Talento da sétima arte

Elisabete Martins

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Criado em 14 de Novembro de 2014 Talento
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Betinense de coração, Elizabete Martins ganhou reconhecimento nacional com “My Name Is Now, Elza Soares”, longa-metragem que conta a história da cantora, atriz e compositora Elza Soares

Viviane Rocha

Nascida em Conselheiro Pena, Elizabe­te Martins Campos é uma nômade da arte que tem raízes fincadas em Betim. “Moro na cidade desde os 4 anos, por isso, con­sidero que aqui é a minha casa”, afirma. Com 14 anos de carreira, ela ganhou mui­ta visibilidade recentemente em todo o país por conta de seu primeiro longa-me­tragem, o filme “My Name Is Now, Elza So­ares”, sobre a cantora, atriz e compositora Elza Soares, que foi exibido pela primei­ra vez em setembro passado na mostra competitiva do Festival de Cinema do Rio de Janeiro. Formada em jornalismo pelo Uni-BH, a cineasta, que sempre foi uma entusiasta da cultura nas mais diversas frentes, não se contentou apenas com a superficialidade das notícias, realizou um mergulho profundo nas águas da sétima arte e colocou Betim no mapa da produ­ção cinematográfica nacional.

A cineasta conta que seus laços com a sétima arte foram estabelecidos, inicial­mente, ao assistir aos famosos enlatados (seriados) norte-americanos, seja na TV seja no cinema. Com mais maturidade e um desejo latente de saber mais sobre cinema, Elizabete ingressou na faculdade de jornalismo e começou a cursar maté­rias isoladas sobre o tema. “Na escola de jornalismo, comecei a conhecer os filmes de arte”, conta. Certa de que esse era o seu objeto de devoção e sua grande mis­são artística, a cineasta não mediu esfor­ços e aprimorou os seus conhecimentos na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG). Sua afinidade com a cultura bra­sileira em toda a sua diversidade contri­buiu para que ela trabalhasse nos bastido­res da produção cultural mineira.

Como jornalista, foi repórter do pro­grama “Agenda”, da Rede Minas. Também foi funcionária do Centro de Referência Áudio Visual de Belo Horizonte, o Crav. “Foi um período de muito aprendizado, no qual eu tive o prazer de conviver com grandes profissionais”, relembra. Além disso, Elizabete é uma das maiores en­tusiastas da produção audiocultural de Betim, já que foi correalizadora da Mostra Udigrudi Mundial de Animação no muni­cípio. “Foi um período maravilhoso, por­que nós realizamos um desejo antigo de fazer projeção de filmes em Betim. Além disso, incentivamos a criatividade de pessoas que, provavelmente, não teriam chance de descobrir um talento para arte e mostrá-lo a outras pessoas”, aponta.

Para Elizabete, o cinema é um instru­mento de transformação e emoção. Por isso, ela imprime em suas produções um caráter plural, cru e impactante. Influên­cia direta de alguns dos seus mestres ci­nematográficos, como Nelson Pereira dos Santos, Kléber Mendonça Filho, Glauber Rocha, Éder Santos, Laís Bodanski e o norte-americano David Lynch. “Sou gran­de admiradora do cinema nacional, prin­cipalmente, do político”, revela. Entre suas obras preferidas estão “Vidas Secas” e “Rio 40 Graus”, ambos dirigidos por Nel­son Pereira dos Santos, e “Soy Cuba”, de Mikhail Kalatozov.

Antes de “My Name Is Now, Elza Soa­res”, a cineasta dirigiu outras obras. Sua estreia aconteceu em “Feira Hippie”, que foi exibido pela TV Brasil. Outra obra de grande notoriedade foi o curta-metragem “Que Coso”. O filme sobre Elza foi uma empreitada iniciada após Elizabete, ainda como repórter do programa “Agenda”, ter sido escalada para entrevistar a cantora. “Depois eu assisti a um show dela no Palá­cio das Artes e fiquei impactada pela força artística e humana de Elza”, afirma. “Eu já estava amadurecendo a ideia de fazer um longa e Elza surgiu para que eu a colo­casse em prática.” A obra não é uma pas­sagem linear sobre a vida dela, que já foi tema de outro documentário, lançado em 2010. “Ela tem quase 60 anos de carreira, é uma artista consagrada e eu não queria retratá-la como ‘a carne mais barata’ no plástico”, diz, em referência aos versos da canção “A carne”, composta por Seu Jor­ge, Marcelo Yuca e Wilson Capellette, que ganhou uma interpretação marcante da artista. “O filme é um primeiro plano de rosto de Elza, mesclado com muitas ima­gens da natureza, porque ela é uma força da natureza”, explica a cineasta.

No longa, a cantora narra as suas ex­periências sem pudor, com muita emoção e uma dose cavalar de frases de impacto. Uma obra do cinema experimental que contempla a criatividade e a pluralidade de uma artista que sempre mergulhou de cabeça na vida, no amor e na arte. Eliza­bete ressalta ainda que Elza Soares é uma “multidão de minorias”. “Ela é uma figura do povo e tornou-se um ícone da cultura brasileira”, explica. “My Name Is Now, Elza Soares” também é marcado por grandes performances da cantora, que também foi a diretora musical do filme.

Foram cinco anos de muito trabalho realizado com parceiros como o banco BMG, o Studio Cerri e a Agência Articula­ção Comunicação e Marketing. “A realiza­ção desse filme não é uma vitória apenas para a equipe que trabalhou, mas para a cidade de Betim, porque muitos parceiros e companheiros que estiveram comigo durante a produção e a filmagem são be­tinenses”, ressalta. Depois do Festival do Rio, o filme será exibido em outros festi­vais pelo país e a cineasta está em busca de parceiros que queiram contribuir para a distribuição do filme. Elizabete também pretende realizar uma exibição da obra em Betim, com a presença e um show de Elza Soares.

FILHA DE BETIM

Elizabete é propiretária da It Canal, produtora de vídeo com sede na região do bairro Imbiruçu, em Betim. “Faço ques­tão de que a sede seja na cidade, mesmo que, por conta do filme, precisa ter um ‘QG’ no Rio de Janeiro e em São Paulo”, explica. Apesar de vir pouco à cidade por causa dos compromissos profissionais, Elizabete faz questão de manter a sua casa no bairro Santa Cruz. No campo ar­tístico, a cineasta destaca a efervescência do movimento hip hop local e a vontade de realizar mais atividades da produção audiovisual no município. “Tenho vonta­de de fomentar a produção audiovisual em Betim, porque a cidade tem grandes talentos”, revela. Nas suas recordações, estão sempre presentes os amigos e as ruas da cidade. “Tenho lembranças muito especiais da região do Horto, onde joguei muito vôlei. Sinto muita falta de andar por Betim”, conta.

OBRAS DA CINEASTA

  • My Name Is Now, Elza Soares
  • Feira Hippie
  • Que Coso (http://itcanal.com.br/mynameisnow/)



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