'Pisei no teatro e entendi que era aquilo que eu queria fazer e ser'

Conversa Refinada

Criado em 23 de Novembro de 2015 Conversa Refinada

Inês atuando em "Hoje é Dia de Maria", minissérie da Globo em que interpretou a Dona Boneca

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A paixão pelas artes cênicas chegou cedo para Inês Peixoto, 55. Antes de completar 7 anos, a atriz belo-horizontina já tinha a certeza de que os palcos e as telas (da TV e do cinema) lhe reservariam um espaço especial. Hoje, depois de encantar milhares de pessoas com
personagens como Dona Boneca, em “Hoje é Dia de Maria”, Edelweiss, na minissérie “A Cura”, e Dona Tê, na novela “Meu Pedacinho de Chão”, todas da TV Globo, ela dá vida à Salomé, em “Além do Tempo”, sucesso da programação global na faixa das 18h. E, apesar da dedicação ao folhetim, Inês não abandonou os demais projetos de sucesso, como o Grupo Galpão, companhia teatral mineira reconhecida internacionalmente, do qual faz parte desde 1992 e é um dos responsáveis por projetar a atriz para todo o Brasil. Casada com o também ator e diretor do grupo, Eduardo Moreira, e mãe de Tiago (31), de João (24) e de Bárbara (13), ela não trocou as montanhas de Minas Gerais pelas praias cariocas. Tanto é que faz questão de dizer que mora em Belo Horizonte e que vai ao Rio apenas nos dias de gravação da novela, ainda que isso represente uma rotina corrida. Como ela salienta, com muito alto-astral, as idas e vindas fazem parte da vida que escolheu. Então, agora, conheça um pouco mais sobre a atriz “prata da casa”, que, carinhosamente, atendeu à reportagem da Mais, e se encante, também, por sua simpatia.
 
Julia Ruiz
 
REVISTA MAIS – Você iniciou sua carreira de atriz em 1981, no Teatro Universitário da UFMG. Como era sua relação com as artes cênicas antes de, efetivamente, ir para os palcos?
INÊS PEIXOTO – Na primeira vez em que fui ao teatro, tinha 5 ou 6 anos, não me lembro exatamente. Naquele instante, entendi que
era exatamente aquilo que eu queria fazer e ser. Foi paixão à primeira vista o atuar, o ser atriz. Evidentemente, percorri um longo caminho de estudos e vestibulares até decidir, efetivamente, que iria assumir a profissão de artista, estudar as artes cênicas e tentar
sobreviver fazendo o que realmente queria.
 
Como foi seu início de carreira? Você teve apoio da família?
Sempre contei com o apoio de minha família. Mas, antes, meu pai me aconselhou a ser dentista. Então, fiz vestibular para odontologia uma vez, e não passei. Em compensação, passei no Teatro Universitário e, depois, no curso do Centro de Formação Artística do Palácio das Artes (Cefar), da Fundação Clóvis Salgado. Ele e minha mãe apoiaram minha decisão de seguir o caminho da arte, e, assim, achei minha turma! Nesses espaços de formação, tive a oportunidade de aprender a encarar, com muita seriedade, o ofício de atriz. Participei de um projeto chamado “Arte na Escola”, promovido pela fundação, na gestão de Nestor Santana, que foi fundador de uma consciência
que me acompanha até hoje: a da seriedade no trabalho do artista e a do compromisso da arte como instrumento de sensibilização,
de conscientização e de esperança.
 
