No comando do BOA

Criado em 15 de Março de 2017 Conversa Refinada
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Há 23 anos no Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, a major Daniela Lopes Rocha, de 41 anos, é a primeira mulher a assumir o comando do Batalhão de Operações Aéreas (BOA). Ela, que é graduada em direito e em ciências militares, além de possuir várias especializações no currículo, iniciou na nova função no começo de fevereiro último.  E essa não é a primeira vez que Daniela se destaca pelo pioneirismo. Ela é integrante da primeira turma de mulheres do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais, tendo sido também a primeira mulher a se tornar piloto de helicóptero da corporação, ainda em 1995, quando conquistou o primeiro lugar na seletiva para novos pilotos. Ela revela que considerou a nomeação uma grande conquista e que se sente duplamente gratificada: primeiramente por fazer parte da primeira turma de mulheres, a qual foi responsável por derrubar barreiras na corporação e provar que poderiam exercer qualquer atividade no Corpo de Bombeiros; o segundo motivo é ter a oportunidade de comandar um batalhão de cuja criação participou. Segundo a major, muitas ações já estão sendo desenvolvidas sob seu comando, mas “ainda é cedo para divulgar”.

Que tipo de trabalho mais realizou no Corpo de Bombeiros?

Durante 23 anos de serviço, passei por diversas unidades e desenvolvi diferentes trabalhos. Fui soldado no 1º Batalhão de Bombeiros, na época denominado 1º Grupamento de Incêndios. Como tenente, fui comandante de pelotão no 3º Batalhão de Bombeiros, trabalhei na Diretoria de Contabilidade e Finanças, na Ajudância Geral, no Estado Maior, e, agora, assumi o comando do BOA, além de ter realizado vários cursos, como os de formação de soldados, emergências médicas, formação de oficiais, bombeiros para oficiais, piloto privado e piloto comercial de helicópteros, comandante de operações aéreas, bem como especializações em políticas públicas; normalização de medidas contra incêndio; pânico e explosões; gestão estratégica e políticas públicas; e ciências jurídicas.

 Sempre trabalhou em BH?

Sim. Eventualmente, prestei serviços em outras localidades.

Você deve colecionar muitas histórias bonitas e emocionantes de salvamentos. Pode nos contar alguma?

São muitas histórias emocionantes, e cada uma nos marca de uma maneira diferente. Mas a maior emoção é sentir a gratidão de quem ajudamos e ter a satisfação imediata de saber que fizemos a diferença na vida de alguém.

 Antes de se tornar bombeiro, você exerceu outra profissão? Se sim, qual?

Estagiei durante um ano como técnica em eletrônica, requisito para formatura no Cefet-MG.

 5) Se não fosse bombeiro, o que gostaria de ser?

Gostaria de ser militar da Força Aérea. Enquanto criança, ser bombeiro não era uma realidade possível para mulheres, era uma profissão exclusivamente masculina. Então, apesar de ter tido e de ter brincado com carrinho de bombeiros, nunca imaginei que um dia eu faria parte dessa corporação. No entanto, na minha adolescência, vislumbrei a possibilidade de servir à Força Aérea. Para isso, eram exigidas algumas qualificações para as mulheres. Pensando nisso, fiz o curso técnico em eletrônica, tendo frequentado o último ano em 1993, quando abriu o concurso feminino para soldados no Corpo de Bombeiros de Minas Gerais. Fiz as provas aos 17 anos. Completaria 18 dois meses antes do início do curso de formação de soldados, que durou nove meses, durante o qual encontrei minha vocação e descobri a atividade que eu gostaria de fazer e que até hoje me satisfaz profissional e pessoalmente. Acabei não prestando o concurso para a Força Aérea.

 Você é a primeira mulher a assumir o comando do BOA. Como recebeu essa notícia?

Recebi essa notícia com imensa satisfação. Para quem ingressou como soldado, exercer a função de comando de um batalhão é uma grande conquista. Mas dois aspectos me deixam especialmente gratificada. O primeiro é fazer parte da primeira turma de mulheres, a qual foi responsável por derrubar diversas barreiras na corporação e provar que poderíamos realizar qualquer atividade no Corpo de Bombeiros. O segundo é ter a oportunidade de comandar um batalhão de cuja criação eu participei. Fiz o primeiro curso destinado a formar os bombeiros que seriam os pilotos da Esquadrilha Arcanjo, antes mesmo da aquisição das aeronaves, e também atuei na estruturação inicial do batalhão.

