Nosso governo será transparente e honesto.

Criado em 21 de Dezembro de 2016 Entrevista
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Iêva Tatiana e Efigênia Dusk

 

Perfil

Naturalidade: Parma (Itália) – naturalizado brasileiro em 1981

Nome: Vittorio Medioli

Idade: 65 anos

Formação: direito e filosofia (em Milão)

Família: Casado com Laura Medioli e pai de Daniela
e de Marina Medioli

 

O megaempresário Vittorio Medioli, 65 anos, escolhido por quase 62% do eleitorado betinense para comandar o município nos próximos quatro anos, atendeu à reportagem da Mais para compartilhar com os leitores o que o levou a almejar ser prefeito de uma cidade que, embora ainda tenha uma das maiores arrecadações do Estado, enfrenta um cenário financeiro caótico e problemas jamais vivenciados na história da administração municipal. Estando os trabalhos de transição entre as gestões praticamente concluídos, ele analisa a realidade financeira do município e adianta alguns dos métodos de administração que serão adotados para tentar resgatar o equilíbrio orçamentário municipal.

Vittorio Medioli também revela aqui um pouco do caminho de perseverança e sucesso que trilhou no país que escolheu para viver e formar sua família – ele é casado com a escritora e presidente da Sempre Editora, Laura Medioli, e pai de Daniela, diretora-executiva do Grupo Sada, e Marina Medioli, vice-presidente da Sempre Editora.

Dono de uma mente incansável, Vittorio aqui fincou suas raízes, erguendo um império de negócios, iniciado pelo Grupo Sada, do qual ele é presidente, e ampliado para mais de 50 empresas, que abarcam uma diversidade de setores, como os de transporte, logística, serviços gráficos, bioenergia e agricultura, entre muitos outros. Mas um dos “projetos-xodó” de Medioli não está contemplado em nenhuma dessas áreas: trata-se do Sada Cruzeiro, o time de vôlei mais vitorioso dos últimos tempos na história do esporte, ao qual Vittorio se refere com muito carinho. 

O empresário não está estreando na política: ele já foi deputado federal por quatro mandatos, tendo sido filiado ao PSDB e também ao PV. Por problemas de saúde, ele precisou se afastar do mundo político. E a ele, neste ano, e por outra sigla, o PHS, do qual é presidente de honra atualmente, Medioli retornou para enfrentar talvez um dos maiores desafios de sua vida como gestor. Em nome dos leitores da Mais, a direção e equipe de reportagem da revista agradecem ao futuro prefeito de Betim pela oportunidade desta entrevista e desejam sucesso em sua mais nova empreitada.

O senhor é um empresário de reconhecido sucesso. É admirado por sua capacidade empreendedora, atuando nas mais variadas atividades, desde a produção de energia ao mais vitorioso time de voleibol da história. O que o levou a almejar ser o prefeito de uma cidade com tantos problemas, um povo sofrido e uma situação financeira caótica?

Um sentimento de dever. Senti que era uma obrigação. Não serei prefeito por mim, mas para melhorar a vida do povo de Betim.

 

O senhor disputou o cargo de prefeito de Betim pelo PHS. Antes, já foi filiado ao PSDB e, depois, ao PV. Por que decidiu disputar as eleições por um partido que ainda tem pouca expressão no país?

O partido no Brasil pouco importa. São quase todos iguais. Quando me filiei ao PHS, era um partido sem expressão, mas que atendia à possibilidade de eu disputar uma eleição.


O prefeito eleito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil, também do PHS, declarou por diversas vezes que não há dinheiro para obras. A situação de Betim difere da de BH em quê? 

As administrações públicas no Brasil, salvo raras excessões, estão quebradas. Betim é um exemplo típico de como uma arrecadação expressiva acaba sendo inviabilizada e não atende ao povo, seu legítimo destinatário. Qualquer ação hoje é engessada pelas dívidas e pelo excesso de gastos desnecessários. Tentarei reequilibrar as finanças do município e devolver a ele sua capacidade de atendimento às necessidades mais urgentes e básicas da população.

 

O senhor alcançou cerca de 62% dos votos válidos, pouco menos do que o dobro do que conseguiram os outros dez candidatos juntos. A que o senhor atribui a confiança  da maioria dos eleitores betinenses? Qual foi o recado que o resultado nas urnas transmitiu ao senhor?

Percorri Betim inteira em 95 dias de campanha intensa, realizando 720 reuniões, uma média de sete/oito por dia, durante as quais apresentei minhas propostas e respondi a perguntas. Esse trabalho, mais do que qualquer outro, serviu para convencer os eleitores e deixá-los confiantes de que na prefeitura darei tudo que tenho de experiência e coragem para recuperar Betim.


Como o senhor avalia o processo de transição?

