Mulheres não só no volante

Curso para ensinar a cuidar do próprio carro e a entender seu funcionamento faz sucesso com o público feminino, que busca independência na área automotiva

Criado em 28 de Setembro de 2016 Comportamento
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Patrícia Giudice

Cuidar do próprio carro, saber a hora de trocar o óleo, não passar aperto se o pneu furar. A necessidade e o desejo de dominar essas habilidades têm feito com que as mulheres se interessem, cada vez mais, por mecânica, e, por conta disso, muitos cursos vêm surgindo no mercado para auxiliá-las. A ideia nem sempre é se tornar uma especialista no assunto. O objetivo principal mesmo é não passar sufoco na rua, sozinha ou com crianças no banco de trás. Mas, em alguns casos, elas se apaixonam tanto pelo tema que acabam investindo na profissão. Bárbara Brier, técnica automobilística e fundadora do blog Brier Cars, é uma profissional que está se dedicando ao assunto “empoderar as mulheres sobre mecânica”.

Bárbara trabalha há dez anos no setor automotivo. Fez curso técnico em automobilística e em aprendizagem industrial. Atuou em autopeças, oficinas mecânicas e treinamento técnico automotivo. Aos 19 anos já estava na montadora Fiat, trabalhando com treinamento. “Gostava de restaurar carros e comecei a me identificar mais com o mercado. As pessoas se assustam por eu ser uma mulher, mas gostam do que compartilho, das ideias, dos conceitos, dos eventos”, afirma. Com o blog, ela apostou também numa página no Facebook, hoje com quase 4.000 curtidas, e num canal no Youtube, em que posta vídeos sobre mecânica.

A paixão pelos carros aflorou mesmo quando uma amiga disse a Bárbara Brier que estava cansada de ser enganada nas oficinas mecânicas aonde levava seu carro para consertar. Foi aí que a profissional teve uma ideia: montar um workshop somente para mulheres. A profissional já formou duas turmas, uma em julho e outra em agosto. “A necessidade das mulheres não é saber fazer tudo, dominar toda a técnica. Elas buscam mesmo é não ficarem na mão. Querem se sentir seguras quando estiveram com o filho, e o carro, de repente, estragar ou o pneu furar. Elas sempre acham que o mecânico está passando a perna nelas, e saber do assunto é uma forma de evitar isso”, conta.

O objetivo dos cursos, segundo a especialista, é permitir que as alunas entendam de forma básica o funcionamento de um carro e como ele deve ser mantido em segurança. “O automóvel tem que estar em segurança, a mulher tem que ter segurança. Esse é o foco, o objetivo principal”, diz.

O primeiro módulo do curso tem quatro horas e apresenta o fundamento do motor, seu funcionamento. “Minhas abordagens são ‘o que faz a roda girar’ e ‘está na hora da revisão’. Mesclo teoria com prática. Elas vêem o manual de manutenção do veículo, entendem a importância da troca de óleo e do filtro, aprendem a identificar o momento certo da troca da correia dentada, entre outras questões”, detalha.

Libertação

Nas palavras de Bárbara, “trata-se de um curso libertador”. “A mulher acha que é complexo, mas, quando entra no universo técnico, começa a entender de fato, o que é muito bom, pois ela precisa do carro para trabalhar, para ter sua liberdade”, afirma.


Foi assim com Thamiris Santos Coutinho, de 28 anos. Ela é enfermeira, empresária, trabalha numa multinacional e viaja bastante. Por isso, o curso de mecânica para mulheres foi um divisor de águas em sua vida. Para ela, a mulher precisa ser independente no trabalho, financeiramente, mas também nessas pequenas coisas, como saber lidar com o próprio carro. Depois de fazer o primeiro curso, ela diz que quer fazer parte de todas as turmas que surgirem. “Quero viajar com meu carro, conhecer as coisas principais, trocar pneu, saber o que acontece no motor quando dá alguma pane, não ser ludibriada pelos mecânicos, enfim. Eu queria independência, e é o que estou conquistando. Ainda falta muita coisa para aprender, mas já ando com o manual do curso e meu kit de luvas sempre no carro. Além disso, sempre mando mensagem para as meninas para tirar dúvidas”, relata Thamiris.

Quem fez um primeiro módulo do curso já aguarda o próximo e pede que ele seja bem prático. A relações-públicas Flávia Albuquerque, de 32 anos, é supervisora de eventos e viaja a trabalho por toda Minas Gerais. Mesmo tendo motorista da empresa, ela prefere pegar a direção na estrada. Portanto, entender mecânica para ela é uma segurança a mais. “É importante a gente saber como resolver algo na estrada, ter noções básicas sobre o carro. Até mesmo para sabermos cuidar do próprio carro, termos atenção com sua manutenção”.

Atualmente, Flávia conta com um mecânico de confiança, mas nem sempre foi assim. Ela revela que já passou por situações difíceis, como realizar serviços desnecessários no carro e ainda pagar um valor além do praticado no mercado. E ela acredita que isso só aconteceu porque ela é mulher.

Profissão

Mas há quem ultrapassa os conhecimentos gerais para cuidar do próprio carro e decide fazer parte do mercado de trabalho no setor automotivo. É o caso de Nathália Rocha Maia, mecânica de 27 anos e professora no curso técnico de mecânica automotiva. Ela diz que sempre teve interesse por carros e brincava na oficina quando esperava o pai terminar o trabalho, no setor administrativo de uma concessionária. “Quando completei 18 anos, como estava com um turno livre, pois ainda cursava o pré-vestibular, decidi fazer o curso de aprendizagem em mecânica de automóveis. Até então, não tinha interesse em trabalhar na área, mas, quando o curso terminou, tive muita vontade de aprender mais. Dei início, então, ao curso de eletricidade de automóveis”, recorda-se Nathália.

Aluna destaque nos cursos que fez, Nathália foi chamada para participar da Olimpíada do Conhecimento na modalidade Manutenção de Automóveis. “Fiz o processo, passei e tive a oportunidade de participar do melhor treinamento de minha vida, dentro do Senai e em várias concessionárias”, conta.

Hoje, ela dá aulas de mecânica numa turma que tem maioria de homens e revela que há preconceito e machismo. “Já escutei coisas que não devia, como cantadas, e me deparei com gente que achou que eu não era capaz. Mas mostrei que sou competente e detalhista e que me preocupo em fazer uma boa apresentação nas aulas. Aliás, a mulher, geralmente, faz o trabalho com mais riqueza de detalhes”. 




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