Direto da terra

Cada vez mais, consumidores se alimentam de produtos sem agrotóxicos em busca de mais saúde e de qualidade para o meio ambiente; BH, Betim e região já oferecem itens

Criado em 29 de Outubro de 2018 Meio Ambiente
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A preocupação com a saúde tem feito muitos brasileiros mudarem hábitos alimentares. E isso inclui a busca por produtos sem agrotóxicos, plantados com a utilização de apenas adubos orgânicos. De acordo com dados do Conselho Brasileiro da Produção Orgânica e Sustentável (Organis), 15% da população urbana no Brasil consome produtos orgânicos e 64% das pessoas acreditam que eles fazem bem à saúde. Ainda segundo o levantamento, verduras, legumes e frutas são os alimentos mais consumidos.

A aposentada Marilda Lara Braga Saraiva, de 63 anos, prioriza em sua alimentação diária os produtos sem agrotóxicos. Não faltam na despensa dela itens como alface, couve, almeirão, mostarda, azedinha, beterraba, limão cravo, ovos, abacate, chuchu, mandioca e feijão. “Aos poucos, vamos mudando a alimentação, mas acho que nunca vamos conseguir por completo, a não ser que a gente passe a morar em uma fazenda e produza nosso próprio alimento”, diz.

Marilda compra os orgânicos na Verde Terra Produtos Orgânicos, na capital mineira. “Mas gostaria também de poder ir a uma feira orgânica e escolher os produtos. Vejo isso em várias capitais, como São Paulo, Rio de Janeiro, Belo Horizonte. Afirma a aposentada.

A advogada e maquiadora Marcella Braz, de 28 anos, também não abre mão dos orgânicos. Mãe da pequena Alice, de 5 meses, e da Larissa, de 7 anos, ela decidiu reduzir o consumo de alimentos com agrotóxicos visando melhorar a qualidade de vida da família. “Comecei a transformar a alimentação em minha casa pela minha família e também para deixar meu leite materno mais nutritivo. Depois que ganhei minha segunda filha, passei a atentar mais para essa questão”, conta.

Os principais produtos orgânicos que ela consome são verduras em geral, ovos e vinagre de maçã, comprados de uma fazenda em Igarapé, na região metropolitana, e na loja Mercado Verde – Alimentos Naturais, em Betim, na mesma região. “Não fico mais sem os orgânicos. Sinto que os alimentos ficam muito mais saborosos. O único problema é a dificuldade de encontrar tudo o que desejo consumir”, relata.

Pensando em suprir essa necessidade, o projeto A Horta da Cidade, criado, no início do ano, em Belo Horizonte, vende hortaliças sem o uso de agrotóxicos. Na compra dos itens, a pessoa ainda contribui com o meio ambiente, já que pode doar resíduos orgânicos produzidos em casa, que serão usados como adubo na horta.

“É um clube de plantio. A pessoa paga o valor para receber as hortaliças em casa e, como benefício, pode fazer a reciclagem dos resíduos orgânicos domésticos”, explica o fundador do projeto, George Lucas. As verduras são plantadas para cerca de 70 famílias cadastradas. “Nossa meta é chegar a 250”, afirma Lucas.

Em oito meses de projeto, já foram comercializadas em torno de 5.000 hortaliças. Segundo o fundador, uma segunda horta foi criada em meados de julho. Para o fundador, a procura por alimentos mais naturais é um caminho sem volta. “Cada vez mais, estamos vendo a busca por alimentos de verdade. As pessoas querem algo mais próximo do natural possível”, destaca.

Mercado

Na avaliação do analista de agronegócios da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg), Caio Coimbra, o mercado de produtos orgânicos é um nicho em franca expansão, sendo o foco nos consumidores das classes A e B, devido aos valores mais elevados.

Ele explica que o produto só pode ser considerado orgânico após o registro das autoridades públicas competentes. No caso de Minas Gerais, um dos órgãos responsáveis é o Instituto Mineiro de Agropecuária (IMA). Segundo Coimbra, nos produtos orgânicos não se pode usar adubação nem defensivos químicos, devendo ser tudo natural.

No entanto, ele alerta que produtos com agroquímicos não são perigosos para a saúde humana, desde que o produtor use a quantidade especificada pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama), pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e pelo Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa). “Existe uma dose letal, mas, para nós começarmos a sentir algum sintoma após a ingestão de agroquímicos, será necessário comermos, por exemplo, 15 kg de feijão por dia”, explica.

Segundo o especialista, o clima do Brasil dificulta, mas não impossibilita, o plantio de orgânicos ou de produtos sem agrotóxicos devido à proliferação mais rápida de micro-organismos, que podem contaminar as plantas e ser prejudiciais ao ser humano. 

Para o consumidor, Coimbra destaca a importância de lavar frutas e verduras com hipoclorito antes do consumo. De acordo com ele, o produto é facilmente encontrado em supermercados e em hortifrutis. A regra vale para todos os tipos de alimentos, orgânicos ou não.

UFMG cria espuma que retira agrotóxicos dos alimentos

Uma pesquisadora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) desenvolveu uma espuma capaz de retirar agrotóxicos da água e dos alimentos. De acordo com a pós-doutoranda Marys Braga, o material é feito de poliuretano sintetizado, à base de reagentes de origem vegetal capazes de remover os pesticidas.

Esses componentes interagem com os contaminantes, removendo-os e deixando o meio (alimento ou água) mais limpo. “Já foi testado e certificado que a eficiência de remoção é alta. Essa espuma tem um custo baixo em relação a outros produtos absorventes, como o carvão vegetal”, explica a autora da pesquisa.

O produto também é sustentável e pode ser usado mais de uma vez, sem contaminação do meio ambiente. De acordo com o professor da Escola de Engenharia Metalúrgica e de Materiais da UFMG e orientador da pesquisa, Rodrigo Oréfice, a principal proposta do projeto é contribuir para que as pessoas consumam um produto menos contaminado. “A espuma vai auxiliar o consumidor a ter uma ferramenta que garanta algo mais saudável e contribua para extrair ou eliminar algum produto tóxico que esteja no alimento”, diz.

Marys ressalta que o produto já foi patenteado, e a ideia é, no futuro, que ele seja feito em larga escala para que se torne acessível ao público em geral.


O que são produtos orgânicos?

Pela legislação brasileira, considera-se produto orgânico, in natura ou processado, aquele que é obtido em um sistema orgânico de produção agropecuária ou oriundo de processo extrativista sustentável e não prejudicial ao ecossistema local. Para serem comercializados, os produtos orgânicos devem ser certificados por organismos credenciados no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), sendo dispensados da certificação somente aqueles produzidos por agricultores familiares que fazem parte de organizações de controle social cadastradas no Mapa, que comercializam exclusivamente em venda direta aos consumidores.




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