, do nosso psicológico. Não adianta ter um e não ter o outro”, destaca a farmacêutica.

Um passo por vez

Focada no presente, Cida prefere não fazer planos em longo prazo, mas afirma que, se tudo der certo, pretende continuar correndo “até ficar bem velhinha”, mesmo que não seja mais a dona dos títulos.

“Temos que tirar muito mais o chapéu para os últimos colocados, porque os primeiros terminam as provas rapidamente. Quem fica para trás vive muito mais aquele ‘sofrimento’. Na Caminhos de Rosa, por exemplo, teve gente que fez o percurso em 32 horas. Essas pessoas foram ainda mais guerreiras, porque eu não conseguiria”, diz a modesta corredora.




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