Caçador de violas

Viola

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Criado em 14 de Abril de 2014 Antiguidades
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A paixão pelo instrumento, considerado o símbolo da música popular brasileira, fez com que o violeiro Cláudio Alexandrino construísse um acervo com mais de 150 exemplares dessa peça
 
Pollyanna Lima
 
Cantor, pesquisador e compositor mineiro, Cláudio Alexandrino, 40, é violeiro e colecionador de violas caipiras artesanais. A paixão pelo instrumento levou-o a montar um acervo com 151 dessas peças, entre as quais se incluem as violas de Queluz, a mais famosa das marcas artesanais brasileiras. O colecionador, na adolescência, já lia e ouvia muito coisa sobre a viola caipira, quando, então, resolveu aprender a tocá-la. Aos 27 anos, comprou a primeira viola e, desde então, tornou-se um violeiro virtuoso, fazendo do instrumento um objeto de lazer e de trabalho.
 
Nascido e criado em Betim, Cláudio Alexandrino diz que hoje seu projeto é lutar pela captação de recursos para a abertura de um museu onde possa disponibilizar suas violas, além de outros instrumentos antigos e novos que fazem parte de sua coleção. “Espero, em breve, conseguir um local para instalar um memorial definitivo para a exposição de minhas violas, um local que se tornará ponto de referência para os violeiros mineiros e de outras regiões do país. No museu, pretendo contar a história da viola por meio dos instrumentos, entre os quais estão bandolins, violões, rabecas, cavaquinho e machetes”, explica o músico.
 
Enquanto esse projeto não se concretiza, Alexandrino realiza exposições em várias cidades mineiras. A primeira aconteceu em 2004, em Brasília, e, após essa data, iniciou-se uma série de exposições em municípios do Estado de Minas Gerais. “Ouro Preto, no Museu da Casa dos Contos; Conselheiro Lafaiete, na Casa dos Artesões; Timóteo, na Fundação e Fábrica Acesita, e espaços em Belo Horizonte e em Betim, como no Parque de Exposições David Gonçalves Lara, durante o Betim Rural, foram alguns dos locais por onde passei. Geralmente, sempre na abertura ou no encerramento dessas exposições, faço uma apresentação musical”, conta.
 
Fotos: Divulgação
 
A paixão pela viola nasceu da admiração pelo cantor Almir Sater e por influência de outros artistas renomados, como Elomar Figueira Melo e Tom Jobim. No mesmo ano em que comprou sua primeira viola, ele deu início às viagens que se tornaram conhecidas, principalmente, como a ‘Caçada de Violas’. “Fiquei conhecido como ‘o caçador de violas’, quando eu e minha esposa, Elisana de Assis, começamos a escrever para uma revista especializada de Belo Horizonte contando sobre as nossas aventuras desbravando os rincões de Minas à procura da ‘viola perdida’. Hoje não viajamos mais sozinhos, já que nossa filha, Alice, 3, tornou-se a nova integrante da equipe”, brinca o músico.
 
Em suas viagens, Cláudio Alexandrino também realiza pesquisas, recolhendo e resgatando músicas de domínio público, contos e tradições dos antigos violeiros. Com tantas informações, o músico cria repertórios bem característicos, que carregam um pouquinho da história de cada lugar por onde passa.
 
A história da viola caipira
A viola caipira é um instrumento musical de cordas muito popular, principalmente, no interior do Brasil, sendo reconhecida como um dos símbolos da música popular brasileira. Ela chegou ao país no início da colonização, trazida por colonos e jesuítas portugueses. No século XV e, sobretudo, no século XVI, ela já era largamente utilizada em Portugal.
 
No Brasil, a viola praticamente manteve a estrutura básica do instrumento português, seguindo o mesmo padrão, com cravelhas de madeira, cavalete trabalhado e a trasteira ou regra (madeira onde se fixam os trastos) no mesmo nível do tampo ou texto sonoro do instrumento. Essas eram as violas brasileiras mais difundidas, fabricadas artesanalmente e encontradas entre os violeiros mais tradicionais.
 
A viola artesanal que alcançou maior fama foi de Queluz – produzida na antiga Queluz de Minas, cidade que, a partir de 1934, passou a se chamar Conselheiro Lafaiete. Ela seguia o modelo da antiga viola toeira, de Portugal. Duas famílias de artesãos da cidade se sobressaíram na confecção delas: os Meireles e os Salgados. Seus instrumentos eram vendidos, principalmente, por ocasião do jubileu, que se realizava no município de Congonhas, e para o qual convergia gente de diversos estados, atraídas pelos milagres do Senhor de Bom Jesus de Congonhas.
 
Com o início da industrialização, a confecção das violas artesanais entrou em declínio, já que, por causa da produção em série, o mercado passou a disponibilizar peças a preços mais acessíveis. Ainda hoje, a viola brasileira mantém inalteradas as principais características do instrumento português, preservando seu forte caráter popular. Ela é um instrumento muito difundido, encontrada em todas as regiões brasileiras e presente em várias manifestações tradicionais.



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