As vozes de Betim

Música

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Criado em 13 de Fevereiro de 2015 Capa

Fotos: Divulgação/ Hilário José

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Pouco mais de um mês após vencerem a terceira edição do “The Voice Brasil”, Danilo Reis e Rafael ainda colhem os frutos do trabalho; além da disparada no valor do cachê e do aumento considerável do número de fãs, eles se preparam para participar de uma turnê nos Estados Unidos e lançar, até março deste ano, o segundo CD da dupla

Lisley Alvarenga

QUANDO SUBIU NO PALCO DO “The Voice Brasil” pela primeira vez, no dia 25 de setembro de 2014, a dupla Danilo Reis e Rafael deu o maior e mais importante passo de suas vidas. Vencedores da terceira edição do famoso reality show, os meni­nos de Betim deixaram de ser mais um entre os milhares de artistas em todo o país que lutam, na maioria das vezes, anos a fio, para conseguir um pequeno espaço ao sol, para alçar voos bem mais altos. Hoje, pouco mais de um mês após o fim do programa, o cachê da dupla, que girava em torno de R$ 300, é uma página virada; eles seguem uma agenda de shows lotada, que terá, inclusive, uma rápida turnê na terra do tio Sam, e se preparam para lançar, em meados de março deste ano, o se­gundo disco da carreira, sob a batuta de ninguém menos que a gravadora Universal Music Brasil. No repertório, músicas autorais e canções apre­sentadas ao longo do programa, incluindo “Sinô­nimo”, de Zé Ramalho, marco da história deles no reality. “Tudo na nossa vida mudou depois do ‘The Voice Brasil’. Antes, nós tocávamos apenas em barzinhos e casas de shows de Betim, como o Bar do Dirceu, o Dona Rosa, o Café com Arte, o Arrasta-Pé e o Caipirão. Agora, adquirimos outro patamar, nos apresentando em casas de shows e em eventos em todo o país e até no exterior”, conta Rafael, 24.

Ou seja, tudo mudou para bem melhor. A co­meçar pelo prêmio ganho pela dupla no reality, de R$ 500 mil. Danilo, 23, disse que preferia não comentar a forma como havia gastado o dinhei­ro; já Rafael, mais comedido, confessa que tem dúvidas sobre o que fazer com o prêmio. “Estou deixando render os juros no banco. Não sou pão­-duro; é porque penso muito antes de fazer as coisas, antes de tomar qualquer atitude. Mas mi­nha ideia inicial é investir em imóveis, já que não sei o que vai acontecer com a gente daqui pra frente. Da mesma forma que hoje nós estamos no auge, amanhã pode acontecer alguma coisa e mudar tudo isso”, pondera.

Os sentimentos de insegurança e apreensão descritos acima por Rafael são bastante compreen­síveis. No Brasil, é comum ver artistas que explo­diram na mídia, sejam eles consagrados ou inician­tes, caírem no esquecimento do público. Contudo, essa triste realidade, se depender da dedicação e da garra desses garotos, não vai ocorrer com eles. “Se você não está apresentando um trabalho bom, não merece estar no mercado. Tem muita gente boa por aí, e, se você não se dedicar, elas tomam o seu es­paço. Por isso, estamos nos empenhando ao máximo, trabalhando e ensaiando muito para melhorar cada vez mais. Também va­mos priorizar a nossa voz, com a ajuda de especialistas”, revela Danilo.

E não há dúvidas de que eles são exce­lentes cantores. Tanto que a voz de Rafael foi muito elogiada por Lulu Santos na noi­te em que a dupla se apresentou no reali­ty e decidiu entrar para o time do Daniel. “Barítono, como eu também sou”, disse Lulu, na época, encantado. A expressão, usada pelo jurado do “The Voice”, refere­-se a uma voz mais grave, que chega a ser mais aveludada que a dos tenores. Rafael se lembrou desse momento mágico do programa quando perguntado sobre qual avaliação ele faz da voz da dupla. “Quan­do a gente recebia os elogios do Lulu e dos demais jurados, ficava sem entender. Nunca fiz aula de canto, sou autodidata. Também sou um artista tímido, mais aca­nhado. Mas, Graças a Deus, essa timidez não é prejudicial para minha carreira. Quando tenho que subir no palco, fazer um show, eu dou o meu melhor. Inclusi­ve, ouvi muita gente dizer que esse meu jeito é o que cativou as pessoas”, constata Rafael.

