Do seio familiar para os palcos

Criado em 17 de Junho de 2016 Talento

Maestro Salles, o pai, e Salinho, o filho, dois grandes instrumentas com formação musical que vivem, atualmente, em Betim, mas já viajaram o Brasil e o mundo mostrando seu talento ao lado de artistas de renome, como Mangabinha, Trio Parada Dura, Victor &

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Julia Ruiz

Diz o ditado popular que “filho de peixe peixinho é”. No meio artístico, principalmente, parece que a expressão faz ainda mais sentido. Atores, cantores, músicos, escritores, bailarinos... Salvo algumas exceções, basta uma boa pesquisa no mundo das celebridades para ver que o talento ou a escolha profissional tem raízes nas gerações anteriores. E foi assim, de geração em geração, que a família mineira Sales revelou dois grandiosos talentos da música. Osmar de Sales Martins, o maestro Salles, 49, e Nicodemos Arimatéia de Sales Martins, o Salinho, 28, pai e filho, instrumentistas com formação musical e grande reconhecimento no mercado, são exemplos da vocação que vem no sangue. O resultado são vidas totalmente dedicadas à música, parcerias com artistas de sucesso e, claro, pé na estrada!

Os avós maternos e paternos de maestro Salles já compartilhavam a paixão pela música. Nas reuniões de família na fazenda, em Alvarenga, no interior de Minas Gerais, onde moravam, cantorias e serenatas nunca faltavam. “Minha avó materna se apresentava em bailes. Ela e minhas tias tocavam sanfona, violão, cavaquinho, entre outros instrumentos. Meu avô paterno era descendente de italiano, e os avós maternos eram baianos. Então, pesquisávamos muitas referências musicais tanto nacionais, de raiz, quanto internacionais, como música clássica. As noites de luar são inesquecíveis”, narra Salles.

Os pais do maestro, naturalmente, herdaram o dom. Filho do meio de sete irmãos – cinco homens e duas mulheres –, ele conta que os pais, ainda bem novinhos, ensinaram-lhe a tocar. “Assim como minha avó e minhas tias, minha mãe tocava instrumentos. Meu pai, um excelente músico, tocava sanfona oito baixos, a ‘pé de bode’; bandoneon, uma sanfona argentina, e outros. Uma das ocupações dele, inclusive, era o conserto desses instrumentos Meus irmãos e eu aprendemos com eles. Aos 5 anos, já seguia os passos dele com a ‘pé de bode’. Aos 9, já me apresentava em bailes de fazenda. Todos em casa tocam, cantam e compõem. Dois irmãos são músicos profissionais”, revela.

Maestro Salles e Salinho já tocaram juntos para produções especiais e gravações e revelam que estão desenvolvendo um projeto autoral. Segundo os instrumentistas, sempre que se encontram em casa, não abrem mão de curtir, juntos, músicas de que gostam e até de executar alguns acordes

 

QUALIFICAÇÃO E SUCESSO

Aos 15 anos, acompanhando uma dupla sertaneja da região, Salles deixou Alvarenga, veio para a região metropolitana e se instalou em Contagem. Diante das dificuldades, a dupla acabou não triunfando, mas ele permaneceu na cidade, apresentando-se em bailes e festas para custear as despesas e também estudar música. Ainda com essa idade, ingressou na Ordem dos Músicos do Brasil (OMB) de Minas Gerais, onde foi habilitado. Em seguida, passou por cursos na Fundação Clóvis Salgado e, depois, entrou para a Escola de Música da Universidade do Estado de Minas Gerais (Uemg), na qual se qualificou em regência simples e clássica, e estudou conceito musical. Ele também é especializado em Teoria Geral da Música, por meio da Escola Nacional de Música, que tem cursos certificados por países como França e Alemanha.

Ao longo desse período de graduação, Salles foi se destacando e tocando com nomes bem conhecidos no cenário musical, como Mangabinha e o trio Parada Dura. Ele se apresentou ainda com músicos de outros Estados e até de outros países. O período também foi marcante na vida amorosa, pois ele conheceu a companheira de vida, Maria Inês Martins, com quem teve Salinho, Nicássia e Renata. Todos, assim como o maestro, são apaixonados por música, mas quem quis seguir, de fato, os passos do pai na casa foi o primogênito.

Com um crescimento profissional expressivo, o maestro se dividia, então, entre a música e a família. Ele atuava como produtor e se apresentava com profissionais de renome, como Victor & Leo e César Menotti & Fabiano. Ele ainda viajava para ministrar palestras em escolas de música e universidades, e para participar de encontros com músicos profissionais de todo o Brasil e do mundo, atividade que ainda exerce. “Um momento inesquecível foi quando dirigi um coral com 45 vozes e 11 músicos”, recorda-se.

