Lar doce laborar

Modelo de trabalho home office teve um crescimento mundial de 35% nos últimos dois anos e vem se firmando como tendência – e realidade – de mercado. Bem-estar e flexibilidade aparecem como as principais vantagens.

Criado em 19 de Dezembro de 2019 Comportamento
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Iêva Tatiana

A tecnologia tem levado o mercado de trabalho a novos patamares, muitas vezes ousados e bastante incrementados – se pensarmos nos robôs e na inteligência artificial, por exemplo –, mas ela também vem trazendo mudanças que despontam como forte tendência no Brasil e no mundo. É o caso do home office (escritório em casa, na tradução literal), possível graças à internet e às ferramentas de comunicação online.

De 2017 para 2018, o número de instituições globais que aderiram a esse formato de mobilidade aumentou 35%, de acordo com um levantamento da Hays, líder mundial em recrutamento e seleção especializados para a média e a alta gerências. Em território brasileiro, uma pesquisa realizada pela Convenia e pela Ahgora – companhias de recursos humanos tecnológicos –, entre 15 de junho e 15 de agosto deste ano, mostrou que um em cada três brasileiros ouvidos já atua nessa modalidade. Entre os que ainda não tiveram a oportunidade, 59% responderam que gostariam de trabalhar remotamente.

A implementação desse modelo, contudo, ainda é gradual no país. Na maior parte das empresas, o office se sobressai ao home, e os funcionários precisam ir até as corporações de uma a três vezes por semana, pelo menos, conforme apontado pela pesquisa.

A publicitária Nathália Araújo, de 27 anos, vive a primeira experiência de trabalhar em uma empresa de modelo misto há aproximadamente um ano. Nas segundas e nas sextas-feiras, ela precisa se reunir com a equipe pessoalmente para definir pautas e resolver pendências; nos outros dias, o trabalho é todo feito de casa. “A adaptação foi difícil no começo, mas hoje já consigo me organizar melhor”, diz ela, referindo-se à disciplina necessária no formato alternativo.

Segundo a publicitária, não precisar percorrer diariamente os cerca de 10 km existentes entre os endereços residencial e profissional, estressando-se com o trânsito e com o transporte público, é um dos aspectos mais positivos do serviço remoto. “Outra vantagem é poder organizar meu próprio horário. Consigo trabalhar, me dedicar a outros projetos, praticar meus hobbies e aproveitar o dia. Além disso, consigo resolver mais coisas do que se estivesse trancada em um escritório”, afirma.

Por outro lado, Nathália confessa que se sente um pouco solitária, às vezes, em função da falta de convívio diário com os colegas. Para sanar essa carência, ela costuma recorrer a outra tendência de mercado, o coworking (espaço de trabalho compartilhado).

Meio-termo

O levantamento da Convenia e da Ahgora revelou que 67,8% das empresas consultadas exigem que os funcionários frequentem o escritório todas as semanas, enquanto uma minoria (7,5%) permite o home office como exceção, nos casos em que o deslocamento até o local de trabalho é comprometido por alguma razão.

Para quem tem dúvidas sobre a produtividade de quem trabalha de casa, a pesquisa também mostrou que apenas 3,5% dos empregados ouvidos identificaram um rendimento abaixo da média no modelo remoto.

A jornalista Giselle Vieira, de 25 anos, reconhece que, para algumas pessoas, pode ser realmente difícil manter o foco longe do ambiente convencional de trabalho, mas ela garante que tira de letra. “Minha experiência é maravilhosa. Eu vejo que tenho me desenvolvido muito bem nessa dinâmica e, depois de passar por lugares que eram muito tradicionais, só tenho elogios à empresa por oferecer essa oportunidade”, diz ela, que, atualmente, trabalha em uma startup.

No caso da empresa em que Giselle atua, a mobilidade é previamente negociada com os supervisores e, geralmente, é autorizada duas ou três vezes na semana. Quando não vai para o escritório, ela tem a liberdade de cumprir a jornada diária de oito horas da maneira que achar melhor. “Às vezes, levanto às 7h, tomo meu café, troco de roupa – ou não, porque no inverno posso continuar de pijama – e já começo a trabalhar. Aí, às 16h, já acabei. Ou então começo às 11h e, antes, vou para a academia ou para uma consulta médica. Essa é uma coisa muito boa do home office”, afirma a jornalista.

Na prática

À medida que o trabalho remoto vai se consolidando no Brasil, as empresas vão definindo quem, como e em que contexto os funcionários podem trabalhar de casa. Segundo a Convenia e a Ahgora, a modalidade passou a ser regulamentada pela reforma trabalhista. “A principal alteração para colaboradores contratados exclusivamente nesse regime é o sistema de remuneração. Em vez de ser compensado pelo horário, o trabalho tem o pagamento referente às tarefas executadas no período acordado”, informaram as empresas.

Sobre a infraestrutura necessária para a execução do trabalho ainda não há uma determinação legal. O acordo é firmado contratualmente entre as partes e pode incluir o fornecimento de computadores, planos de internet e até cadeiras ergonômicas.

Outro ponto estabelecido pelas empresas para que o home office seja funcional são as regras. Grande parte delas determina um horário de reunião e a entrega de relatórios das atividades realizadas à distância pelos funcionários, além do estabelecimento de metas semanais e mensais, conforme apontado pela pesquisa.

“O mercado está indo mais por este caminho, de prezar pelo bem-estar do empregado e, consequentemente, ter bons resultados e lucro, que é o que toda empresa quer. Acho que é uma tendência muito boa. Nas startups, isso já é realidade há um bom tempo”, avalia Giselle

A publicitária Nathália concorda e ressalta que o zelo pela qualidade de vida tem motivado, cada vez mais, a busca e a oferta de trabalho remoto, a fim de evitar o cansaço e o estresse, inimigos da produtividade. “Tenho muitos amigos que trabalham em home office, e até minha mãe, administradora de empresas há mais de 20 anos, hoje trabalha de casa. Assim, podemos ficar mais com a família, nos dedicar a outras coisas e ter uma vida fora do escritório”, conclui.




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