SOBRE HUMOR, AMOR E OUTROS DILEMAS

Cultura

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Criado em 11 de Setembro de 2015 Cultura
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NASCI E CRESCI OUVINDO PIADAS, assistindo a programas humorísticos na televisão, rindo, com a pureza de criança, de brincadeiras que ouvia em toda parte. Achava que tudo o que vinha do bom humor, e que me fazia rir, tinha que ser bom. De fato - feliz que era -, carregava nos lábios um sorriso permanente, como se tudo acontecesse para o meu divertimento.
 
Tudo foi mudando com o tempo. Primeiramente, percebi que meu sorriso, que alguns achavam bonito, incomodava outros. Depois, percebi que, quando debochavam de mim, da minha lentidão nos esportes, da facilidade com que as lágrimas vinham aos meus olhos, das chacotas sem fim que faziam com meu nome de dia de semana, nada parecia assim tão engraçado.
 
Foi apenas mais tarde que concluí que piadas podiam ser racistas, machistas, xenófobas, homofóbicas e que grupos sociais inteiros podiam ser segregados pelo “bom humor” de pessoas felizes consigo mesmas. Conheci o bullying e descobri que as brincadeiras de alguns podiam transformar histórias de vida em tragédias diárias, em desejos de vingança e em chacinas terríveis.
 
Mas o bom humor não é desejável então? Não é saudável? Há um limite para a livre expressão do pensamento? Acho – como Einstein – que tudo é relativo. Assediar uma criança, mais frágil, e submetê-la a constrangimento através de bullying é uma prática imperdoável, ainda que praticada por outras crianças. Piadas racistas hoje são crime. Brincadeiras machistas – e vice-versa – são de mau gosto e despreparam relações afetivas. Os debates sobre a homofobia têm que ser encarados hoje com renovada seriedade, perdendo os ares de caricatura e deboche.
 
Outro dilema da época é o que procura estabelecer o limite entre a liberdade de opinião, a pluralidade religiosa e o humor. Isso porque brincadeiras feitas com algumas religiões mobilizam grupos e Estados para uma situação de conflitos de natureza bélica, com mortes, atentados, reações midiáticas e igualmente armadas, a demonização de setores que não são assim tão maus e a beatificação de outros que não são assim tão puros.
 
O que me parece é que o respeito é um aprendizado difícil, implicando aceitação das diferenças e compreensão de que ninguém detém uma única verdade. Mas é no amor, quero crer, que está a questão mais importante, porque significa que podemos acolher o sentimento do outro sem pretendermos magoá-lo e que sofremos se o fazemos sofrer.
 
Nestes tempos em que brincadeiras simples são globalizadas tão rapidamente, em que crianças aprendem com novas mídias e escrachos tomam dimensões globais, temos que refletir sobre os limites de nossas manifestações. O respeito e o acolhimento dos sentimentos devem ser o balizamento e o limite mais importante na agenda de nossas ações. E se não tivermos isso? Bem, nesse caso, precisaremos de leis.



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