Não é preciso mais ir estudar na ''capital''

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Criado em 06 de Setembro de 2012 Capa
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   Chegada do curso de medicina a Betim reforça o novo cenário da região quando o assunto é ensino superior: estudantes locais não precisam mais estudar fora, pois passa de dez o número de faculdades no município e em cidades vizinhas Uma das decisões mais difíceis na vida de uma pessoa talvez seja qual profissão seguir. Além da vocação, é necessário considerar as demandas do mercado de trabalho e ainda avaliar a qualidade da instituição superior em que se deseja ingressar, além das possibilidades de acesso à faculdade. De acordo com o Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep-MG), no Brasil, o ensino superior privado cresce todos os anos e já responde por 75% das matrículas em cursos de graduação. 

   Em Betim e nas cidades do entorno, o cenário mudou muito nos últimos dez anos. Se antes os estudantes tinham que se deslocar até Belo Horizonte por falta de opções na região, agora pode haver dúvida na hora de se escolher uma instituição de ensino para estudar. O número dessas escolas aumentou vertiginosamente. Segundo dados do Ministério da Educação (MEC), a região conta atualmente com mais de 15 instituições de ensino superior cadastradas, oferecendo cursos presenciais e à distância.
  Esse boom na educação superior na região pode ter uma explicação. Betim, por exemplo, possui hoje quase 380 mil habitantes, conforme o Censo 2010 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um extenso parque industrial e um crescimento na média de 7,85% ao ano, índice superior ao do aumento populacional do Estado, que é de 1,15%. 
   Foi pensando na necessidade de formação superior no município que, de acordo com a diretora da Faculdade Betim (Fabe), Rachel Ballardin, a instituição decidiu se instalar em Betim, em 2007. “Por meio de uma pesquisa realizada na época, identificamos a demanda das empresas e o portfólio de cursos que contribuiriam para o desenvolvimento da cidade e nos resguardariam financeiramente. Hoje, oferecemos quatro cursos diferentes, contamos com a colaboração de 32 docentes e temos 400 estudantes matriculados, sendo que a maioria mora aqui”, revela a professora.
 
 Cidade universitária 
 
   Para o pró-reitor da PUC Minas em Betim, Eugênio Batista Leite, além de o município ser promissor no segmento educacional, vem se consagrando como uma cidade universitária. “Com significativa arrecadação, Betim tem recebido cada vez mais investimentos. Além disso, está bem-preparada para a prestação de serviços aos estudantes”. Segundo Eugênio, atualmente, 4.140 alunos estão matriculados nos dez cursos de graduação que a instituição de ensino superior mais antiga do município oferece.
 
   Coordenador de produção de uma empresa situada em Betim, Edmar do Carmo Silva, 46, conta que, há aproximadamente três anos, percebeu a necessidade de melhorar sua capacitação profissional, mas acreditava que não encontraria na cidade um curso que atendesse a seus anseios. “Foi aí que me enganei. Um amigo comentou que o curso que eu precisava havia aqui. Pesquisei na internet e descobri uma grade curricular bem completa. Estudei, fiz o vestibular e fui aprovado. Confesso que, inicialmente, fiquei receoso quanto à qualidade do ensino. Mas me surpreendi, felizmente. Encontrei uma faculdade séria e com profissionais altamente qualificados.  Acredito que isso não se aplica somente à faculdade em que estudo. Por isso, vale a pena pesquisar antes de ir para Belo Horizonte, por exemplo. Além do desgaste físico e do tempo que se perde com deslocamento, tem também o custo com a condução”, ressalta Edmar, que é aluno em gestão de produção industrial.
 
   E as cidades do entorno também são alvo da procura de estudantes. O publicitário Wagner Silva Melo, 43, morador de Betim, foi um dos que optaram por estudar na região, no município de Juatuba.
700 mil
Essa é a quantidade de contratações no setor público esperadas no país anualmente, já que, segundo o IBGE, cerca de 10% dos
7 milhões
de servidores públicos que o país possui se aposentam a cada ano
10%
O Sindicato das Escolas Particulares de Minas Gerais (Sinep-MG) informa que, em Minas, essa é a média, em percentual, de inadimplência no pagamento de mensalidades das instituições de ensino superior
   “Quando decidi fazer a graduação em publicidade e propaganda, descobri que o curso era ministrado mais próximo de minha casa. A comodidade foi um fator decisivo para mim. O trânsito para a capital é muito pesado; estudar em Juatuba seria muito mais fácil. E não me arrependi. Todos os professores atuavam nas faculdades de Belo Horizonte e possuíam mestrado. A estrutura da escola também era ótima. Não sei se continua assim, mas, de qualquer forma, é válido pesquisar, assim como eu fiz, para não ter que se deslocar até outra cidade”, salienta o publicitário, formado em 2007.
  A recente instalação do curso de medicina na PUC em Betim, universidade que já atua na cidade há 17 anos, também é prova de que o município vem diversificando as opções de cursos superiores. Mesmo com uma mensalidade considerada por muitos “salgada” (R$ 3.967), o curso teve o primeiro vestibular bastante concorrido, com 98 candidatos por vaga. De acordo com informações da assessoria de comunicação da universidade, 5.879 pessoas se inscreveram para fazer o exame.
 Gargalos
 
