Ele é ‘chumbo grosso’

Entrevista - Expedito Martins Chumbinho

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Criado em 14 de Abril de 2014 Conversa Refinada
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Médico angiologista, Expedito Martins Chumbinho, 73, o doutor Chumbinho, como é conhecido na cidade, participou da fundação da Unimed Betim, já foi vereador, secretário municipal e adjunto da Saúde e, atualmente, assumiu também a presidência da ONG Missão Ramacrisna. Membro da Maçonaria, ele possui o título de Grande Inspetor Geral, grau máximo da filosofia atingido pela instituição. Religioso, doutor Chumbinho é um homem que acredita no caráter missionário da sua profissão e na espiritualidade como combustível do ser humano
 
Viviane Rocha
 
REVISTA MAIS – O senhor tem um sobrenome forte e, ao mesmo tempo, incomum. Qual a origem?
 
Expedito Chumbinho - Sou descendente de portugueses e meu avô tinha o apelido de Chumbo. Os filhos dele eram chamados de Chumbinho. Então, eles foram registrados com o sobrenome Chumbinho, uma prática comum naquela época. A partir daí, a família não parou de crescer e todos foram batizados com o sobrenome Chumbinho, desde então.
 
Tem filhos?
Sim, três: Silvia, Letícia e Sérgio.
 
E netos?
Tenho seis, com idades entre 2 e 13 anos. Cada um dos meus filhos tem duas crianças.
 
Considera-se um avô amoroso e coruja?
Ser avô é bem diferente de ser pai. Quando temos nossos filhos, a obrigação maior é educá-los bem, prepará-los para a vida. É uma responsabilidade muito grande. Com os netos é diferente, você deixa as crianças mais à vontade e, de certa forma, aproveita mais. Acho que é mais gostoso ser avô, que, como muita gente diz por aí, é um “pai com açúcar”.
 
O senhor é casado há 50 anos. Qual o segredo de uma relação tão duradoura?
Honestamente, não sei lhe dizer. Minha esposa e eu temos uma relação muito boa. Claro que, ao longo desse tempo, tivemos nossos desentendimentos, mas que não duravam nem uma hora. Coisa normal em qualquer casamento. Graças a Deus, eu e ela temos uma história muito sólida e somos muito unidos. Acho que não tem segredo, o importante é ter amor e respeito. Isso é primordial no nosso casamento.
 
Ela foi a sua primeira namorada?
Sim. Ela também é da mesma cidade em que nasci, em Coimbra, perto de Viçosa, na Zona da Mata mineira. Nós nos casamos lá e viemos morar em Betim.
 
A medicina é uma tradição em sua família?
Não. Meu pai era tabelião e desejava que eu tivesse feito o curso de direito para abraçar esse legado. Queria que eu prosseguisse trabalhando como tabelião em Coimbra, assim como ele. Mas eu não quis seguir esse caminho. Infelizmente, no início, ele ficou bastante contrariado com a minha escolha, mas, depois, aceitou. Percebeu que fiz bem em estudar medicina. Graças a Deus, a visão dele mudou. Estudei na Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e me formei na turma de 1966.
 
Então, como o surgiu seu interesse pela medicina?
Naquela época, os cursos mais tradicionais eram o direito e a engenharia, além de medicina. Não sei explicar, porque nunca tive o sonho de estudar medicina. Simplesmente, um dia achei que deveria escolher ser médico e assim o fiz.
 
Algum dos seus filhos trilhou a carreira de médico?
A Letícia, minha filha do meio, cursou medicina e hoje trabalha na Unimed Betim. Silvia, minha filha mais velha, é veterinária e dona de uma pet shop no centro da cidade. Já o Sérgio, meu caçula, trabalha no Centro de Zoonoses de Betim e também é professor universitário.
 
Paralelamente à vida de médico, o senhor também teve grande atuação política em Betim, não é?
É verdade. Quando cheguei a Betim, a cidade era muito simples, pouco desenvolvida. Atuei como médico no bairro Angola e em outras regiões do município. Via de perto as carências e as necessidades dos moradores, principalmente, os mais simples. Era difícil uma noite em que eu não era chamado para atender um paciente em casa, de madrugada. Entendi que seria importante atuar nos movimentos políticos para trazer melhorias para a cidade. Na década de 1980, fui secretário municipal de Saúde na gestão do prefeito Tarcísio Eustáquio Braga (de 1985 a 1988). Também fui candidato a vereador, na década de 1980 e, na primeira vez, não me elegi. Anos depois, na primeira gestão da ex-prefeita Maria do Carmo Lara (de 1993 a 1996), fui eleito vereador e, depois, não me reelegi. Decidi então não me candidatar mais.
 