Você fez parte da tradicional banda mineira Veludo Cotelê. Conte-nos um pouco sobre essa experiência musical.
O Veludo Cotelê foi uma experiência cênico-musical baseada num repertório de música brasileira do segmento “rock brega", que resultava em shows muito teatralizados e dançantes. A banda nasceu de um espetáculo chamado “No Cais do Corpo”, do qual era atriz e que consistia em um musical com trilha sonora executada ao vivo. O Renato Parara, o Kaverna, a Andréa Garavello e alguns músicos da banda que faziam a peça já tinham o projeto de formar uma banda de rock brega, e, a partir do espetáculo, todos começaram a participar de apresentações no Cabaré Mineiro (casa de espetáculos de BH que teve seu auge entre os anos de 1985 e 1992) e também a viajar por Minas e pelo Brasil. O Veludo Cotelê era um verdadeiro acontecimento na cidade. Foi um estouro de sucesso! Eu e a Amazyles Almeida éramos as “veludetes”. Nós fazíamos coreografias e clipes ao vivo de todas as canções. Tenho um enorme carinho por esse trabalho.
 
Em 1992, você ingressou no Grupo Galpão – um dos grupos teatrais mais aclamados nacional e internacionalmente. Como se deu sua integração na companhia? O que essa experiência te possibilitou?
Eu ingressei no Grupo Galpão depois de ter participado de um ciclo de workshops que o grupo promoveu em 1992. Fui convidada
para fazer parte da montagem de “Romeu e Julieta”, com direção de Gabriel Villela, e, a partir daí, permaneci na companhia. O Galpão foi muito transformador na minha vida. Cada processo artístico do grupo representa um passo num projeto de continuidade que busca a experimentação e a pesquisa. Nele, eu faço parte de uma família artística. Com o Galpão, ganhei a experiência de circular pelo Brasil e pelo mundo trabalhando com o teatro e a experiência de trabalhar com grandes parceiros, que me fazem melhor como artista e como
ser humano.
 
Você ainda integra o Grupo Galpão? Se sim, como faz para conciliar com os outros trabalhos?
Eu continuo no grupo. Estou sendo substituída nos espetáculos porque é impossível conciliar a agenda de gravações da novela com a do grupo, mas, enquanto isso, realizo alguns trabalhos internos.

De 1981 para cá, foram dezenas de trabalhos no teatro. Como e quando surgiu o convite para atuar na TV?
O primeiro convite para atuar na TV veio em 2005, quando fui chamada por Nelson Fonseca, produtor de elenco da TV Globo, para fazer um teste para a minissérie “Hoje é Dia de Maria”, com direção de Luiz Fernando Carvalho. Deu tudo certo, e, depois dessa experiência, fui fazendo outras participações. Assim, atuei nas minisséries “A Cura” e “A Teia”, e na novela “Meu Pedacinho de Chão”.
 
Ir para a TV era um objetivo?
Eu sempre tive muita vontade de trabalhar no cinema e na TV. Acho muito mágico a imagem poder eternizar um momento de um ator. Todo o processo do audiovisual me atrai muito. Agora, infelizmente, a produção de TV e de cinema em Minas é quase inexistente. Temos poucas oportunidade de experimentar nessa área.
 
Na TV, você deu vida a personagens completamente diferentes em pouco tempo. Isso te realiza?
Claro, sem dúvida! Nós, atores, nos manifestamos através de nossos personagens. Por isso, é maravilhoso quando temos a oportunidade de criar personagens tão distintos. Temos que torcer para que eles venham sempre ao nosso encontro.
 
Qual dessas personagens você sentiu que mais teve repercussão com o público?
A Dona Boneca, de “Hoje é Dia de Maria – Segunda Jornada”, me trouxe um retorno lindo. A Edelweiss, da minissérie “A Cura", fez muito sucesso. Até hoje, as pessoas me perguntam se a série vai continuar. A Dona Tê, de “Meu Pedacinho de Chão”, foi uma alegria enorme. Agora, estou fazendo minha segunda novela. A Salomé, de “Além do Tempo”, tem me trazido um retorno incrível. É muito bom receber o carinho do público. Vi que as pessoas se divertiram muito com a família Pasqualino na primeira fase do folhetim.
 
