Afonso Pena: um nome, um ideal

Homenagem: Sugestão do leitor

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Criado em 15 de Julho de 2015 Homenagem

Fotos: Augusto Martins

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Com 105 anos de história, escola estadual é escolhida por leitor da Mais para ser homenageada na edição de aniversário dos 3 anos da revista
 
 
Lisley Alvarenga
 
NO ANO DE 1910, Betim, ainda com o nome de Capela Nova de Betim, dava seus primeiros passos para se tornar o município com o enorme potencial econômico de hoje. Mas, já nesse período da história do lugar, mesmo com poucos anos de existência e o clima pacato, a primeira instituição de ensino betinense fincava suas raízes: a Escola Estadual Conselheiro Afonso Pena. Respeitada pelos moradores e motivo de orgulho para muitos funcionários e alunos, ela é a grande homenageada na edição de comemoração do aniversário de 3 anos da Mais, seguindo a sugestão dada pelo estudante de direito Vitor Rezende Soares, de 18 anos. A tradição da escola é tão forte que se mistura à história da própria cidade e, por isso, aqui recebe a homenagem de Vitor e da equipe da Mais.

Criado por meio de um decreto estadual, no dia 11 de janeiro, o então Grupo Escolar de Capela Nova de Betim funcionava em um prédio inacabado, com quatro salas e dois banheiros, localizado entre as atuais avenidas Governador Valadares e Amazonas, onde hoje é o Museu Paulo Araújo Moreira Gontijo. Na época, a implantação da primeira instituição com ensino simultâneo no município enfrentou resistência da comunidade, acostumada com um método de ensino individualizado, em que cada mestre-escola (como era chamado o professor) era responsável por grandes turmas, mas atendia a cada um individualmente, conforme o nível de conhecimento de cada aluno.

Foi somente 15 anos depois que o governo do Estado conferiu ao grupo a denominação Conselheiro Afonso Pena, em homenagem ao primeiro presidente mineiro do Brasil. Em 1960, foi inaugurada a sua sede atual, na rua Rio de Janeiro, no bairro Brasileia.
A construção do espaço, também precário, foi uma parceria entre o município, o Estado e o governo federal da era Juscelino Kubitschek. O terreno foi doado por Raul Saraiva Ribeiro, Osvaldo Augusto de Carvalho e Areclides do Pinto Ângelo, então empreendedores imobiliários na região.

Os anos se passaram, Betim cresceu, e a instituição acompanhou o desenvolvimento da cidade. Hoje, com 105 anos de história, continua sendo considerada uma das mais conceituadas escolas públicas da região metropolitana de Belo Horizonte. O reconhecimento, segundo a atual vice-diretora, Maria Auxiliadora Amaral, pode ser demonstrado pelo alto índice de aprovação de seus alunos nos vestibulares. “A maioria dos nossos alunos é absorvida nas universidades locais e da região metropolitana, o que denota que nosso projeto com relação ao preparo dos estudantes para o nível universitário é funcional”, enfatiza.
 

Com mais de 1.300 alunos do ensino médio, que se dividem entre os turnos da manhã, da tarde e da noite, as paredes e os corredores da tradicional escola guardam a memória da trajetória dessa importante instituição de ensino, que contribuiu e continua contribuindo para o desenvolvimento de milhares de crianças e adolescentes de Betim. É o caso de Vitor Soares, aluno da instituição entre os anos de 2012 e 2014 e que sugeriu a produção desta reportagem.

Sua relação de afeto com o Afonso Pena sempre foi muito forte. Prova disso é que, até hoje, ele aproveita os momentos livres para visitar os amigos na escola, procura ajudar como pode e está escrevendo um livro sobre a instituição. “Até hoje, eu contribuo na administração das mídias sociais da escola, e, sempre que sou solicitado, auxilio a instituição de outras formas”, conta. Durante o período em que foi aluno, seu engajamento não foi diferente. Tanto que ele integrou o grêmio da escola e foi eleito o fotógrafo oficial do Afonso Pena. “Aqui há uma união muito grande. ensinamentos que aprendi vou levar por toda a minha vida”, salienta.