E Danilo não fica pra trás. Como seu jeito mais extrovertido e dono de uma voz suave e marcante, ele faz muito bem o seu papel de segunda voz. Também autodidata, ele não se cansa de buscar a perfeição como profissional. “Sou muito esforçado e determinado a estar sempre melhor. Sei que preciso evoluir muito, mas tanto eu quanto o Rafa nos esforça­mos muito para isso. A gente se dedica bastante e tenta, sem cessar, atentar para os mínimos detalhes para fazer um show bom e com músicas agradáveis de se ou­vir”, salienta.

Os elogios de Lulu Santos à dupla não pararam por aí. Logo após ser anunciada a vitória deles, no último episódio do pro­grama, no dia 25 de dezembro, o músico disse, em um comunicado divulgado pela Rede Globo, que Danilo Reis e Rafael têm um traço na personalidade deles, a simplicidade. “Ela é a tradução da verdadeira sofisticação dos dois. Eles têm a capaci­dade de juntar a zona norte com a zona sul. Sabem administrar toda a grandeza da música brasileira”, declarou Lulu na ocasião. E o cantor não exagerou nas palavras. Com esse jeitinho de meninos “do interior”, Danilo Reis e Rafael mostraram para todo o Brasil que são capazes de se sair bem cantando desde o sertanejo universitário até o pop rock, passando ainda pelo sertanejo clássico e pela MPB. Prova disso está na votação que atribuiu a vitória à dupla, que obteve 43% dos votos do público.

BASTIDORES DO PROGRAMA

A admiração deles por Lulu é recíproca, apesar de, nos bastidores do reality show, eles terem convivido pouco com o cantor. “Tanto pra gente quanto para os técnicos, a rotina é muito corrida. No nosso caso, ví­amos muito pouco o Lulu e batíamos papo com ele de vez em quando. Ele nos dava alguns toques e ia nos corrigindo até che­garmos ao ponto exato”, recorda Danilo. “Um dia antes da gravação do programa, a gente tinha um ensaio com o Lulu. Lá que nós acertávamos os últimos detalhes da apresentação. Nossos ensaios aconteciam, na maior parte do tempo, em casa. Somen­te na quarta-feira, um dia antes da grava­ção do programa, a gente ía para o Rio de Janeiro e repassava para ele tudo o que havíamos feito em casa. O que achava de bom e de ruim ele falava, até o momento de chegarmos a um comum acordo. Apesar do pouco convívio, percebemos que ele é uma pessoa sensacional”, completa Rafa­el, que confessa ter acreditado, no início, que Lulu fosse uma pessoa mais fechada, impressão que, segundo ele, logo caiu por terra. “Ele tem aquele jeitão de artista. Por isso, no começo, a gente achou que ele era uma pessoa brava. Mas, ao contrário, é supertranquilo. E o melhor de tudo é que ele se identificou bastante com a dupla. Sem­pre que ele nos via, nos dava um abraço. Teve um dia antes do programa que eu es­tava passando mal, e ele veio me perguntar se eu estava bem. Foi super atencioso com a gente desde o início do programa. Temos muito gratidão por ele, é uma pessoa que não vai sair mais de nossas vidas, da nossa história”, afirma Rafael ao confessar que, recentemente, emocionou-se ao ouvir, em casa, uma das composições de Lulu. “Esta­va escutando a música ‘Apenas mais uma de amor’ e, como já sou uma pessoa muito emotiva e sentimental, comecei a chorar de novo. Lembrei-me de tudo o que acon­teceu com a gente e me emocionei. Foi uma sensação única”, relata.

VIDA PÓS-REALITY

Focados em alavancar ainda mais a carreira, Danilo Reis e Rafael, juntos há quatro anos, vivem hoje uma rotina atribulada. Além de cumprirem uma agenda de shows, que cresce a cada dia, eles ensaiam diariamente com a banda montada, há cerca de um mês, para acompanhá-los nos shows. Mesmo assim, sempre que têm uma brecha na agenda, eles, cada qual ao seu gosto, procuram curtir os momentos livres com amigos e familiares.
 
