Jovem talento

Entrevista - Ednard Barbosa de Almeida

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Criado em 12 de Novembro de 2013 Conversa Refinada
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Com apenas 30 anos, ele se tornou o mais jovem secretário municipal da história de Betim, uma conquista fruto de muita dedicação, foco e disciplina. Nascido em Belo Horizonte, mas com coração betinense, ele é calmo, racional e ativista ambiental por profissão e vocação. Esse é o perfil discreto de Ednard Barbosa de Almeida, atual chefe da pasta de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável da cidade
 
Viviane Rocha
 
REVISTA MAIS – Fale-nos um pouco sobre a sua família.
 
Ednard Barbosa – Meus pais vieram do interior. Somos eu e mais uma irmã de 27 anos, que é pedagoga e trabalha em uma escola privada do município. Meu pai é taxista em Belo Horizonte e minha mãe é dona de casa. São pessoas de origem humilde, que se mudaram para a capital, cidade onde nasci. Chegamos a Betim em 1992.
 
Qual foi sua trajetória antes se tornar secretário?
É uma trajetória bem peculiar e de que tenho muito orgulho. Entrei na prefeitura, em 2000, como estagiário de ensino médio, trabalhando na Secretaria de Planejamento, junto com a Cleide Pedrosa. No ano seguinte, atuei na iniciativa privada e, em 2002, retornei para a prefeitura, já como estagiário de direito, também com a Cleide, aqui na Secretaria de Meio Ambiente. Formei-me em 2006 na PUC Betim e trabalhei no governo até 2008. Em 2007, passei no meu primeiro exame da OAB e, na segunda fase da prova, tirei a nota total na área de direito administrativo. Quando o mandato o prefeito Carlaile Pedrosa acabou, tornei-me assessor do o ex-vereador e atual vice-prefeito e secretário adjunto de Educação Infantil, Waldir Teixeira. Nesse período, fiz minha pós-graduação em direito ambiental contemporâneo. De 2010 a 2012, fiz um curso técnico em controle ambiental no IFMG (Instituto Federal de Minas Gerais) e continuei atuando como assessor do Waldir.
 
Como surgiu o convite para assumir a pasta de Meio Ambiente?
Quando Carlaile assumiu o mandato, no início deste ano, também assumi um cargo como assessor jurídico da secretaria. Depois disso, foi feito um convite para mim e, concomitantemente, ao Waldir Teixeira, para ele assumir a Secretaria Municipal de Educação Infantil e eu, a Secretaria de Meio Ambiente. Nossas nomeações aconteceram no mesmo evento. Logicamente, o prefeito avaliou o meu currículo como advogado e meu histórico junto à secretaria. Acredito que essa trajetória contribuiu para que eu esteja aqui hoje.
 
Como surgiu a paixão pelo meio ambiente?
Acredito que essa paixão pela área ambiental foi embutida por meio da educação ambiental que tive no Sesi Benjamin Guimarães, em Contagem. Por isso, estamos formatando aqui na secretaria o Plano Municipal de Educação Ambiental, que prevê o Centro de Educação Ambiental. Sou um exemplo de que essa conscientização trabalhada nas crianças é internalizada por elas e vai repercutir na formação de suas personalidades. Penso que sou uma pessoa privilegiada, pois, durante a minha passagem pelo Sesi, consegui internalizar isso. Lembro-me de que, quando criança, já fazia redações com o tema meio ambiente. Nas aulas de educação artística, gostava de desenhar montanhas. Gosto muito da paisagem típica de Minas Gerais. Sou apaixonado pelo nosso Estado.
 
