Terror e êxtase

Cultura: Por Domingos de Souza Nogueira Neto*

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Criado em 13 de Março de 2015 Cultura

Foto: Reprodução/Internet

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O MEDO, ALÉM DE CURIOSO, É IMPORTANTE. É ele que nos dá a medida de nossas necessidades de sobrevivência, mas, também, nos dá prazer. Todos nós curtimos algum medo, seja ao assistirmos a um filme assustador, seja ao praticarmos um esporte radical, ao sentirmos adrenalina em brinquedos no parque de diversões, ou mesmo vivendo amores bandidos com pessoas que têm comportamentos bem diferentes do comum no convívio social. Na verdade, situações de medo podem ser extremamente prazerosas. Mas, afinal, por que somos assim?
O medo é uma reação involuntária provocada por algum estímulo estressante. O cérebro libera substâncias químicas que causam o disparo do coração, a respiração rápida, a contração do músculo, dentre outros sintomas. Tudo isso também é conhecido como reação de luta ou fuga. Há muito tempo, os psicólogos tentam entender por que os seres humanos, que evoluíram para buscar a felicidade e o conforto, gostam tanto de situações amedrontadoras.
Existiam duas teorias dos motivos que levavam algumas pessoas a serem tão atraídas por estímulos assustadores: uma delas é que esses indivíduos simplesmente não possuem medo nem se incomodam com situações e imagens desagradáveis. A outra é que eles têm medo, porém, antecipam o momento em que tudo vai acabar. E essa sensação de alívio é emocionante, o suficiente para que as pessoas se disponham a curtir as aventuras assustadoras.
Contudo, essas ideias parecem limitantes. Segundo os pesquisadores, no mundo real, todos podem experimentar, ao mesmo tempo, felicidade e tristeza, euforia e ansiedade. A maioria gosta de um pouco de emoção, mesmo que seja negativa. Caso contrário, as coisas seriam bem chatas.
Freud afirma que [...] “o estranho é aquela categoria do assustador que remete ao que é conhecido, de velho, e há muito familiar”. É no texto de Freud “Três Ensaios sobre a Teoria da Sexualidade”, de 1905, que busco a resposta para essa questão, já que, possivelmente, a escolha entre manter uma experiência consciente ou recalcá-la deve estar relacionada ao prazer ou ao desprazer provocado pela mesma.
Se tudo o que fosse assustador e estranho às nossas rotinas humanas servisse apenas como fonte de nosso desprazer, sem dúvida, não assistiríamos a filmes de terror nem levaríamos ao limite nossos nervos em diversas situações de aventura. Então, está claro que somos capazes de ter prazer nessas circunstâncias.
A satisfação que adquirimos com os momentos de pânico deriva, em grande parte, do fato de que sabemos que eles são irreais, mas que se aproximam da realidade através de nossos processos imaginários. Se fossem de perigo real, nós nos afastaríamos delas. Assim, permitimos, em nossa imaginação, que eles ocorram.
Para concluir, deixo uma impressão minha: nunca tive a presunção de cogitar que o homem é o único animal racional porque acho que todos os animais têm alguma forma de racionalidade, mas acredito que em nós, humanos, a relação entre a sensibilidade e a inteligência cria situações peculiares, e uma delas, que considero fundamental, é o humor. Nós aprendemos a rir dos nossos medos, e a capacidade de rir de nossos terrores imaginários nos torna preparados para grandes crises de nossa realidade.
 
* Crítico de arte, professor de judô, estudioso de direito, filosofia, sociologia e psicanálise

 




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