Os trabalhos estão quase conclusos. Infelizmente, a situação encontrada mostra que a saúde é o mais grave dos problemas. Temos excesso de burocracia e falta de motivação dentro de um quadro bastante confuso. Precisaremos de um esforço imenso e imediato para colocar os serviços públicos em ordem. 


Do que se pode apurar até o momento, a situação do município é aquela comentada pelo senhor durante a campanha? 

Sim. Sempre me pautei pela realidade, e o que encontramos é exatamente o que esperávamos. As sondagens durante a campanha mostravam um índice assustador de insatisfação com o atual governo, chegando até a 84%. Sempre medimos o pulso da administração registrando gravíssimos problemas.


Quando o senhor pretende anunciar sua equipe de secretários? Pode nos adiantar algum nome ou características do grupo – se terá um perfil mais técnico ou mais político?

Nos próximos dias. Agora já temos relatórios e números que permitem a tomada de algumas decisões de forma consciente. Será necessário enxugar os cargos comissionados e recrutar ao máximo funcionários de carreira. Sempre que existir a opção pelo quadro permanente, não haverá convocação de recrutamento amplo. Provavelmente, com isso, atingiremos uma economia de R$ 24 milhões por ano nesse item. 


De acordo com matéria divulgada pelo jornal “O Tempo” no mês passado, existe uma recomendação do Ministério Público de Minas Gerais propondo a extinção de cargos comissionados irregularmente distribuídos na Prefeitura de Betim. Segundo  o promotor de Justiça Marcos Pereira Anjo Coutinho, autor da recomendação, a prefeitura pode procurar o MP para apresentar suas justificativas e ponderar ou modificar a redação da lei. Esse assunto foi tratado pelas equipes de transição? O município agirá em que sentido nesse caso? Como o senhor avalia a possibilidade de revogar mais de mil cargos comissionados?

Com ou sem recomendação, farei de tudo, como já disse, para atingir as metas de uma boa administração, contando com a colaboração do máximo de efetivos possível. Mas temos casos em que não conseguiremos. Até porque nossa obrigação é dar resultados para o povo. Mostraremos a toda a magistratura, ao Judiciário, que nosso governo será totalmente transparente e honesto, ainda ouvindo os habitantes e dando satisfação a eles de todas as decisões.

Além da distribuição irregular de cargos na prefeitura, outro problema que contribuiu para assolar as contas do município são os supersalários de alguns servidores, assunto também já revelado pelo jornal “O Tempo”. Como o senhor pretende tratar essa questão?

Não haverá nenhum salario além do teto constitucional. Cumpriremos à risca o que a lei determina. O município perdeu muita receita em decorrência da crise econômica. Certas isenções que, no passado, justificavam-se hoje são inviáveis. Betim se encontra em estado de emergência financeira desde março último. O que o município arrecada não atende às despesas. A taxa de lixo e o IPTU são obrigações do cidadão.  A cidade que não adota esses meios de arrecadação não encontra atendimento a recursos externos, da União e do Estado. Temos que fazer o dever de casa, arrecadar o quanto é previsto em lei. Do contrário, depois poderemos pedir socorro em outras instâncias. As guias de cobrança em parte são erradas e abusivas, por terem sido emitidas de última hora, sem cuidados e critérios; outras são corretas e estão sendo pagas. Assim que tomarmos posse, iremos realizar uma revisão para que cada um pague um pouco e o que é justo. Mostraremos fórmulas transparentes de cobrança de modo que cada um sinta que está colaborando com o bem coletivo.

 

10) A atual administração implementou a cobrança da taxa de lixo justamente no fim do governo. Qual sua opinião sobre essa cobrança?

O governo passa por um momento desesperador. Apelou de última hora ao que deveria ter feito, moderadamente, há mais tempo. Todo o sistema de limpeza urbana é caótico e insuficiente. Os recursos gastos foram mal-aplicados. Deveremos corrigir isso e implantar um sistema “seletivo de recicláveis”. Isso vai diminuir os custos e nos permitir cobrar apenas de quem não se adequa ao sistema correto. Lixo pode ser mais do que razão de gastos, pode ser uma fonte de receitas. Nesse sentido, vamos implantar novos métodos, mas até lá seremos reféns do sistema atual.


Betim tem um sério problema de cães abandonados pelas ruas. As entidades protetoras de animais do município esperam há anos pela doação de um terreno onde possa ser construído um canil para receber esses bichinhos. Como essa questão será tratada pelo senhor?

A Zoonoses será reformulada. É inaceitável o descaso com os animais. Adotaremos os métodos mais compreensivos e respeitosos. Como está não ficará.

 

Há pouco tempo, o Supremo Tribunal Federal (STF) tornou crime ambiental a prática das vaquejadas, muito comuns no Estado do Ceará. Em Minas, há a tradição dos rodeios, que, para os defensores dos direitos dos animais, também se trata de uma prática que submete os animais a maus-tratos. Qual sua opinião sobre esses eventos?