Paralelamente aos estudos, você chegou a trabalhar como ativista ambiental?
Lecionei na área de meio ambiente o tema “direito ambiental”, em Betim, quando tinha 25 anos. Tinha acabado de me formar e surgiu esse convite para dar aulas. Era um público muito diversificado. Havia estudantes do ensino médio e pessoas acima de 50 anos na sala de aula. Inclusive, fiquei amigo de alguns deles. Depois, junto a alguns alunos, participei da fundação de uma organização não governamental (ONG) na área ambiental. Ela era direcionada para catadores de papel, cujo objetivo era propor políticas públicas para a área, mas, em função da minha agenda de trabalho como assessor do então vereador Waldir Teixeira, tive de sair da presidência da ONG. Na realidade, estou na Secretaria de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável desde a época em que eu fazia estágio. Por isso, apesar da pouca idade, sempre estive envolvido com essas questões ambientais.
 
Você é o secretário mais jovem desta gestão e um dos mais jovens secretários da história de Betim. Como é encarar esse desafio?
Já ouvi falar, sim, que sou um dos secretários mais novos da história da cidade, mas não vejo diferença alguma na questão da idade.
 
Foto: Elvis de Paula/Divulgação
 
Por quê? Considera-se mais maduro do que outras pessoas da sua idade?
Não, mas percebo que muitas das minhas amizades são com pessoas mais velhas. Brinco que nasci na geração errada. Minha mentalidade foi moldada pela maneira como os meus pais me educaram. Sempre fui muito responsável, focado nos estudos, preocupado em ter boas notas. Tenho 31 anos de vida e 19 de estudos. Acho que o rigor e a disciplina são traços da minha personalidade e da criação que tive dos meus pais. Só tenho de agradecer a eles. Uma coisa que tenho é foco. Quando criança, dizia que seria um advogado e aqui estou. Tracei uma meta e consegui cumprir.
 
Como relaxa, se diverte, diante de tantas responsabilidades?
Gosto muito de cinema. Não tenho paciência para lugares barulhentos. Outro dia, fui ao aniversário de um amigo, em uma casa de shows. No dia seguinte, estava de ‘ressaca’ por conta do barulho do local. Gosto de ir ao teatro também. Distraio-me e me divirto quando viajo para cidades históricas, quando posso admirar paisagens naturais e tomar banho de cachoeira. Geralmente, gosto de ficar quieto e aproveitar a convivência em família.
 
Então, a poluição sonora é uma coisa que o incomoda. Considera-se um “eco-chato”?
Em uma viagem, eu estava com amigos no carro e, quando passamos em um viaduto, um deles reparou a quantidade de lixo debaixo do local. Um deles me perguntou se eu não ficava incomodado quando via aquilo. Então, respondi o seguinte: trabalho na Secretaria de Meio Ambiente, de 12 a 14 horas por dia. Não saio de casa para ser aquela pessoa ‘biodesagradável’.
 
O que pensa a respeito?
Minha ideologia na área ambiental é de que a cidade cresça economicamente com consciência ambiental e ação social. Queremos o desenvolvimento industrial e, ao mesmo tempo, mitigar os impactos negativos disso. Certa vez, fui fazer uma entrevista em uma empresa privada e ouvi o seguinte: “Aqui não temos o costume de ficar defendendo árvores”. Na mesma hora respondi: “Não defendo árvores, nem empresários. Meu compromisso é que a cidade se desenvolva, mas sem deixar de lado a preocupação com o meio ambiente”. Minha fala foi uma maneira de provocar a reflexão nas pessoas. Depende do estilo de vida e cada um tem o seu. Cada pessoa tem de pensar: qual o tipo de ambiente em que você gostaria de estar inserido? É poluído? Então, ótimo, gaste água à vontade. Mas, se você quer ter água em grande quantidade daqui a 30 anos, use-a hoje com consciência para que isso aconteça. É como fazer uma conversão no trânsito, você tem de pensar no outro. Deve ser assim em todas as áreas da vida.
 
É sempre uma pessoa serena?
Acho que sim. Sou uma pessoa que olha tudo de maneira positiva. Sempre busco coisas boas, mesmo nos acontecimentos ruins. É uma postura na vida.
 
Pratica esporte?
Nenhum. Meu esporte são os aplicativos de jogos no celular, principalmente, os de corrida e futebol. Faço competições com outros usuários online. Meu maior ‘esporte’ é apreciar automóveis.
 