Por quê? Decepcionou-se?
Não, eu tinha de fazer uma escolha: seguir a carreira pública e abandonar a medicina ou continuar a minha carreira médica. Decidi continuar sendo médico. Mas não larguei a política. Só decidi não me candidatar mais e ter um cargo público. Exercer um cargo assim exige muito tempo e dedicação e eu não queria largar a minha profissão. Mas sempre participei da política da cidade.
 
O senhor mora há muitos anos em Betim. O que mais o impressionou no desenvolvimento da cidade até hoje?
Betim cresceu muito rápido, principalmente, após a chegada da Fiat Automóveis, que foi uma coisa boa, porque movimentou a economia do município e gerou empregos. Escolhi morar aqui por ser uma cidade próxima a Belo Horizonte e ainda em desenvolvimento. Mas com o boom econômico, as diferenças sociais foram se acentuando e, hoje, a cidade tem um índice de criminalidade muito alto. E isso é uma coisa que me deixa muito chateado. Somos muito importantes economicamente para o Estado e sofremos com esses problemas. Claro que essa é uma realidade que atinge todo o Brasil, mas a violência aqui me incomoda muito. Gosto muito da cidade, tenho vários amigos e, todos os dias, conheço mais pessoas. Em Betim, existe essa proximidade de conhecer um ao outro, ter boas relações, uma coisa que me agrada muito.
 
O senhor fez parte do grupo de profissionais que fundou a Unimed Betim, na época, chamado Hospital Nossa Senhora do Carmo?
Sim, isso foi na década de 1980. Fomos começando aos poucos, dando um passo de cada vez. Era uma época de muito trabalho. Foi um momento muito importante para os médicos que atuavam aqui e para a população.
 
Além de médico, o senhor também é presidente da Missão Ramacrisna, não é?
Sim. Há muitos anos eu atuo na Missão Ramacrisna e, há dois anos, surgiu a necessidade de assumir a presidência da ONG. Tem sido uma experiência muito enriquecedora, já que tenho muito contato com os meninos que são atendidos lá e também com a comunidade. Acho que é muito importante trabalhar para mudar a realidade de outras pessoas. O trabalho voluntário sempre fez parte da minha vida, até porque sou membro da Maçonaria, que exerce atividades de caridade. Trata-se de uma corrente filosófica. Faço parte dela há muitos anos e, hoje, tenho o grau máximo dessa filosofia. São 33 graus ao todo e, para se elevar de grau, é preciso estudar os fundamentos maçônicos profundamente. Em 2008, atingi o grau máximo e, hoje, tenho o título de Grande Inspetor Geral da Maçonaria.
 
Mas continua clinicando?
Sim. Apenas diminuí o ritmo do trabalho. Aliás, isso é uma coisa que pretendo fazer cada vez mais para aproveitar a minha família e ter mais momentos de lazer.
 
O que costuma fazer nas horas vagas?
Gosto muito de música clássica. Sempre que posso, assisto aos espetáculos da Orquestra Filarmônica de Minas Gerais, no Palácio das Artes, em Belo Horizonte. Também gosto muito de viajar com a minha esposa pelo Brasil e para outros lugares do mundo. No ano passado, por exemplo, fui a Cuba para participar de um congresso e estiquei a viagem para conhecer um pouco mais do país. Também já fui à Espanha. Aliás, sempre participo de congressos e, com isso, uno o útil ao agradável. Também sempre temos nossos
encontros familiares em datas como o Dia das Mães, dos Pais, as festividades de fim de ano. Acho que é muito importante aproveitar o tempo para ficar com a família reunida, conversar, brincar com os netos. Também gosto muito de ler. Sou bastante eclético, tenho muitos livros de medicina e de vários outros estilos. Antes de você chegar para me entrevistar, por exemplo, eu estava lendo.
 
Gosta de algum esporte?
Gosto de acompanhar pela televisão, mas não sou de praticar. Quando mais novo, cheguei a jogar tênis, mas não prossegui.
 
O senhor é médico e demonstra ser uma pessoa muito religiosa e de fé. Isso é comum entre os médicos?
Sou espírita e acho que um grande erro que os médicos passaram a cometer com a evolução da ciência foi se esquecer da espiritualidade. O ser humano precisa dela para viver bem e para exercer todas as suas facetas. Isso não é diferente com a ciência. A fé é importante em todos os momentos da vida. Acredito que a medicina é uma grande missão, afinal de contas, nós lidamos com seres humanos. E para cumpri-la, não posso me esquecer de Deus, que é o criador de tudo.
 
Falando em missão, acredita que a sua já foi cumprida?
Não gosto dessa ideia de missão cumprida. Quando se fala assim, dá a entender que a pessoa está no fim da vida. Já realizei muitas coisas, trabalhei bastante e trabalho muito ainda. Mas não estou no fim da minha vida. Tenho muitas coisas para viver ainda. Não sou um homem que se acomoda diante das situações. Procuro sempre estar em atividade e, enquanto tiver força e saúde, vou continuar assim. A vida é dinâmica e quero aproveitar todas as oportunidades que tiver.



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