Quando é preciso descer do salto

Saúde e Vida: Males do salto alto

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Criado em 15 de Julho de 2015 Saúde e Vida

Fotos: Augusto Martins

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Uso constante de calçados altos pode promover degenerações no corpo, dos pés à cabeça

Lisley Alvarenga

DURANTE UM PASSEIO despretensioso no shopping, andando de uma vitrine para outra, não é raro nos depararmos com uma mulher parada, admirada com a mais nova coleção de uma loja de calçados. A relação que a mulher mantém com os sapatos vai muito além do consumismo e chega a ser afetuosa. Mas será que ela já parou para pensar nos prejuízos que o salto alto pode trazer à sua saúde? Os potenciais danos vão dos pés à coluna, passando pela panturrilha e pelos joelhos.

As mulheres jovens não descem dele e parecem dominar o jogo. Todavia, com o passar dos anos sobre o salto alto, as alterações degenerativas vão se tornando mais acentuadas. Quando uma mulher utiliza muito esse modelo de calçado, submete o joelho a torques excessivos, principalmente em pernas arqueadas. “Isso torna a porção medial dessa articulação mais suscetível a transformações degenerativas da cartilagem articular, com maior incidência de patologias”, explica o fisioterapeuta Anderson Graciano de Melo.

Segundo o especialista, o uso do salto alto altera a postura da mulher, ocasionando a elevação de seu quadril para trás, a aproximação dos joelhos e dos tornozelos em relação à linha de gravidade. Além disso, provoca o deslocamento posterior da cabeça e da coluna torácica e o aumento da lordose lombar, ou seja, a curvatura excessiva na coluna. “Ao se apoiar o pé no chão com o calçado de salto alto, o pé escorrega para frente, estreitando sua largura. Essa nova posição impõe enorme descarga de peso à base dos dedos. Já na região posterior da perna (“batata” da perna), possuímos a musculatura do tríceps sural. Ele tem como função impulsionar o corpo para frente quando andamos, mas, quando a mulher mantém o calcanhar elevado o tempo todo, devido ao uso de salto alto, esse grupo muscular tende a retrair-se, causando o encurtamento”, esclarece.

Portanto, não é exagero afirmar que o salto submete o corpo da mulher a condições não fisiológicas que necessitam de constantes adaptações e acomodações. “A função das articulações é alterada, o que pode desencadear forças e torques acima do normalmente exercido. Além disso, o seu uso demanda que alterações posturais sejam feitas a todo o momento para que se dê o equilíbrio postural”, acrescenta Melo.

Selma Batermarque da Silva Santos, 44, é um exemplo de mulher que está terminantemente proibida de usar saltos altos. A professora foi diagnosticada com três hérnias de disco na coluna e, quando sobe no salto alto, piora seu problema. “Sempre gostei muito de usar sapatos altos. Hoje, como meu nervo ciático está inflamado, prefiro abrir mão dele e fazer tudo o que meu fisioterapeuta orienta”, diz. E, quando Selma insiste em usar o salto alto, sente dores terríveis. “No momento em que estou usando esse tipo de calçado, não sinto a dor. Ela vem mesmo quando o tiro. Começa na região lombar e, depois, atinge toda a minha perna. É tão forte que parece que até meu osso dói”, conta.

CAUTELA

Nem todas as mulheres que usam sapatos de salto alto terão hiperlordose lombar (deformação na coluna), metatarsalgia (dor que acomete a região anterior aos dedos em casos de muita pressão durante o caminhar), joanete ou outro problema relacionado ao calçado. Contudo, como prevenir é sempre melhor do que remediar, tomar providências para evitar essas complicações é o recomendado. De acordo com o ortopedista e atual presidente da Federação Mundial de Cirurgia Minimamente Invasiva de Coluna, Pil Sun Choi, há um tipo de salto e uma frequência de uso menos prejudiciais à coluna. No dia a dia, o ideal, conforme ele destaca, é um sapato com 3 a 4 cm. “Saltos maiores devem ser reservados aos eventos, e, mesmo assim, a mulher deve se preparar para sentir dores nas costas e nos pés após o uso”, alerta o ortopedista.

Apaixonada por saltos altos desde a infância, Meire Cristina de Assis, 33, é uma exceção à regra. Proprietária de um salão de beleza em Betim, ela conta que passa, em média, 12 horas por dia em cima do salto alto sem sentir dor. O que mais surpreende é que ela possui um desvio na coluna desde quando nasceu. “Fui ao médico por causa disso, mas ele me disse que o salto não era o problema. Sendo assim, continuei a usar. Minhas clientes ficam impressionadas. Perguntam-me sempre como dou conta de ficar tanto tempo usando salto. Mas, para mim, é uma coisa natural. Já estou acostumada. Se eu usar rasteirinha e tênis, é que vou sentir dor nas costas e nos pés”, brinca. A empresária possui uma verdadeira coleção de saltos, que ultrapassam os 150 pares. “Minha paixão por sapato alto é tão grande que meu tamanco de praia é uma plataforma”, revela. Para ela, que mede 1,56 cm, com salto alto, a mulher fica mais sensual.

CALÇADO IDEAL
Segundo o fisioterapeuta Anderson Graciano de Melo, o sapato deveria servir para aprimorar as funções do pé, protegendo-o. “Com base em critérios de funcionalidade, e não de estética, ele deveria evitar dores, o encurtamento muscular e possíveis alterações posturais. Por isso, o melhor calçado é o tênis. Sapatos com salto plataforma, com salto muito alto e ainda com bico fino são os piores”, adverte. Ao se escolher o calçado ideal, completa o especialista, vários aspectos devem ser levados em conta. “Pensar somente no quesito estética pode acarretar uma série de problemas, atingindo até outras partes do corpo além do pé, como as costas e a coluna”, pondera.
Mas, para quem não abre mão do salto alto, como é o caso de Meire, o fisioterapeuta aconselha a se optar por aquele tipo de calçado que possui plataforma na frente. “Ele ajuda a diminuir o peso e a pressão na ponta dos pés. Outra questão importante é evitar seu uso constante e por longo intervalo de tempo”, finaliza.




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