Vai a corridas na vida real, o kart, por exemplo?
Não, só no mundo virtual mesmo. Gosto muito de tecnologia, mas não entendo muito do assunto. Vontade não falta, mas fica difícil conciliar com a agenda.
 
Torce para qual time?
Atlético Mineiro. A família do meu pai, que tem descendência italiana, deveria torcer para o Cruzeiro, mas tem uma maioria de atleticanos. Minha avó era fanática pelo “Galo”. Quando eu era criança, ia muito ao estádio. Tenho lembranças, na minha adolescência, de quando eu ia visitar o antigo Centro de Treinamento do Atlético, na região da Pampulha. Tenho até foto com o goleiro Taffarel. Como tinha dois tios cruzeirenses fanáticos e meu pai sempre vivia chorando e sofrendo por causa do time, optei por ser um torcedor mais racional. Mas acompanho os jogos e, inclusive, fiquei muito feliz com a conquista da Taça Libertadores.
 
Gosta de qual estilo de música?
Aprecio o som das bandas Coldplay, U2 e do cantor John Mayer. Mas também gosto de outros estilos, como o dos cantores Andrea Bocelli e Flávio Venturini.
 
Foto: Eudes Estevão/ Divulgação
 
Você falou da paixão por cidades históricas. Para quais outros lugares gosta de viajar?
Fui à praia, recentemente, mas a minha viagem dos sonhos é ir para Tiradentes, ficar em uma pousada bacana, tranquila e com jardim. Como disse, gosto muito de cidades históricas. Em breve, pretendo conhecer Paraty, no Rio de Janeiro. Além de se localizar no litoral, lá é uma cidade histórica.
 
Muitos sonhos?
Estar na Secretaria de Meio Ambiente já é a realização de um grande sonho. Era uma meta que eu tinha. Trabalhei e estudei para isso. Fiz a minha parte e Deus veio com sua mão e me ajudou. Mas também sonho em ver Betim com uma gestão ambiental sempre avançando. E, um dia, construir uma família sólida, como meus pais fizeram. Outro sonho, não sei se por causa da descendência italiana, é encontrar um hotel de frente para o Coliseu e ficar apreciando a paisagem.
 
Acompanhado?
É preciso ter companhia, naturalmente. Boas companhias são bem-vindas.
 
Com a namorada?
Claro!
 
Está namorando?
Estou casado... com o meu trabalho.
 
Tem amigos da sua idade?
Sim, mas a maioria com o mesmo perfil que o meu. São pessoas focadas. Um exemplo é a minha assessora jurídica. Ela foi minha estagiária e é uma grande amiga. Outro grande amigo é um primo que tem a mesma idade que eu. Apesar de darmos muito certo, ele é o meu oposto... Digo isso porque ele é bem alto.
 
Quais são seus defeitos?
Não sei. Talvez o meu jeito “certinho” seja um defeito para outras pessoas. Bom, hoje sou secretário de Meio Ambiente de Betim, a segunda cidade mais importante do Estado, e o fato de eu ser focado e dedicado me permitiu viver isso com apenas 30 anos. Mas também tem o fato de eu não consumir carne, o que, para muitos, pode ser um defeito.
 
Então, você vegetariano?
Sim e adoro queijo. Não mexam no meu queijo!
 
Quando você decidiu parar de consumir carne?
Há aproximadamente cinco anos. Nunca gostei do sabor da carne e, hoje, isso também está associado à consciência ambiental. Minha professora de direito dos animais, Edna Cardoso Dias, é referência nacional no assunto. Ela nos passou vídeos, orientou sobre o tema. O processo de ‘fabricação’ é uma crueldade sem tamanho. No dia em que vi um determinado vídeo na internet sobre isso, tive certeza de que essa era decisão certa a ser tomada. Fui diminuindo a carne aos poucos e, hoje, não consumo mais.
 
Qual seu prato predileto?
Qualquer massa, com muito queijo. Mas meus pratos preferidos são fetuccini aos quatro queijos ou uma lasanha de legumes.

 




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