Logo depois do fim do reality, Danilo, por exemplo, aproveitou o rápido descanso para conhecer mais as praias cariocas. “Gosto de viajar, conhecer lugares e pessoas diferentes. Por isso, fui ao Rio com amigos e fiquei lá poucos dias, já que, agora, nós não temos mais horas vagas”, brinca. Baladeiro, ele diz que, sempre que tem oportunidade, vai à capital conhecer as diversas casas de show da cidade. “Saio mais em Beagá porque em Betim temos poucas opções de lazer, mas, sempre que posso, prestigio os eventos de nossa cidade”. E, quando não está por aí, curtindo a noitada, Danilo gosta de jogar videogame. “Adoro, é um dos meus hobbies preferidos”, revela.

Já Rafael, mais caseiro, prefere abrir mão das “saídas” para curtir seus momen­tos de descanso em casa. “Depois do The Voice , a gente ainda não teve tempo para parar e respirar direito, mas, quando tive­mos esse pequeno período de sossego, Danilo quis ir para o Rio de Janeiro, cur­tir a cidade, e eu acabei ficando em casa, com meus pais”, conta. “Como também sou apaixonado por futebol, sempre que posso, vou ao Mineirão ver os jogos do Cruzeiro. Além disso, sou viciado em vi­deogame, assim com o Danilo”, completa.

ASSÉDIO DAS FÃS

Como se não bastasse o aumento do número de shows e do próprio cachê, a lista de fãs da dupla também cresce de for­ma considerável. No auge do programa, eles chegaram a receber 2.000 mensagens por dia. No caso de Rafael, algumas chega­vam a ser bem picantes. “A gente acordava de manhã, pegava o celular e se deparava com essa quantidade de mensagens. Era uma loucura. Muita gente não entende, mas, por causa desse assédio, tivemos que trocar de número. Você não consegue responder a todos, e as pessoas ficam cha­teadas com isso. Acham que não estamos dando a atenção devida, mas não é isso. É impossível responder a 2.000 mensagens por dia. Se a gente fizesse isso, não teria tempo pra ensaiar, ir para o estúdio e gra­var nosso segundo CD”, justifica.

Com Danilo não foi diferente. Ele con­ta que, durante o período em que o pro­grama esteve no ar, chegou a receber pro­postas indecentes. “Em respeito às nossas fãs, decidimos não responder a esse tipo de mensagem para não magoar nem criar expectativas em ninguém”, explica.

E, para a alegria das fãs apaixonadas pela dupla, tanto Rafael quanto Danilo estão livres e desimpedidos. Pelo menos é isso que a dupla afirmou à reportagem. “Com essa rotina corrida, a gente não tem tempo para conhecer uma pessoa”, ga­rante Danilo. Mas nada que o impeça de sonhar encontrar alguém especial. “Estou muito a fim de arrumar uma namorada. Gosto de ter uma pessoa ao meu lado. Te­mos que valorizar muito a pessoa que es­tará nos apoiando, nos compreendendo. É muito difícil achar alguém com cabeça boa, que vai entender esse momento de nossas vidas, mas o interessante seria, sim, ter uma pessoa para nos apoiar e, quando tivermos um tempo, poder ficar com ela”, desabafa Danilo.

Adepto da lei do “solteiro sim, sozinho nunca”, Rafael confessa que, apesar de es­tar solteiro há apenas três meses, sempre fica com alguém, nada muito sério. “Como sou muito caseiro, e o Danilo gosta mais de sair, é mais fácil para ele se acostumar a não namorar. Em balada, você encontra muita menina bonita. Como sou mais quie­to, é como se eu tivesse uma necessidade maior de ter uma pessoa ao meu lado. Mas, neste momento, confesso que prefiro ficar solteiro e focar o meu trabalho”, diz o can­tor, para a tristeza das fãs. 

O ENCONTRO DOS TALENTOS

Verdadeiros talentos do cenário musi­cal atual no Brasil, Danilo Reis e Rafael são um orgulho para Betim. Rafael, ape­sar de ter nascido em Belo Horizonte, mudou-se para cá com apenas 2 anos. Foi aqui que ele passou grande parte da ado­lescência, estudou o ensino fundamental e os primeiros anos do ensino médio, sempre em escolas públicas. “Com 16 anos, fui para Nova Lima e me formei lá, pois, na época, eu já jogava futebol”, recorda. Rafael atuava como goleiro pelo time profissional de Nova Lima, mas, an­tes disso, percorreu dezenas de times amadores de Betim, como Portuguesa, Industrial, Vera Cruz, Sete de Setembro e Rubro Negro. A paixão pelo esporte era tão forte que ele até apitou jogos de fute­bol realizados em escolas do município. Aos 20 anos, desistiu do sonho de ser jogador de futebol e resolver investir nos estudos. “Percebi que minha vida como jogador não teria futuro. Mesmo após quatro anos, eu não tinha retorno finan­ceiro. Decidi, então, largar o futebol para estudar, me dedicar à faculdade”, conta.