A Salomé chegou como uma mulher deslumbrada, obstinada com a ascensão social. Agora, na segunda fase da novela, volta um pouco diferente. O que podemos esperar dela?
Eu gostei muito de a Salomé ter voltado como uma mulher trabalhadora, nem um pouco deslumbrada e feliz com a vida simples que leva. Acho que continua engraçada, e a paixão secreta pelo Mássimo (personagem interpretado pelo ator Luís Melo e que foi marido de Salomé na primeira fase) é uma delícia! Estou ansiosa para ver como ela vai se relacionar com a Bianca e a Felícia, que foram suas filhas na encarnação passada.
 
A novela “Além do Tempo” tem sido apontada pela crítica especializada como um trabalho que alavancou novamente a audiência da teledramaturgia da TV Globo. Você acha que está atraindo mais interesse do público por ser uma novela com uma primeira fase “de época” e por ter uma abordagem espírita?
“Além do Tempo” tem todas as características de um folhetim clássico. Uma história linda, com atores maravilhosos, uma direção impecável, luz, figurino, maquiagem e direção de arte deslumbrantes. Enfim, uma equipe incrível, que oferece ao telespectador aquele horário da novela boa, que fala de amor, de vinho brasileiro e de evolução do espírito. As Maispessoas estão precisando disso. O retorno da audiência foi imediato, e nós estamos muito felizes com tudo isso.
 
Por falar em espiritismo, você se identifica com a doutrina? Pratica alguma religião?
Acho muito profunda a doutrina espírita. A lei de causa e efeito, a evolução do espírito e a caridade são fundamentos extremamente importantes para os seres humanos. Temos que levantar da cama, todos os dias, buscando uma maneira de sermos melhores para nós mesmos e para aqueles que nos cercam. Eu não pratico nenhuma religião e pratico todas ao mesmo tempo. Sou daquelas pessoas que cultuam santos, folhas, cantos, orações, borboletas etc. Me conecto sem intermediários.
 
Você já fez trabalhos para o cinema. Como foi? Existe algum novo projeto nesse segmento?
Eu já participei de alguns filmes e, atualmente, curso cinema numa universidade de Belo Horizonte. Atuei em alguns filmes que serão lançados ainda neste ano, como “Quase Memória”, de Ruy Guerra, “Redemoinho”, de José Luiz Villamarin, e “Duas Irenes”, de Fábio Meira. Não tenho, neste momento, nenhum novo projeto em vista. A experiência do cinema é fascinante. Gostaria de fazer mais, porém são poucas as oportunidades. Gostaria que o cinema em Minas Gerais crescesse e nos proporcionasse mais chances de desempenhar esse trabalho.
 
Como está sua rotina atualmente?
Eu moro em Belo Horizonte. Vou para o Rio de Janeiro nos dias em que tenho gravação e, em seguida, já retorno. A rotina de viagens faz parte de minha vida há muito tempo, pois sempre viajei muito com o teatro. E, como diz o verso da canção “Nos Bailes da Vida”, de Milton Nascimento, “todo artista tem de ir aonde o povo está”. Faz parte do caminho que escolhi!
 
Você é casada com o ator e diretor Eduardo Moreira, um dos fundadores do Grupo Galpão. Como é ter um companheiro que compartilha a paixão (e o ofício) pelas artes cênicas?
Eduardo e eu temos uma cumplicidade muito grande no trabalho e na vida. Gostamos das mesmas coisas, dividimos casa, filhos, trabalho, sonhos... Tudo junto e embolado! É um grande exercício de amor e amizade para nós.
 
Como é a Inês Peixoto longe dos palcos e das telas?
Sou bem caseira. Adoro ficar com minha família, inventar pratos diferentes na cozinha e jogar conversa fora! Também gosto muito de ir ao cinema e ao teatro. Frequento o Cine Belas Artes; o Centro Cultural Banco do Brasil, na Praça da Liberdade; a Livraria Quixote; e o Galpão Cine-Horto, nosso espaço cultural, que sempre tem uma programação legal. Outra coisa que adoro fazer é caminhar. Eu e Eduardo sempre caminhamos por Belo Horizonte: na Savassi, no Centro... Adoro o Parque das Mangabeiras. E também amo procurar cachoeiras.





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