Fisiculturismo ganha força em Betim

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Criado em 11 de Setembro de 2015 Capa

Fotos: Augusto Martins | Arquivo Pessoal

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Definição muscular, equilíbrio mental e disciplina estão fazendo a cabeça – e o corpo – de muitos betinenses, que transformaram seu físico para competir e se tornaram fisiculturistas de destaque nos cenários estadual e nacional da modalidade
 
Daniele Marzano
 
PARA MUITOS, é algo feio de se ver, até mesmo assustador; para outros, no entanto, sobretudo para os adeptos, é a perfeição da forma física. Estamos falando dos corpos preparados para o fisiculturismo, ou bodybuilding, prática de definição dos músculos com fins competitivos. A modalidade vem se fortalecendo no Brasil e ganhando, cada vez mais, um número maior de competidores. Seus praticantes participam de competições realizadas em níveis até internacionais, sendo algumas delas prestigiadas por personalidades reconhecidas mundialmente, como é o caso do ator Arnold Schwarzenegger, uma lenda na história do fisiculturismo e cujo nome cedeu a um dos campeonatos mais importantes da atividade, o Arnold Class.
 

Ao Brasil, esse tipo de treinamento físico, sob um mais viés moderno, surgiu no século passado – a maioria dos registros históricos sinaliza os anos 1940. Em Betim, a prática ganhou notoriedade há somente quatro anos. Por aqui, quem iniciou a atividade de maneira mais efetiva foi o empresário, treinador físico e fisiculturista Cleber Paranhos, de 35 anos, que, depois disso, mudou completamente sua vida e também a de mais alguns atletas da cidade, os quais, hoje, se destacam em campeonatos estaduais e brasileiros, fortalecendo a modalidade na região. Cleber, com formação em teologia, conta que nunca havia pensado em se tornar profissional. “Eu e Mary (esposa e atleta há um ano) tínhamos o sonho de abrir um negócio próprio. Daí, decidimos abandonar nossos empregos – eu era metalúrgico e ela, vendedora – para montar uma loja de suplementos esportivos. E assim fizemos. Felizmente, a coisa deu certo e, sete anos depois, partimos para a segunda loja em Betim. O mais bacana de tudo é que, sem que soubéssemos, naquela época, já estávamos caminhando para o fisiculturismo e, consequentemente, para um novo tipo de vida”, relata.
 
E o ponto de partida para essa mudança radical, não só do físico, mas, sobretudo, do estilo de vida parece enredo de novela. “Era janeiro de 2011. Estávamos de férias numa praia do Espírito Santo e nos deparamos com um grupo de pessoas com o corpo sarado. Foi um choque. Eu e Mary sentimos muita vergonha por estarmos meio fora de forma e, principalmente, porque trabalhávamos no ramo de produtos esportivos. Portanto, tínhamos que ser exemplo. Então, fizemos um trato: assim que chegássemos a Betim, começaríamos uma dieta alimentar para emagrecer”, recorda-se o treinador. Pouco tempo depois, Cleber conheceu o preparador de atletas Sidney Nunes, o Bicudo, de Belo Horizonte, que foi apresentado pelo amigo e também atleta Frank Miguel. “Em três meses de treinamento com Sidney,
consegui obter um resultado excelente. E, com isso, meu objetivo inicial havia sido cumprido. Mas o que eu não poderia imaginar é que minha missão como treinador e atleta estava apenas começando. Isso porque, um dia, resolvi acompanhar Frank em um campeonato de fisiculturismo do qual iria participar e fiquei muito empolgado com o espetáculo que vi. Daí, Frank e Mary começaram a me incentivar a entrar para esse mundo. Eles diziam que eu tinha estrutura para competir. Resultado: três meses depois, participei do meu primeiro
campeonato. Fiquei na última colocação, mas motivado a voltar”, conta o treinador. Daí em diante, Cleber intensificou seu treinamento, que, da capital mineira, transferiu-se para Betim, mas sempre sob a orientação de Bicudo. “Passei a treinar com o foco de competir, e, depois, alguns amigos aderiram. Porém, percebi que a cidade não possuía um local com equipamentos e flexibilidade de horários que me atendesse para esse tipo de prática. Foi aí que pensei em montar um estúdio. Felizmente, como os planos de Deus eram maiores para mim, o projeto cresceu para uma academia, que instalamos no centro da cidade, em julho de 2012”, lembra.
 
E, mesmo focado nos negócios, Cleber seguia treinando. Tanto que, nesse mesmo ano, tornou-se campeão mineiro (em abril), na categoria Class 4 até 1,65 m, e top 4 no campeonato brasileiro, na mesma categoria. A coleção de títulos só estava no início. Pouco menos de um ano depois, em 2013, mais vitória à vista – na mesma categoria, Cleber foi bicampeão mineiro.
 