   Mesmo com o aquecimento do mercado, as instituições de ensino privado também enfrentam alguns gargalos. Segundo o Sinep-MG, a inadimplência é, sem dúvida, o principal problema enfrentado atualmente. Em Minas, a média de inadimplência é de 10%, mas, em alguns casos, pode chegar a até 40%. "A Lei 9.870/1999, que trata das mensalidades escolares tanto para o ensino básico quanto para o superior, permite que os alunos inadimplentes permaneçam estudando até o fim do contrato, o que causa sérios prejuízos para as instituições de ensino. A referida lei trata a educação como um bem público, mas não leva em conta o quadro de funcionários e as despesas que as faculdades privadas têm todo mês", informa a assessoria de imprensa do Sinep-MG em nota.
  A diretora da Fabe, Rachel Ballardin, concorda com o sindicato. "A inadimplência é uma grande realidade. A instituição precisa estar sólida financeiramente para honrar com os compromissos. É importante trabalhar com outras fontes de captação de receita, mas o que sustenta uma instituição privada, indiscutivelmente, são as mensalidades", salienta Rachel.
   E, para atender à demanda dos alunos, explica o pró-reitor da PUC em Betim, foram construídos em torno de 700 metros “Além disso, promovemos a atualização completa dos livros de referências básica e complementar para todos os cursos da unidade. Para este semestre, já estão previstas novas obras de ampliação e melhoria nos cursos”, revela Eugênio Leite. 
 
 
 Outro nicho: cursinhos preparatórios
 
   Outro nicho que vem crescendo em Betim é o de cursinhos preparatórios para concursos públicos, alvo, principalmente, de quem busca a tão sonhada estabilidade financeira. Segundo dados do IBGE, o Brasil possui 7 milhões de servidores públicos, dos quais cerca de 10% se aposentam a cada ano, o que demonstra que são necessárias em torno de 700 mil novas contratações anuais no país.
 
  Diante da demanda existente, Betim também atraiu, nos últimos anos, cursos  preparatórios. A informação é positiva não somente para quem quer realizar o sonho de passar em um concurso público,  mas também para quem oferece esse tipo de serviço.
 
  Atuando no ramo desde 2004, a coordenadora do curso preparatório Genoma, Daniela Amoglia, afirma que é visível o crescimento da quantidade de unidades, não só em Betim, como no Estado e no país.
  “Cada vez mais, as pessoas buscam outras formas de vínculo empregatício, saindo da iniciativa privada e se dedicando aos estudos para obter a aprovação num concurso público. E 2012 é um dos anos mais favoráveis para quem quer realizar esse sonho. O número de editais, tanto abertos quanto autorizados para lançamento,  está enorme”. Daniela diz ainda que Betim tem capacidade para absorver esse aumento da demanda. “Os betinenses não precisam mais sair daqui para estudar em cidades vizinhas. Mais do que isso, eles estão confiantes e perceberam que podem tentar outros níveis de concursos, como os federais”, destaca a coordenadora.
   Outra vantagem para os concursandos é o sistema de ensino via satélite que o município oferece. As aulas telepresenciais têm ganhado muito espaço. “Uma das principais vantagens é que o aluno pode rever as aulas quantas vezes quiser, já que elas são gravadas. Outro ponto é a qualificação dos professores. Na modalidade à distância, esses profissionais são mais bem-remunerados em função da quantidade de alunos, o que não ocorre na modalidade presencial”, diz o diretor da unidade Orvile Carneiro de Betim, João Bosco Silva.
 
   A vinda desses cursos facilita a vida de muitos concursandos. É o caso do contador Gabriel Torga, que fazia cursinho em Belo Horizonte e, há cerca de três meses, resolveu estudar em Betim. “Para mim, foi muito mais cômodo. Antes, eu tinha que acordar cedo e voltava para casa tarde. O deslocamento era muito cansativo. Percebi que não há a necessidade de ir para outra cidade se aqui tenho o mesmo recurso. A qualidade do ensino é a mesma. Betim está bem-assessorada nesse sentido”, conta Gabriel, que se prepara para prestar um concurso público.
 