A evolução da sociedade nos permite ver hoje a injustiça no trato com os animais. Sou contra essas expressões. O sofrimento não é razão de alegria, e, quando isso, acontece, deve-se a um problema sério. Muitos males de Betim se devem ao sofrimento inútil que seres vivos provocam ao ambiente. 


Consta que senhor tem um projeto novo saindo da gaveta: o lançamento de um time de vôlei feminino. Pode nos adiantar algo sobre isso?

O esporte é fundamental para o desenvolvimento humano. Não apenas ao vôlei feminino, mas a todas as modalidades procuraremos dar apoio. Uma civilização desenvolvida se destaca pela atenção à pratica de esporte. Vamos mergulhar nessa empreitada. Afinal, quem pratica esporte fica longe dos vícios.

 

O Sada Cruzeiro surgiu em Betim, e, de acordo com os planos iniciais, os treinos da equipe seriam realizados aqui, na cidade, no ginásio do Teresópolis. Mas houve a transferência dos treinamentos para Belo Horizonte e dos jogos para Contagem. E agora? A relação da equipe com a cidade pode ser restabelecida?

O Sada Cruzeiro está vinculado a Contagem na disputa da Superliga. O Mundial, realizamos em Betim. Alguns jogos serão disputados também em Betim. Vamos dar muito apoio ao esporte do município, procurando parcerias e melhorando as instalações que temos. 

 

Qual sua opinião sobre o projeto “Segunda sem Carne”, que é adotado por algumas empresas e escolas, sobretudo de Belo Horizonte, para incentivar a prática de uma alimentação mais nutritiva e saudável? O senhor acha que seria possível implementar projeto semelhante em escolas de Betim?

Há 50 anos, sou vegetariano e posso garantir que essa dieta não traz qualquer prejuízo. Aliás, propicia aspectos extraordinários para a saúde. Só é preciso prestar atenção na dose de proteínas vegetais que devemos ingerir, pois elas que ajudam nossas funções orgânicas. Soja, feijão, lentilhas, grão de bico, milhos, trigo integral, um pouco de laticínio e ovo de galinha caipira suprem essas necessidades. Depois dos 50 anos, alguns complementos vitamínicos são aconselhados para mantermos a forma. Carnes carregam toxinas, e elas nos envelhecem, formando em nós rugas precoces e nos transformando. Coloquem duas pessoas da mesma idade e adeptas, cada uma, a uma dieta. Enxergarão de longe quem é quem. Os sábios ensinam: “Nós somos o que comemos”. Hoje, com meus muitos anos, enxergo nitidamente isso. As vias de Deus são infinitas, e mesmo quem come carne está atendendo ao que “deve ser”. O desenvolvimento da consciência interna faz com que se despertem certas necessidades, como o vegetarianismo. Reputo a essa dieta uma “libertação” interior, que acontece quando é merecida.

 

Durante os próximos quatro anos, como será sua dedicação às suas empresas?

Confio que Deus retribua minhas atenções com o povo de Betim, ajudando minhas empresas a não sentirem minha falta.

 

O senhor construiu uma história de luta e de superação tanto no âmbito profissional quanto no pessoal. Já pensou em fazer uma autobiografia?

Até hoje não encontrei tempo. Também considero que isso é coisa póstuma. Enquanto temos vida, temos de ampliar nossa biografia.

 

Como o senhor gostaria de ser lembrado pelo povo de Betim daqui uns anos?

Não sei. Não me importo comigo. A história faz justiça. A verdade acaba prevalecendo. Portanto, meus muitos erros e os poucos acertos serão vistos com mais clareza.


Resumindo em poucas palavras, como o senhor classificaria a gestão que pretende executar na Prefeitura de Betim? Ou seja, seu governo será pautado por...

Sou uma pessoa que se cobra demais. Para mim, o melhor e a excelência dos resultados são sempre o norte a seguir. Isso faz de minha vida uma odisseia sem trégua, com enfrentamentos. Mas nasci assim e vou acabar assim. Tudo que for possível, farei, sem medir esforço, e confiando em Deus, que me deixou vivo até hoje.

 

O que pensa sobre a operação Lava Jato? Acredita que, com as investigações conduzidas pela operação até o momento e com a efetivação de prisões de políticos e de empresários ligados a eles, podemos estar iniciando uma nova era da política brasileira?

A cada excesso se contrapõe outro. Muita corrupção deu nessa Lava Jato, que, apesar de adotar métodos em parte arbitrários, está acabando com outros arbítrios. O justo seria não haver nenhuma dessas expressões e as pessoas respeitarem as leis, sendo a ética uma companheira inseparável. A Lava Jato está varrendo de cena o cinismo dos poderosos e libertando o país. É uma revolução. Serve para amadurecer nosso sistema. 

 




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