Quando criança, Rafael sonhava em ser jogador de futebol, jornalista espor­tivo ou cantor, mas, por causa da timi­dez, a vida de artista ficou em terceiro plano. “Até para cantar em festas de família era uma dificuldade. Ainda sou muito tímido, mas melhorei muito. Fui obrigado a melhorar, pois, se não me li­bertasse dessa timidez, não conseguiria cantar em público”.

Muitas vezes, a paixão musical começa com o desejo de aprender a tocar algum instrumento. Foi assim com Danilo, ou Juninho, para os íntimos. Desde cedo, ele desenvolveu o amor pela música. Muito religioso e católico praticante, ele, desde novo, sonhava ter uma banda. A primeira da qual fez parte, uma gospel, também ensaiava músicas para bailes. “Tocávamos todos os ritmos, desde forró a pop rock, mas não chegamos a nos lançar profissio­nalmente. Depois, larguei a banda para fazer um curso de técnico em segurança do trabalho. Quando fui amadurecendo, na adolescência, passei a curtir mais ser­tanejo; nessa época, o ritmo bombava em Minas, com Jorge e Mateus e Victor e Léo”, recorda.

E foi nessa mesma época que os amigos, já adultos, se reencontraram, após sete anos sem se verem. “Estava trabalhando como entregador em um supermercado quando reencontrei o Rafael. Como eu já trabalhava com mú­sica, tivemos a ideia de começar a tocar. Pegamos o violão e começamos a fazer umas modinhas, sem muita pretensão”, brinca Danilo. O sucesso foi tanto que, pouco tempo depois, a brincadeira se tornou algo sério. “O pessoal que nos via nas apresentações sempre gostava e falava pra gente acreditar no nosso po­tencial e investir. Quando fizemos nosso primeiro show em um barzinho, o Boia­deiros, no bairro Brasileia, a galera gos­tou bastante, e a casa ficou lotada. Nos empolgamos e decidimos correr atrás”, completa Rafael.

E apoiadores, durante esse árduo caminho antes da fama, não faltaram. Além dos pais e dos avós, que, segundo eles, foram e sempre serão seus maiores investidores e incentivadores, Danilo e Rafael contaram com o “empurrãozi­nho” de outros verdadeiros anjos, pelos quais a dupla tem extrema gratidão. Um deles é a prima de Danilo, Jéssica Pires Costa, 18. Foi por causa da insistência dela que Danilo e Rafael gravaram um vídeo e enviaram para a seleção regional do “The Voice”. “Se não fosse por causa dela, nós nunca teríamos participado do programa”, confessa Danilo. E ver sua dupla preferida brilhando em todo o país é gratificante para Jéssica. “Mesmo antes da fama, minha família sempre fez tudo por eles. A gente ia aos shows, fazia ca­misas, montou até um fã-clube. Quando eles foram selecionados para o reality, foi maravilhoso. Movemos montanhas para que eles ganhassem. Até panfletar a gen­te panfletou”, diz a vendedora.

Na história da carreira dos sertanejos, outro nome, Sidnei Silva, também tem um lugar muito especial. “Ele era meu professor e técnico na época em que eu estudava na escola JK, no Bueno Franco. Na primeira vez que ele nos viu tocando, em um evento no parque de exposições da cidade, ele disse que queria nos aju­dar. Desde então, passou a investir tudo que podia na dupla”, revela Rafael. “Uma vez, a gente precisou ir para São Paulo para gravar uma entrevista, mas não tinha dinheiro. Foi ele quem comprou as pas­sagens pra gente, e o que mais nos emo­ciona é que ele fazia isso sem pedir nada em troca. O Sidnei foi como um pai para nós, assim como os nossos pais e avós, que, mesmo passando por dificuldades financeiras, sempre acreditaram em nós, seguraram as pontas e confiaram no nos­so sonho, junto com a gente”, encerra Danilo, emocionado.

 




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