 Você já sofreu ou sofre algum tipo de preconceito por ser mulher e exercer uma profissão que é menos procurada sexo feminino?

Ao contrário: as pessoas ficam admiradas quando digo que sou bombeiro há 23 anos. Em relação à corporação, a entrada das mulheres em 1993 não foi encarada com tanta naturalidade pelos colegas. Ainda havia incerteza quanto à nossa capacidade para o desenvolvimento de diversas atividades, e esse primeiro curso funcionou como uma experiência para a definição de como seríamos empregadas (serviço administrativo ou operacional) e do que de fato poderíamos fazer. Os quartéis não estavam estruturados para receber mulheres, e as instalações precisaram ser adaptadas. Precisamos vencer vários desafios até provarmos nosso valor e estabelecer nosso papel na corporação. Mas entendo que, institucionalmente, não há preconceito em relação às mulheres. Hoje, não existem restrições quanto ao nosso emprego, e as mulheres já estão presentes em todas as áreas de atuação do Corpo de Bombeiros do Estado.

 Fale-nos sobre o BOA. Qual é o papel dele, que tipo de ação executa, quantos profissionais são e qual a estrutura existente atualmente?

O Batalhão de Operações Aéreas, o BOA, completa em 2017 dez anos de operação. Nossa esquadrilha é formada por dois helicópteros – o AS350B2 (Esquilo) e o EC-145 (aeronave biturbina pertencente à Secretaria de Estado de Saúde (SES) e operada pelo Corpo de Bombeiros, que atua com UTI móvel, podendo transportar até dois pacientes simultaneamente. Além disso, contaremos, no segundo semestre, com mais duas aeronaves AS350 B3, que serão adquiridas pela Secretaria de Saúde para a operação por parte do Corpo de Bombeiros. A equipe é composta por 43 militares, entre pilotos, tripulantes operacionais, equipes de apoio de solo e mecânicos, atuando em Belo Horizonte e em Varginha, bem como uma equipe médica diária do Samu, formada por um médico e um enfermeiro em cada base. Esses profissionais, juntos, desenvolvem operações de busca e salvamento, atendimento pré-hospitalar, combate a incêndios e  ações humanitárias, entre outras atividades. Estão em processo de formação mais 13 pilotos.

 Você assumiu em fevereiro o cargo. Já tem um balanço de suas atividades ou ainda é cedo para divulgar?

De fato, assumi o cargo no dia 6 de fevereiro. Ainda é cedo para divulgar, mas muitas ações estão em andamento, e espero ter novidades até o fim do ano.

E para o futuro? Tem algum projeto de mudança para a melhoria dos trabalhos?

A corporação tem planos de crescimento com objetivo de estar presente nos municípios mineiros com mais de 30 mil habitantes. Esse plano contempla a abertura de novas bases do BOA no interior do Estado, o que permitirá reduzir o tempo-resposta de atendimento ao cidadão mineiro, aumentando as chances de sobrevida dos pacientes.

 Antes do BOA, você já havia assumido o comando de algum posto?

Como tenente, tive a oportunidade de ser a primeira bombeiro em Minas Gerais a assumir o comando de um Pelotão Operacional e trabalhei no Estado Maior, que é a assessoria do comando da corporação, onde fui chefe da Sexta Seção, responsável pela administração dos recursos orçamentários e pela celebração de convênios do Corpo de Bombeiros de Minas Gerais.

 Há boatos de que o BOA seria extinto. O que tem a dizer sobre isso?

Uma das grandes missões do Corpo de Bombeiros é prestar assistência ao cidadão que se encontra em situações de urgência ou emergência, cuja vida muitas vezes está em risco, e quase sempre é necessária uma intervenção especializada, com a utilização de equipamentos e de técnicas específicas, nos mais variados tipos de ocorrência, como combate a incêndios urbanos e florestais, salvamentos em enchentes, atendimento a diversas espécies de acidentes, especialmente em locais de difícil acesso e rodovias, possuindo em sua tripulação, além de bombeiros, equipe médica capaz de prestar na aeronave o atendimento que o paciente normalmente só receberia no hospital. O Batalhão de Operações Aéreas, por meio de suas aeronaves, possibilita a prestação de serviços nos municípios que ainda não dispõem de unidades de bombeiros, com curto período de deslocamento, e permite que pacientes acidentados em locais que não dispõem de assistência hospitalar adequada sejam conduzidos até outras cidades que possuam os recursos demandados. Então, acredito que o caminho natural é expandir o atendimento prestado pelo BOA, e não extinguir esses serviços. 




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