Destaques sobre duas rodas

Após vencerem o sedentarismo, atletas de mountain bike de Betim ficam entre os 50 melhores do mundo em competição realizada na África do Sul; dupla deixou 500 equipes para trás no torneio e protagonizou viagem histórica

Criado em 07 de Maio de 2019 Esportes
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Iêva Tatiana

Eles têm histórias de vida bem parecidas e, juntos, foram protagonistas de um capítulo importantíssimo em território estrangeiro. Os ciclistas Remerson Neri, de 40 anos, e Juarez Soares Pitta (o Juju), de 42, foram os únicos representantes de Betim, na região metropolitana de Belo Horizonte, na ultramaratona de mountain bike Cape Epic 2019, disputada na África do Sul, em março. A dupla conquistou o 46º lugar, deixando cerca de 500 equipes para trás.
Neri já havia participado da competição no ano passado, junto com outro parceiro, de Blumenau (SC), mas alimentava o sonho de voltar acompanhado de um amigo próximo, com quem tivesse bastante afinidade para enfrentar os desafios impostos pelas provas, que aconteceram ao longo de oito dias em localidades diferentes do país africano.
“Foi uma viagem histórica. O tempo todo nós comemoramos muito, vibramos e também sofremos. Pegamos frio de 10°C e chuva e passamos alguns perrengues, mas, com uma pessoa resiliente como o Juju, superamos os desafios tranquilamente. Afinal, a troca de energia e de cumplicidade entre nós é grande”, conta Neri.


A dupla já enfrentou provações antes mesmo do início da competição. Segundo Neri, o primeiro lote de inscrições se esgotou em menos de um minuto. Ele, então, entrou em uma espécie de loteria, na esperança de ter o nome sorteado para a competição. A oportunidade, no entanto, veio por outra via: um amigo do Rio de Janeiro, que já estava inscrito, não pôde ir e vendeu a vaga para o mineiro montar a própria equipe.
Os desafios seguintes foram arcar com os custos – todos altos, segundo o ciclista – e com a complexidade da ultramaratona. “Finalizar é muito difícil, e até profissionais ficam pelo caminho. É preciso ter estratégia e força de vontade. Se o atleta não se cuidar nem tiver um bom preparo, no outro dia ele não finaliza a prova seguinte”, explica.
Estreante na Cape Epic, Juju confessa que viajou focado apenas em concluir as provas. Contudo, ele voltou extasiado por ter terminado entre os 50 melhores e já considera o retorno, em 2020, o “objetivo maior” de vida atualmente.
“Fui sem expectativa nenhuma, apenas pensando em fazer meu melhor e também em curtir. Lá, acabou acontecendo uma disputa com outra dupla brasileira, e isso acendeu a chama da competição, fazendo com que a gente buscasse errar o mínimo possível. Eu e Remerson pedalamos e treinamos juntos há anos, um conhece bem o outro, e isso fez a diferença”, avalia.

Primeiras pedaladas

O desempenho atual dos dois ciclistas de Betim contrasta – e muito! – com a vida sedentária que ambos levavam até o início desta década. Neri conta que trabalhou durante dez anos como motorista de caminhão e chegou aos 30 anos pesando 90 kg e sem praticar nenhum esporte. Determinado a sair do lugar, ele começou a correr, mas um problema no joelho o impediu de seguir por esse caminho. Antes que ele desanimasse, um amigo sugeriu a bike como alternativa, e ele acabou tomando gosto pela “magrela”.
“Em 2010, comecei a pedalar e, em 2016, terminei em primeiro lugar no ranking nacional, na minha categoria. Se isso não fosse algo impossível, era, ao menos, improvável na época. E eu, que nunca fui ligado a esportes, ainda entrei para a faculdade de educação física em 2015. Um hobby levado a sério se transformou em um estilo de vida”, relembra.
Neste ano, o betinense – que hoje dirige uma transportadora juntamente com a família – já tem programados pela frente a Taça Brasil, o Campeonato Brasileiro e o Mundial, no Canadá. “É uma questão de curtir o que se está fazendo. Passada a dificuldade, é gostoso ver nossa evolução. O esporte me deixa em dia com a alimentação e o trabalho, me ajuda na questão da organização e até mesmo em relação às amizades, porque existe um respeito muito grande entre os atletas”, ressalta Neri.

Dupla de amigos e atletas já estabeleceu um desafio para 2020: participar da ultramaratona de mountain bike Cape Epic do próximo ano, superando a classificação do 46º lugar na África do Sul.

Em busca de saúde

A trajetória de Juju é muito semelhante. Ele também foi caminhoneiro e diz que, além de beber muito, não fazia nenhuma atividade física. Diariamente, passava, em média, dez horas dentro do caminhão e chegou a pesar 120 kg. Determinado a mudar de vida, ele viu na bicicleta uma oportunidade, já que não tinha afinidade com outra modalidade esportiva.
“Eu e Remerson começamos a pedalar na mesma época. A gente já se conhecia. Aí, um começou e chamou o outro. Ele tem mais bagagens de provas do que eu, mas ainda vamos pedalar muito juntos”, garante o atleta.
Atualmente, ele está na direção de uma empresa de transporte rodoviário de cargas e treina por até seis horas por dia. “Para mim, isso é, além de diversão, uma terapia. Quando fico sem treinar, até minha esposa fala que estou precisando voltar. Há dez anos, não era a pessoa que sou hoje, tanto em termos de saúde quanto de mente. Não me imagino mais sem o esporte”, afirma Juju.
Segundo o empresário e atleta, as coisas foram acontecendo naturalmente, e a meta é seguir sobre duas rodas por muito tempo. Em outubro próximo, ele deve participar da ultramaratona nacional Brasil Ride, na Bahia.




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