Em busca do sonho olímpico

Aline Dumont

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Criado em 12 de Fevereiro de 2014 Talento
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Aline Dumont conquistou o Campeonato Mundial de Judô no ano passado e, agora, quer defender o Brasil nas Olimpíadas de 2016
 
Renata Nunes
 
Ela treina três horas por dia, cinco vezes por semana, alternando atividades físicas e técnicas. Mesmo com tantos afazeres, Aline Dumont, 25, que concilia o judô com a vida de esposa, administradora de empresas e dona de casa, diz que ainda é pouco. A atleta quer se dedicar mais ao esporte, por isso, está em busca de patrocínio. O objetivo? As Olimpíadas de 2016, que serão realizadas no Rio de Janeiro. “Não quero ficar de fora dessa disputa, que será no meu país, por falta de patrocínio. Espero poder contar com uma grande empresa neste ano”, afirma a judoca.
 
Aline, que, atualmente, mora em Betim, considera o mercado esportivo na cidade e em Minas Gerais muito fechado. “Em São Paulo e no Rio de Janeiro, as empresas são muito mais abertas. Já a maioria das daqui não tem noção do quanto pode lucrar investindo em marketing esportivo”, explica. Foi por isso que, em 2012, ela decidiu ir para São Paulo treinar no Rio Preto Automóvel Clube, mas, antes disso, a judoca já deu muitos golpes em outros tatames.
 
Filha caçula, Aline descobriu o judô aos 13 anos, observando os irmãos praticarem o esporte. Ela conta que admirava as medalhas colecionadas por eles e que, quando decidiu praticar, os pais a impediram porque consideravam ser uma atividade masculina. “Queria ter começado antes, mas meus pais não deixavam. Na pré-adolescência, eu me inscrevi na aula de judô, no poliesportivo de Betim. Meu pai me perguntou se eu tinha feito inscrição para ginástica olímpica ou para o vôlei e levou um susto ao saber que eu ia começar a praticar judô. Ele não gostava muito, mas me deixava treinar. Eu tinha em mente que seria tão boa quanto meus irmãos, que acabaram
desistindo do esporte, e que chegaria muito mais longe”, afirma. E não deu outra. Aline foi além. Já no primeiro ano de treinos, venceu várias lutas que competiu e teve de subir rapidamente de faixa para participar de competições de alto nível.
 
 
Ascensão
O professor Antônio Carlos da Costa, da Academia Águia Branca, logo identificou o talento da garota e abriu as portas da academia, da qual é proprietário, para oferecer uma bolsa de treinos a ela. Aos 16 anos, Aline recebeu o convite para fazer parte da equipe juvenil do Minas Tênis Clube, de Belo Horizonte, onde permaneceu por sete anos e obteve vários títulos importantes.
 
A rotina de treinos era pesada. “No início, eu desmaiava no treinamento, com fome, porque não tinha condições de comprar um lanche. Costumo dizer que fui a menina que mais apanhou no judô. Cheguei ao Minas Tênis como atleta iniciante, e não como de alto rendimento. Era a única da categoria juvenil em uma equipe sênior. Minhas pernas ficavam cheias de hematomas. Eu ia para o vestiário e chorava. Ser atleta de alto rendimento não é fácil, causa danos e muitas dores. Falo para as meninas que estão iniciando
que o judô é um esporte no qual só permanece quem é realmente forte, quem aguenta apanhar, porque eu apanhei muito. Mas valeu a pena, pois foi lá no Minas Tênis que fui revelada para competições nacionais e internacionais”, conta.
 
A judoca faz treinos diários com, no mínimo, três horas de duração
 
A parada obrigatória
E as dificuldades que a atleta já enfrentou não param por aí. A maior barreira que a judoca venceu também foi nessa época. Devido aos treinos intensos e à carga horária pesada, Aline sofreu uma série de lesões nos dois joelhos e teve de passar por três cirurgias. As recuperações foram demoradas, a situação gerou desmotivação e até o pensamento de aposentar o kimono. A atleta foi obrigada a deixar os tatames para se recuperar intensivamente. “Nessa época, também decidi fazer administração de empresas para ocupar minha cabeça, pois fiquei psicologicamente abalada, pensando se conseguiria me recuperar e voltar ao esporte. Cheguei a cogitar deixar de ser atleta”, lembra. Durante dois anos e meio a judoca fez fisioterapia e treinamentos de fortalecimento muscular e deu a volta
por cima. Hoje, treina onde considera sua casa: os tatames da Academia Águia Branca, local onde começou a lutar.
 
Segundo o sensei Antônio Carlos da Costa, Aline é uma atleta disciplinada
 
Campeã mundial
Em novembro de 2013, Aline conquistou o Mundial de Judô, realizado em Fortaleza, no Ceará. Lá, ela competiu na categoria até 63 kg, representando a seleção brasileira. “Foi a disputa mais importante da minha carreira, mas fui sem patrocínio, apesar de ela ter o apoio da empresária Adriana Scarpelli e da Cia. de Dança Wanda Salomão. Dei o melhor de mim, pois precisava desses pontos do ranking para disputar as seletivas olímpicas”, revela.
 
Segundo o sensei Costa, professor de Aline, a atleta é disciplinada, mas revela que puxa a orelha dela quando é necessário. “Ela tem tudo para participar das Olimpíadas de 2016, basta manter essa determinação que vai chegar lá”, afirma.
 
Além de ter lhe rendido medalhas, o esporte também trouxe um amor, o marido, que, hoje, é seu treinador físico. Há três anos, Aline conheceu Alberto Santos Lucha em São Paulo, quando ela morava lá. Ele, que também é lutador profissional, só que de MMA, ajuda a esposa a não desistir de competir, mesmo sem patrocínio. “Às vezes, tiro do dinheiro que é destinado às minhas competições para pagar as despesas dela”, revela. E Aline reconhece o sacrifício do marido. “O Alberto me ajuda no controle incessante da alimentação,
ele me acorda cedo para correr antes do trabalho. Além de ser meu preparador físico, acaba sendo meu psicólogo e nunca me deixa desistir. Ele sonha com as Olimpíadas tanto quanto eu”, confidencia a judoca.
 
Foi através do judô que Aline conheceu seu marido, o lutador de MMA Alberto Santos Lucha/ Fotos: Érica Lopes/Mirar e divulgação
 
 

 




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