Merecedor, eu?

A famosa pergunta de um dos contos de fadas mais lidos em todo o mundo parece invertida para quem sabota a própria felicidade. O medo de assumir responsabilidades somado à baixa autoestima faz com que muitas pessoas deixem de realizar planos por simplesme

Criado em 11 de Maio de 2017 Comportamento
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Você certamente tem alguém próximo que não se arrisca ou simplesmente se sabota para não confrontar a realidade. Seja na postergação da dieta necessária, seja no envolvimento em relacionamentos destrutivos, ou na idealização de projetos que não vão pra frente. Os motivos? Medo de assumir responsabilidades, de fracassar e de que alguma mudança abale a aparente estabilidade em sua vida.

Para a psicóloga, especialista em desenvolvimento humano e organizacional, programação neurolinguística, neurociência e reprogramação mental Jussara Prado, 32 anos, a autossabotagem atua como um mecanismo de proteção. “Ela é um padrão mental, cuja estrutura é infantil e primitiva. Em relação a essa estrutura, podemos pensar em três diferentes áreas: a da saúde, a financeira e a das relações afetivas – e, dependendo de como esse autoboicote acontece, ele afeta uma delas”, explica. “Quem se sabota anseia por viver sem grandes responsabilidades ou obrigações, buscando incessantemente a proteção de sua identidade. Ou seja: o indivíduo não se arrisca em novos planos e tende a repetir suas ações. Em uma linguagem popular, quem pratica o autoboicote entra e se mantém na famosa zona de conforto”, alerta.

O auxiliar administrativo Maynard Pereira Barbosa Prado, 21 anos, conta que hoje tem consciência de que se sabota, mas que nem sempre foi assim. “Eu começo uma dieta, mas fujo dela e como escondido (até de mim mesmo). Cheguei a pagar três meses de academia e simplesmente nunca fui – porque sempre tenho planos melhores e prioridades para o dia dos exercícios. Quando mais novo, eu não compreendia a dimensão e os desdobramentos dessas atitudes. Hoje, consigo refletir. Mudar, entretanto, é difícil, pois no momento que utilizo uma desculpa para não cumprir um compromisso (que muitas vezes assumi comigo mesmo), ela me parece coerente. Depois, quando passa o tempo e já me apropriei dela, percebo que foi apenas cômodo”, afirma. “Algo que me incomoda muito é que quero investir em meus estudos, mas, quando começo a estudar (ou mesmo antes), sempre ‘aparece’ outra prioridade”, confessa.

Maynard ressalta que, muitas vezes, os planos de vida ficam somente na imaginação. “Sempre gostei de planejar, e quase sempre a imaginação me pareceu realidade. Era como se eu tivesse realizado, mas somente em minha cabeça. É que, quando começo a pensar em como colocar em prática, arrumo desculpas sobre as dificuldades em executar, e o não fazer torna-se cômodo. Mas tenho que mudar isso, pois estou atrasando o modo de vida que desejo ter”, afirma.

Segundo especialistas, quanto mais baixa a autoestima da pessoa, maior pode ser o nível de autossabotagem. “Isso porque muitos têm a crença do não merecimento, que, às vezes, nasceu em nós quando ainda éramos crianças. Quando somos pequenos, tudo que ouvimos vira uma verdade, e ela pode nos acompanhar por anos. Quando uma criança não recebe o amor que acha que precisa, por exemplo, pode crescer acreditando que não merece ser amada. Outro exemplo é quando algum adulto repete que uma criança é desastrada – esse menino, ou menina, pode crescer achando que não merece obter sucesso”, detalha a especialista.

Para justificarem a autossabotagem, muitos utilizam desculpas socialmente aceitas como “Não fui bem na prova porque cheguei atrasado; o trânsito é péssimo” ou “Já estou endividado mesmo. Todo brasileiro tem dívidas”, ou então “Quem perdeu foi ela por ter terminado comigo”. De acordo com a psicóloga Jussara Prado, isso geralmente ocorre para as pessoas alcançarem ganhos secundários. “Por exemplo, algumas pessoas que adoecem muito costumam buscar atenção e carinho de quem está por perto”, explica.

 O autoconhecimento

Pode ser doloroso, mas o primeiro passo para encarar a vida com realidade é tentar se conhecer melhor. A psicóloga Jussara traça um caminho a ser percorrido que pode ajudar quem sofre com essas dificuldades. “Esse é o momento de refletir sobre o ser, o saber e o fazer. Primeiramente, é preciso que pensar no ‘ser’ – olhar para si, identificar seus defeitos, que podem ser trabalhados, e suas qualidades, que podem ser exploradas. Esse processo de autoconhecimento é fundamental para subir o segundo degrau, que é o do ‘saber’. É que somente entendendo e dominando quem você é, será possível ter certeza daquilo que é capaz de enfrentar e aceitar. Compreendida essa parte, você consegue subir outro degrau e chegar ao ‘ter’, momento em que colhe os frutos de amor, dinheiro, sucesso e saúde”, conclui a psicóloga. 




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