De Minas para o mundo
Fundadora da marca Forno de Minas, Maria Dalva Couto Mendonça não só levou o tradicional pão de queijo mineiro para todo o Brasil, como também conquistou outros nove países com a receita que ela aprendeu na fazenda da família, em João Pinheiro, no Noroest
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Maria Dalva Couto Mendonça, mais conhecida como dona Dalva, nasceu em João Pinheiro, no Noroeste de Minas Gerais, há 74 anos. Criada em fazenda, ela aprendeu desde cedo a colocar a mão na massa e a preparar o próprio alimento, que era feito em grandes quantidades e reservado para a semana toda. Entre os quitutes elaborados por ela estava o pão de queijo, item indispensável no cardápio dos mineiros e ainda mais tradicional no interior do Estado. Naquela época, porém, ela nem imaginava que a iguaria ganharia o paladar dos brasileiros e extrapolaria as fronteiras do Brasil, chegando a outros nove países. É que a receita da roça deu origem à marca Forno de Minas, uma das maiores do ramo alimentício nacional. Tímida e avessa a entrevistas, Dona Dalva terá a história empreendedora contada, nesta edição da revista Mais, pela filha mais velha, Hélida Stael Mendonça, sócia-fundadora da empresa.
Tudo começou com a vinda da família para Belo Horizonte, em julho de 1972. Em setembro do ano seguinte, o patriarca, Hélio Mendonça Braga, faleceu em um acidente de carro. O episódio mudou o rumo da mãe e dos quatro filhos, que tinham de 4 a 12 anos. Dona Dalva vendeu a fazenda do marido e passou a trabalhar como corretora de imóveis, ofício que exerceu por, aproximadamente, 15 anos na capital mineira. Nesse intervalo, Hélida se formou em psicologia, e o irmão, Helder Couto Mendonça, em administração de empresas – outras duas filhas estudaram decoração e medicina. Depois de trabalhar um tempo fora do país, o único homem da casa voltou para BH cheio de entusiasmo em relação ao mercado de congelados e decidiu dar início à primeira empreitada familiar.
“Ele e minha mãe abriram um restaurante de comida executiva chamado ‘Boca Doce’, na Savassi. O negócio durou menos de um ano porque tinha muito movimento e dava trabalho demais. Então, minha mãe preferiu continuar com a pequena imobiliária que ela tinha no bairro Santo Antônio. Mas, depois disso, decidimos começar, nós três, a ‘Forno de Minas Pão de Queijo’, dentro da praça de alimentação do extinto Shopping Sul, também na Savassi”, relembra Hélida.
Foi de Helder a ideia de investir na venda de pão de queijo congelado, em 1990. No começo, além do trio, a empresa contava apenas com outros três funcionários e uma Fiorino para as entregas. A proximidade a um hipermercado, porém, contribuiu para alavancar as vendas do produto, que também passou a ser vendido nas delicatessens, comuns naqueles tempos.
Em 1992, dona Dalva e o casal de filhos que a acompanha na empresa se mudaram para um galpão alugado no bairro Kennedy, em Contagem, na região metropolitana. No mesmo ano, Vicente Camiloti se juntou à sociedade, e, em 1995, a Forno de Minas se instalou em uma sede própria, no bairro Nacional, no mesmo município. “Vimos que não tínhamos estrutura. Precisávamos melhorar os equipamentos, aumentar o espaço. Chega um ponto em que ou você cresce ou morre”, afirma Hélida.
Reviravolta
Até o fim da década de 1990, o então quarteto de sócios manteve os negócios de vento em popa e conseguiu romper a regionalização para inserir a especialidade da casa em outros Estados. Em 1999, com o processo de globalização acelerado e a vinda de muitas multinacionais para o Brasil, uma “oferta irrecusável”, segundo a primogênita da família Mendonça, culminou na venda da marca para a Pillsbury, unidade de alimentos da holding Diageo. Uma década mais tarde, a General Mills, que havia adquirido a Forno de Minas da Pillsbury, encerrou o negócio e demitiu todos os funcionários devido à crise econômica mundial.
Dona Dalva, os filhos e Camiloti, no entanto, não se distanciaram por completo da empresa, porque mantiveram um laticínio arrendado na mesma época em que se mudaram para a nova fábrica e assinaram um contrato para fornecerem a matéria-prima dos pães de queijo produzidos pelos novos donos. Prendada, a chefe da família aproveitou o tempo para aprimorar os dotes culinários fazendo vários cursos com chefs renomados.
Quinze dias depois do fechamento da Forno de Minas, os quatro sócios reassumiram a marca e voltaram com a receita original de João Pinheiro. “Voltar foi um novo desafio porque uma coisa é construir uma empresa; outra é reconstruí-la. Dona Dalva continua firme e forte cuidando dos novos produtos. Helder é super-empreendedor, ousado e ágil. E Vicente tem boa visão comercial. Em nossa sociedade, um complementa o outro”, afirma Hélida, que assumiu o setor de Recursos Humanos e gosta também de atuar na comunicação.