Se, no começo, Cleber não almejava títulos, anos depois, esse era o resultado que conseguia em cada desafio a que se propunha. O maior deles até hoje foi do primeiro campeonato internacional realizado no Brasil, ainda em 2013, após ele ter mudado de federação e também de categoria. Na etapa classificatória, que ocorreu em São Paulo, Paranhos ficou entre os três melhores entre 14 atletas, tendo sido classificado para o 1° Arnold Class ocorrido no país, em que ocupou a sétima posição, na nova categoria, a Sênior até 85 kg. Já em 2014, ele foi top 3 no campeonato mineiro, na categoria atual. “Mas o grande prêmio para mim não foi ficar bem-colocado. Competir com figuras lendárias do fisiculturismo, como Isaac Balbi, sem dúvida, foi minha maior conquista”, revela.
 
PARCERIA
Enquanto Cleber despontava nas competições de fisiculturismo, sua esposa, Mary Paranhos, 38, tomava conta dos negócios e, mesmo gerenciando as lojas de suplemento e a academia todos os dias, Mary não aderia à malhação, o que incomodava Cleber. “Como havia adotado um novo estilo de vida, que exigia disciplina e mudança de hábitos, seria legal Mary me acompanhar, não para ser atleta, mas, simplesmente, para ser uma parceria nos treinos e na alimentação, embora ela já seguisse uma dieta. “Eu ia a todas as competições, torcia por ele, ajudava em tudo e dava a maior força. Ele sempre falava comigo para mudar de vez meu corpo. Brincava dizendo que queria ter uma mulher sarada. Mas nem isso me fazia querer treinar. Não gostava de malhar. E não basta as pessoas quererem a sua mudança. Tem coisas que só você pode fazer por você. Assim, no inicio de 2014, me analisando em frente ao espelho, após ter emagrecido 14 kg sem atividade física, percebi a necessidade de mudança, quando dei início às atividades”, confessa Mary.
 
Nesse meio-tempo, muitas pessoas de Betim, homens e mulheres, passaram a procurar Cleber querendo ser treinadas por ele. Até que se formou uma equipe, a Paranhos Team. E, em meados de 2014, já dono de alguns títulos, Cleber percebeu que estava sem uma representante feminina na equipe para participar dos campeonatos. “Como eu adoro desafios, sugeri a ele me tornar essa representante”, conta Mary, que, em um ano, mudou sua vida com treinos e dietas e, em quatro meses, se preparou com foco em competir, tendo conquistado três títulos em 2015, ano de sua estreia como atleta. Em julho deste ano, na cidade de Juiz de Fora (MG), a empresária se tornou campeã do 1° Body Contest Brasil, na categoria Welness até 1,68 m; 20 dias depois, na mesma categoria, Mary foi vice-campeã mineira e top 3 na categoria Welness Master, no mesmo campeonato.
 
A parceria do casal é tão solidificada que os resultados positivos sobre o palco em que as competições se realizam trouxeram a eles prosperidade no trabalho. “Como consequência das conquistas no fisiculturismo, a procura pela orientação de Cleber aumentou, e nos sentimos motivados a abrir a terceira loja de suplementos – localizada no centro – e a segunda academia em Betim – no bairro Ingá Baixo. “Mas, embora sejamos fisiculturistas e treinemos pessoas para essa prática, nossas academias visam o resultado de todos, oferecendo diversas modalidades, não apenas o fisiculturismo. Usamos a experiência que temos de transformação para motivar as pessoas a alcançarem seus objetos”, explica Cleber, que hoje é também educador físico.
 
 
ENTENDA AS COMPETIÇÕES
As duas federações de maior destaque que organizam os campeonatos de fisiculturismo no Brasil são: a International Federation Bodybuilding (IFBB) e a National Amateur Body-Builder’s Association (Nabba), algo como Associação Nacional Amadora de Fisiculturistas. Desde 2013, o IFBB no Brasil sedia o evento internacional Arnold Class, com a presença do ator e um dos atletas mais admirados na história do fisiculturismo Arnold Schwarzenegger. Talvez por isso, o IFBB seja a federação de mais visibilidade no país, segundo os próprios atletas afirmam. Em competições de ambas as entidades, os homens se apresentam descalços e com sunga, e as mulheres, de biquíni e salto alto. O que basicamente diferencia as duas são as modalidades de cada e os quesitos de avaliação dos competidores. Enquanto a IFBB divide suas categorias por peso e idade, a Nabba o faz por altura e idade. Para serem avaliados, os atletas exibem poses em exposições individuais ou em grupo. Os quesitos julgados pelo júri são volume, simetria, proporção e definição muscular. Os julgamentos seguem quatro etapas, que se subdividem em diversas apresentações:
 
1 Quarto de Volta (Symmetry Round): apresentação em pé, semirrelaxada, de frente, de costas e laterais. Aqui, o atleta não deve posar.
 
