Folia nos acordes das guitarras

Tema do bloco de rock da capital neste ano foi uma homenagem ao vocalista e baixista Lemmy Kilmister, líder da banda inglesa Motörhead e que faleceu em dezembro passado

Criado em 04 de Abril de 2016 Cultura

Como uma alternativa de diversão para quem não curte as músicas tradicionais do Carnaval e ama rock’n’roll, o movimento reúne desde 2012, no Barro Preto, milhares de pessoas

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Julia Ruiz

É SÁBADO PRÉ-CARNAVAL, e uma multidão trajada essencialmente de preto se reúne na avenida Augusto de Lima, no cruzamento com a rua Ouro Preto, no coração de Belo Horizonte. O objetivo, consonante com um dos feriados mais aguardados pelos brasilei­ros, é “ir atrás do bloco” – um bloco fixo, no caso –, curtir o som e se divertir. Mas com al­gumas diferenças: em vez de pandeiros, sur­dos, repiques, banjos e cavaquinhos – ins­trumentos típicos do samba –, quem dá o ritmo da festa são guitarras, baixos, baterias e grandes vocais. Tudo em alto e bom som. É o rock’n’roll, em suas diversas roupagens, que puxa os foliões, compostos, basicamen­te, por roqueiros, adoradores do estilo ou headbangers / metalheads – denominação para fãs de heavy metal e suas variações. Seja bem-vindo ao Bloco dos Camisa Preta, que, desde 2012, leva milhares de pessoas ao tradicional Barro Preto!

Foi em um churrasco, justamente no Carnaval, em 2011, que o empresário Rodrigo Cunha, reunido com amigos no Stonehenge Rock Bar – estabelecimento que administra –, se perguntou por que o local não estava aberto nesse período festivo. “Nós nos questionamos e perce­bemos que seria uma ótima oportunidade para fazermos uma espécie de manifesto musical a favor do rock’n’roll e da música feita em Minas Gerais. A conversa fluiu, e tivemos a ideia de criar um bloco em um ponto fixo na rua, com acesso gratuito, para mostrarmos a força de um movimen­to que até então ficava trancado nos pubs e nos bares da cidade”.

Assim, nascia o projeto do Bloco dos Ca­misa Preta – “afinal, nós, roqueiros, amamos uma camisa preta, não é verdade?”, brinca Cunha, explicando que a primeira edição, em 2012, contou com todo o suporte finan­ceiro e administrativo do Stonehenge Rock Bar. “Assumimos também a parte técnica, para conseguir que o evento fosse realizado na rua, e as bandas participantes ficaram por conta de toda a parte musical”.

A música, principal atração da festa, fica, desde então, a cargo de bandas já consoli­dadas no cenário do rock não só na capital, mas em todo o Estado. Grande parte delas, inclusive, é bem conhecida pelo público belo-horizontino, fazendo apresentações constantes no próprio Stonehenge. Ao todo, 26 bandas, a maioria cover de gran­des nomes da música, já passaram pelo bloco – várias delas mais de uma vez. “O evento prioriza apresentações musicais do rock autoral em Minas Gerais, bem como o rock’n’roll dos anos 60 e 70. A ideia é levar o que acontece dentro do bar para a rua, chamando a atenção para a rica produção musical que temos historicamente em nos­so Estado”, ressalta Rodrigo Cunha.

TRIBUTO

O tema da edição 2016 do Bloco dos Ca­misa Preta resultou de um infeliz aconteci­mento no mundo da música. É que, no dia 28 de dezembro passado, o líder da banda inglesa Motörhead, o vocalista e baixista Lemmy Kilmister, faleceu em decorrência de problemas de saúde, apenas quatro dias depois de completar 70 anos. A morte de um dos maiores ícones do heavy metal dei­xou milhões de fãs em todo o mundo de luto. A situação não passou despercebida pelos organizadores do bloco, que home­nagearam a obra do artista por meio da reu­nião de músicos conhecidos no rock local.

Além do tributo a Kilmister, a novi­dade da edição 2016 foi a banda Tuatha de Danann, de Varginha. “Ela já tem uma carreira internacional reconhecida e um público fiel, muito apaixonado pelo tra­balho. Sem dúvida, agregou muito”, avalia Cunha. Também comandaram a festa as bandas Seu Madruga, Rocks Off, Mentol, Somba, Cartoon, Cálix e Concreto.

 Rocks Off foi a primeira banda a se apresentar para o público do Bloco dos Camiseta Preta, no sábado de pré-Carnaval da capital mineira

SEM ‘BANDEIRISMOS’

Com um público médio de 8.000 pes­soas por edição, o Bloco dos Camisa Preta não tem a pretensão de eleger perfis. “É um movimento musical, as pessoas vão em busca de um dia agradável e divertido. Acho muito difícil alguém conhecer o blo­co e não gostar do que está acontecendo. O rock é contagiante, sem preconceitos e sem bandeiras. Afirmo, portanto, que as pessoas que não gostam desse estilo e co­nhecem o evento saem amantes do rock”, destaca o organizador.

Quando questionado sobre o cenário do rock’n’roll na capital mineira e sobre o estilo “estar na moda”, Rodrigo Cunha volta a ressaltar a inexistência de bandei­rismo. “BH é riquíssima quando o assun­to é rock’n’roll, tanto pelas bandas que representam esse tipo de som na cidade, quanto pelo público. Falar de cenário é muito complicado porque as pessoas en­tendem como bandeirismo. E isso não leva ninguém a lugar algum. Rock sempre foi moda, rock é atemporal. Mas se criou isso em Belo Horizonte mesmo: existem públi­cos X, Y e Z. Eu acho tudo uma besteira, o rock é para todos – branco, preto, amarelo, azul, vermelho, com dinheiro, sem dinhei­ro, estando ou não em voga”, pontua ele, que diz ouvir o estilo da hora que acorda até quando vai dormir. “Não toco ou canto nada, mas, quando não escuto, estou traba­lhando com o rock”, diz.

PÚBLICO FIEL

Assim como o próprio estilo que abra­ça, o Bloco dos Camisa Preta já tem seu público fiel. O evento faz a alegria dos ro­queiros, que se veem sem muitas opções em um período que, tradicionalmente, explora outros ritmos musicais. É o caso da estudante Juliana Macedo, 26 anos. “Em todo Carnaval, era uma dificuldade enorme porque parte dos amigos queria festividades tradicionais, e parte ficava sem saber o que fazer, pois não curte sam­ba, pagode ou axé. Quando soubemos do bloco, não pensamos duas vezes e fomos. Foi sensacional. Vou há três anos e conti­nuarei indo”, garante Juliana.

O administrador Igor Freitas, 32, até tentava encarar estilos dos quais não é adepto, tudo para tentar se divertir com o grupo de amigos. “Já fui a bloquinhos e a shows, já viajei para cidades históricas e para o Nordeste, mas sempre acabava frustrado e louco de vontade de ouvir rock’n’roll! Quando descobri o Bloco dos Camisa Preta, foi um alívio para mim e para alguns amigos, pois temos essa curti­ção, sempre regada à trilha que amamos, o que torna tudo perfeito”.




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