Estudante do terceiro ano, Gabriel Dias Rocha, 17, também atesta a qualidade da metodologia de ensino da instituição. “O Afonso Pena é minha segunda casa. Sempre sonhei estudar aqui, pois ouvia falar muito bem da escola. Agora, quando me formar, terei certeza de que fiz a escolha certa e de que vou levar uma grande bagagem de ensinamento, que vai contribuir para a minha história de vida”, afirma o garoto, que também foi presidente do grêmio estudantil da escola.
 

Quem faz parte do corpo docente também não deixa de tecer elogios à instituição. Funcionária do Afonso Pena há mais de 30 anos, a auxiliar de secretaria Ofélia Teixeira Mattar Couto conta que sua
vida é toda ligada à instituição. “Minha história se resume ao Afonso Pena. Não morava em Betim. Por isso, minhas amizades, tanto com os alunos quanto com os funcionários, foram todas feitas aqui”. O amor pela escola é tamanho que ela não se acanha em dizer que, às vezes, chega a ser “chata”. “Tomo conta de tudo aqui. Não gosto que destruam as plantas ou qualquer patrimônio da escola. Pego no pé mesmo dos alunos porque quero ver o bem de todos e de tudo. Fico extremamente feliz e orgulhosa quando vejo um ex-aluno se realizando profissionalmente, sendo cidadão de bem. Um exemplo de ex-aluno que alcançou o sucesso é o proprietário do Colégio Bernolli, uma das mais conceituadas escolas de Belo Horizonte”, conta ao ressaltar que alguns dos diferenciais do Afonso Pena são o amor dos profissionais pela instituição e a participação das famílias no ensino dos alunos. “Aqui, temos pessoas que se importam
realmente com a educação, que querem ver o desenvolvimento do aluno, mesmo que seja com muita cobrança. Por isso, é importante que os pais continuem sendo presentes como são hoje”, completa.
 
O CENTENÁRIO
Um centenário repleto de sucesso e tradição não poderia passar em branco. Por isso, professores e alunos se uniram para elaborar o “Almanaque Ilustrado Afonso Pena”, livro que revela, através de fotos e textos, toda a trajetória da escola que eternizou amizades, sentimentos e histórias. A publicação, produzida pela equipe da Secretaria Municipal de Comunicação, do período de gestão 2009/2012, com a organização e a coordenação
historiográfica de Ana Cláudia Gomes, foi lançada em setembro de 2010, num evento comemorativo aos 100 anos da instituição.
 
EXEMPLO DE EDUCADORA
Lembrança viva na memória das pessoas que fazem parte dos 105 anos de história do Afonso Pena, dona Amélia Alves, 89, foi diretora da escola entre 1964 e 1984, período em que mais de 40 mil alunos passaram por sua coordenação. “A gente trabalhava com paixão e ajudou muitas famílias a educarem seus filhos. Nossa equipe tinha autonomia e liberdade para trabalhar, diferentemente do que
acontece na maioria das escolas hoje, em que muitos diretores são subordinados a políticos”, critica. Segundo ela, nos 20 anos em que esteve à frente do Afonso Pena, sua equipe desenvolveu vários projetos e realizou diversas melhorias na instituição de ensino, como a construção do laboratório e da quadra esportiva. “O Afonso Pena sempre foi uma referência e continua sendo, principalmente, por buscar trabalhar junto com a comunidade, integrando família, alunos e profissionais. Esse é o segredo da qualidade do ensino”,
salienta. 
 
ALGUNS DESAFIOS
Como nem tudo são flores, o Afonso Pena, assim como as milhares de escolas públicas do país, enfrenta diversos desafios.
A falta de investimento na infraestrutura da escola, a desvalorização da carreira dos profissionais e o déficit no investimento da capacitação do corpo docente são alguns deles. “Outro problema é a infestação de pombos na escola, uma situação que já foi reportada aos nossos superiores e que coloca em risco a saúde de alunos e profissionais”, afirma Ofélia. A reportagem fez contato com o governo
do Estado para falar sobre esses problemas, mas não obteve retorno.

 




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