2 Round das Poses (Muscularity Round): sete poses são executadas – de frente duplo bíceps, de frente expansão de dorsais, de lado peitoral, de costas duplo bíceps, de costas expansão de dorsais, de lado tríceps e de frente abdômen e coxa.
 
3 Posing Round: é o show individual, com música por 1 minuto e meio, sendo o momento de se apresentarem os pontos fortes e se esconderem os fracos. Ao fim desta etapa, o atleta terá sua nota definida.
 
4 Pose Down: apresentação livre de todos os atletas de uma mesma categoria. Dura de 30 a 60 segundos, e não há contagem de pontos.
 
O LEGADO
Além dos títulos e de um novo estilo de vida, Cleber e Mary conquistaram alguns amigos e parceiros de treinamento, que também se tornaram atletas e campeões. Um deles é o estudante de educação física Genildo Ribeiro dos Santos, de 31 anos, que, desde criança, quando vivia em Manuel Vitorino, no Estado da Bahia, sonhava pisar no palco de uma competição de fisiculturismo. “Eu queria tanto ficar forte que treinava com os amigos no fundo do quintal, com pesos improvisados, fabricados por nós mesmos”, conta Genildo, chamado pelos amigos de Tiko. Morando em Betim desde 2004, no bairro Laranjeiras, o atleta, que é casado, pratica o fisiculturismo há três anos e, embora quisesse realizar o sonho de ficar forte para poder participar das competições, buscou na atividade outros benefícios que ela oferece: disciplina, dedicação, perseverança e foco. “É uma prática que exige 100% da gente. É tudo ou nada”, revela Tiko, que já subiu ao palco para exibir a forma sete vezes, tendo se destacado em todos os campeonatos de que participou e se sagrado campeão mineiro neste ano, na categoria Class 3 até 1,72 m. “Nessa noite, fui o melhor de minha categoria e o melhor de todos, o chamado overall”, orgulha-se o atleta, que, também neste ano, foi top 3 no campeonato brasileiro, na mesma categoria, também em 2015.
 
“Foi a realização de um sonho estrear bem no brasileiro”, relata Tiko, que lamenta a falta de incentivo à prática. Por não ter conseguido patrocínio, o atleta não pôde participar do mundial de 2015, realizado na Itália, para o qual foi classificado. Contudo, ele não perde as esperanças. “Acredito que o fisiculturismo ainda será mais valorizado em nosso país, assim como ocorre em outros lugares, a exemplo dos Estados Unidos. Enquanto isso não acontece, sigo treinando e contribuindo com minha equipe para, no futuro, me tornar campeão brasileiro, sul-americano e até mundial”, pontua Tiko, que, carregando o título mineiro, já é motivo de muito orgulho para moradores
de sua cidade natal, segundo ele revela. Tiko finaliza a entrevista à reportagem reconhecendo o apoio de Cleber Paranhos e da Razão do Corpo, uma de suas patrocinadoras. “Sem o treinamento dele e a ajuda da academia, a realização desse meu sonho não seria possível”.
 
Outro integrante da equipe Paranhos é Uarlei Diniz Lana, o Tuta. Aos 28 anos e treinando há um, focado em seu objetivo de competir, ele já obteve o primeiro lugar do campeonato mineiro, na categoria Class 2 até 1,79 m, realizado em abril de 2015. “Já conhecia o Cleber e a Mary há muitos anos, quando comprava suplementos na loja deles. Na época, eu já frequentava academia, pois sempre gostei de treinar pesado. No fundo, sonhava poder viver aquele momento mágico que é subir ao palco e participar de uma competição de fisiculturismo. Até que, um certo dia, os dois me convidaram para treinar com eles, e eu fui. Isso faz mais ou menos um ano”, conta
Tuta, cuja maior dificuldade já enfrentada, conforme ele diz, é conseguir se preparar para o campeonato, já que os gastos são altos e não há muito incentivo à modalidade. Por outro lado, muitos frutos positivos ele já colheu depois que se tornou fisiculturista, como disciplina e foco, atributos que acabou adotando em sua rotina diária. “Independentemente de nossas condições financeiras, se temos uma meta, devemos lutar até o fim para alcançá-la. É assim que levo minha vida. Não vejo obstáculos pela frente, apenas motivação e humildade sempre”, declara Tuta.