   Para ele, um curso de medicina tem significativa importância para o Estado, já que o país enfrenta sérios problemas por falta de médicos. 
  “Em Betim, o Hospital Regional passa a ser um hospital-escola. Os estudantes e os professores atuarão com frequência na unidade, bem como nas Unidades Básicas de Saúde (UBSs) e nas Unidades de Atendimento Imediato (UAIs). É importante considerar ainda a possibilidade de os médicos formados aqui também se fixarem na cidade, o que contribuirá para a qualidade no atendimento pela saúde local”, afirma. 
   Para a primeira colocada no vestibular do curso de medicina de Betim, a estudante Ludmila Carneiro Costa Herneto, 18, as expectativas são as melhores possíveis. “O curso está bem-estruturado e tem professores capacitados. Moro em Belo Horizonte e, por enquanto, optei por ir e voltar para Betim todos os dias. Mas, dependendo, posso passar a morar na cidade”, diz.
 
 MBAs: uma tendência mundial
  Uma tendência mundial que vem abocanhando uma boa fatia do mercado da educação são os cursos de pós-graduação em Master of Business Administration (MBA), sigla que designa o curso de pós-graduação na área de negócios. Nesse segmento, Betim também não fica para trás. A cidade se prepara para receber cursos de MBAs que serão oferecidos pelo IBS Business School, instituição de ensino conveniada à Fundação Getúlio Vargas  (FGV ) e que ficará localizada, num espaço de 1.300 metros quadrados, no estacionamento do Betim Shopping. Cerca de R$ 1 milhão devem ser investidos na infraestrutura do local, que contará com cinco salas de aula para 50 alunos cada. Inicialmente, a unidade vai oferecer MBAs em gerenciamento de projetos, gestão financeira,  controladoria e auditoria, além de gestão empresarial, com aulas no período noturno. De acordo com a supervisora do departamento de comunicação institucional da IBS/FGV, Mirtes Cipriano, a expressão da cidade no cenário econômico do Estado e a demanda por educação executiva de qualidade no município foram fatores preponderantes para que a unidade viesse para Betim. “Temos um número expressivo de alunos que saem de Betim para cursar MBAs na unidade de Belo Horizonte. Além disso, o aquecimento da economia, com o consequente aumento do número de vagas para executivos, faz com que a procura por qualificação fique cada vez maior. Precisávamos atender a essa demanda dos betinenses”, declara Mirtes.
 Ensino à distância
 
   Uma das modalidades de ensino superior que também vem conquistando adeptos no município é a de educação presencial, conectada à distância. Em Betim, a unidade pioneira nesse tipo de ensino é a Universidade Norte do Paraná (Unopar) – Polos I. A instituição, instalada no município desde 2003, tem aproximadamente 700 alunos de Betim e de cidades do entorno, como Igarapé, São Joaquim de Bicas, Florestal e Juatuba. Segundo o diretor da Unopar Betim Polo I, Jamil José Sailba, a educação à distância é um conceito inovador no ensino, que utiliza ferramentas tecnológicas e pedagógicas como diferencial para a formação dos alunos. “A primeira permite que eles tenham um mix de atividades presencias, em telessalas,  outras no seu próprio tempo e lugar. Esse modelo de ensino é centrado no aluno, que, acompanhado por tutores, desenvolve seu saber. Os estudantes têm aulas por video conferêcia em tempo real, sendo a aula interativa, por internet ou viva-voz. Na sala de aula, há um tutor que auxilia os alunos no desenvolvimento de trabalhos e estudos. Além disso, o estudante dispõe de tutores eletrônicos, biblioteca física e eletrônica e laboratório de informática. Nesse modelo, já formamos em Betim mais de 1.500 alunos em vários cursos”, informa. 
 
   A reportagem entrou em contato com as faculdades Asa, em Brumadinho, e J. Andrade, em Juatuba, para participar da matéria, mas não obteve retorno.
 
 Saiba Mais
 
   Algumas instituições de ensino superior com cursos presenciais e à distância
 
Em Betim
  •  Universidade Norte do Paraná (Unopar)
  • Universidade Castelo Branco (UCB)
  •  Faculdade de Tecnologia e Ciências (FTC Salvador)
  •  Centro Universitário de Maringá (Cesumar)
  •  Faculdade Educacional da Lapa (Fael)
  •  Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais (PUC Minas)
  •  Universidade Vale do Rio Doce (Unincor)
  •  Faculdade Pitágoras de Betim 
  •  Centro Universitário do Sul de Minas (Unis-MG)
  •  Faculdade Iseib de Betim (Fisbe)
  •  Faculdade Presidente Antônio Carlos de Betim (Unipac Betim)
  •  Centro Universitário do Ensino Superior (COC)
  •  Faculdade Betim (Fabe) – Grupo acadêmico Unis
Em Brumadinho
  •  Faculdade Asa de Brumadinho
Em Juatuba
  • Instituto de Ensino Superior João Alfredo de Andrade (J Andrade)
Em Esmeraldas
  •  Universidade Castelo Branco (UCB)

 




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