“PEIXINHO”

Espelho do pai, Salinho demonstrou, desde sempre, aptidão para tocar instrumentos. A vontade de se dedicar à música ficava cada vez mais evidente à medida que ele assistia às apresentações do pai, em quem sempre se inspirou. Com “olho clínico”, Salles o matriculou em aulas de teclado. Aos 7 anos, Salinho já tocava na igreja que a família frequentava. Pouco tempo depois, ele aprendeu a tocar também acordeon e violão.  

De Contagem, a família migrou para Betim, na região do PTB, onde ainda vive. “Era uma cidade com grande potencial de crescimento. Minha tia, irmã de meu pai, já vivia no município. Então, decidimos nos mudar”, diz o instrumentista.

Aos 16 anos, Salinho começou a se apresentar com artistas de dentro e de fora do Estado e, sendo cada vez mais conhecido no meio musical, foi convidado para fazer turnês e apresentações com grandes nomes da música sertaneja, como Chitãozinho & Xororó e Roberta Miranda. “Foram momentos muito especiais, pois pude acompanhá-los em diversas oportunidades. Mas, se eu puder destacar o ponto alto da minha carreira até então, digo que foram os dois anos que passei tocando com a Paula Fernandes. Ao lado dela, percorri o Brasil, parte da Europa e dos Estados Unidos”, revela.

Apesar do destaque no meio sertanejo, pai e filho garantem ter outras preferências. “Eu sou bem eclético quanto a gosto musical”, garante Salinho. Já o coração do maestro bate mais forte pela música clássica e erudita. “A preferência de minha família sempre foi a música de raiz, mas, depois do conservatório, minhas predileções foram mudando. Fui gostando também do blues e do jazz. A música erudita já era uma paixão. Mas nunca deixei de ouvir o sertanejo, aquele que tem história, identidade, como os de Tião Carreiro e de Tonico e Tinoco. Hoje, percebo que as canções que alcançam o topo das paradas são uma mistura de estilos, mas sem identidade; elas se perderam nas letras, no ritmo.  De qualquer forma, até mesmo para fins de pesquisa, ouço todos os estilos. O único que realmente não tenho o hábito de escutar é o funk brasileiro”.

E, com tanto talento em casa, será que dá para fazer uma “dobradinha”? Salinho conta que ele e o pai já tocaram juntos para produções especiais e gravações. “Também temos um projeto autoral em desenvolvimento”, diz o músico. Além disso, sempre que se encontram em casa, os dois não abrem mão de curtir, juntos, músicas de que gostam e até de executar alguns acordes em dupla.

CONHECIMENTO COMPARTILHADO

Em 2001, maestro Salles decidiu não manter mais o talento guardado no âmbito familiar. Ele fundou quatro escolas de música – nas cidades mineiras de Betim, Bonfim, Piracema e Piedade dos Gerais. Atualmente, possui cerca de 80 alunos, com os quais diz que aprende muito. “É muito importante que qualquer pessoa que queira se dedicar à música estude para ficar habilitada, para entender bem o contexto em que está inserida e para se comunicar com qualidade com o seu público”, salienta.

Para atender a todos os compromissos, ele trabalha de segunda a segunda. Isso quando não viaja para se apresentar ou participar de encontros. “Nos próximos dias, vou para o Amapá ministrar uma palestra sobre a morfologia da música – passando pela primitiva, pela renascentista até chegar à contemporânea”, explica.

PRIVILÉGIO

Salles e Salim fazem parte de um seleto grupo que pôde se dedicar unicamente à música e  obteve êxito profissional. “Somos muito gratos a Deus, primeiramente, por esse dom maravilhoso; aos nossos familiares e amigos, que nos ajudaram em nossa caminhada; e a pessoas de todo o Brasil, que sempre nos acolheram com carinho. A música representa minha própria vida. Ela me proporcionou trabalhar com grandes ídolos, e isso vou sempre guardar com carinho”, pontua Salinho.

“A música liga o homem a Deus, no céu, e aos anjos, aqui, na Terra. Uma vez, em um showmício em que me apresentei, ouvi o então ministro Aníbal Teixeira dizer uma frase que aprendeu com Juscelino Kubistchek: ‘aquele que é incapaz de sonhar nasceu velho. E o que jamais transformou seus sonhos em realidade nasceu inútil’. Eu me apropriei disso, segui meu caminho e orientei meu filho”, afirma o maestro.




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