MULHERES NO PÓDIO
E quem pensa que as competições de fisiculturismo atraem mais homens do que mulheres está enganado. Em Betim, além de Mary Paranhos, pelo menos duas outras atletas vêm se destacando e ocupando as primeiras colocações em campeonatos da modalidade. A jovem Brenda Moreira, de apenas 18 anos, é um exemplo. Moradora do bairro Betim Industrial, ela malha desde os 16, mas foi aos 17 sua estreia em campeonatos de fisiculturismo. Todavia, o destaque veio neste ano, quando ela foi top 3 no campeonato mineiro, na categoria Biquíni Fitness até 1,68 m. “Já havia feito de tudo, futebol, futsal, vôlei, basquete, muai-thay, mas me apaixonei pela musculação e pelo estilo de vida saudável que o fisiculturismo requer de nós, atletas. Quem decide seguir com essa prática já sabe que ela demanda gastos altos – com inscrições, anuidade, roupas e calçados, tinta para o corpo e custos de viagens – e não oferece grandes premiações – geralmente, ganhamos suplementos e o troféu, mas, para nós, isso não é o mais relevante. O esporte oferece
a satisfação interna e alimenta nossos sonhos, nos proporcionando a superação a cada dia”, confessa Brenda, que, depois de dois anos de treinamento, acredita estar mais preparada para enfrentar os desafios da vida. “A vaidade do fisiculturista não está apenas por fora, mas, principalmente, por dentro. A atividade, com certeza, ajudou a elevar minha confiança e minha autoestima. Enfim, o fisiculturismo é essencial em minha vida. Ele me faz feliz, e é isso o que importa”, afirma.

Outra fisiculturista de Betim que já coleciona títulos é a personal trainer Ludmila Marcil, de 33 anos. Ela treina há mais de dez anos, mas pratica a atividade há pouco mais de um, tendo se tornado vice-campeã Bodyfitness até 1,63 m no brasileiro de 2015. Ainda neste ano, havia sido campeã Bodyfitness e Overall (“a melhor de todas” da categoria) no mineiro. Ludmila se diz tão apaixonada pelo que faz que não vê as dificuldades impostas pela prática, nem mesmo o preconceito que existe, sobretudo em relação às mulheres. “Quando fazemos o que gostamos, com amor e dedicação, tudo se torna prazeroso”, declara a personal, que se prepara agora para representar Betim e o Brasil no mundial, a ser realizado na Hungria, em novembro próximo. O vice-campeonato brasileiro, conquistado neste ano, é que lhe garantiu essa vaga. Outra vitória que a atleta almeja é a abertura de uma academia no município. “Devo começar essa nova empreitada em novembro próximo. O local já está reservado, fica no Brasileia, perto da prefeitura”, informa a futura empresária.
 
DIETA RESTRITA
Além da dedicação em relação aos treinos que o fisiculturismo exige, muito importante também é a alimentação dos atletas. A dieta, segundo eles, deve ser seguida à risca, pois é ela que os auxilia na perda de gordura e na definição muscular. As refeições, de seis a oito por dia, são à base de proteína, carboidrato e gorduras boas, livres de açúcares e gorduras ruins. “Comemos muito frango e clara de ovo, fontes de proteína, e evitamos frituras e doces”, conta Ludmila.
 
Cleber Paranhos explica que, quando os atletas estão no chamado período off, após os campeonatos, a dieta é mais aberta, podendo haver o “dia do lixo” uma vez por semana, em que se pode comer de tudo ou, para alguns, apenas uma refeição livre no dia. Nesse período, eles ficam com um percentual de gordura corporal que varia de 8% a 12%. Já na fase anterior às competições, entre três e quatro meses antes, eles iniciam uma dieta fechada, sendo que, no dia do campeonato, até mesmo a água é cortada, para se evitar a retenção de líquidos no organismo. Além disso, eles nutrem o corpo com suplementação, sais minerais e polivitamínicos. No dia das competições, já preparados, os fisiculturistas contam chegar ao percentual de 3% de gordura para subirem ao palco.
 
POLÊMICA
Sobre o uso de anabolizantes, todos os atletas são categóricos em afirmar que se trata de um assunto delicado. “É um tema muito relativo e polêmico. Os meus resultados são frutos de minha dedicação diária com dieta e treinamentos intensos há dois anos, e não dois meses. Não faço apologia ao uso de anabolizantes para resultados rápidos, pois sei o quanto me esforço diariamente, e é isso que tento mostrar para as pessoas. Seus resultados são reflexos de sua dedicação”, afirma Brenda. “É importante haver sempre um acompanhamento profissional de um especialista, seja nutrólogo, seja endocrinologista”, acrescenta Cleber.

 




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