Rodando pelo mundo

Blog Cadeira Voadora, de Laura Martins, foi criado há sete anos para incentivar pessoas com deficiência ou mobilidade reduzida a ganharem asas e irem além dos limites impostos pela sociedade. Cadeirante, ela conta nos textos as próprias experiências – pos

Criado em 20 de Maio de 2018 Bom Exemplo

A cadeirante Laura Martins mostra no blog Cadeira Voadora que as pessoas com deficiência física ou mobilidade reduzida podem realizar seus sonhos e ganhar o mundo; na foto, ela visita o Mercado da Boca

A- A A+

Ela é turista de carteirinha e decidiu que seria um desperdício de informações, imagens e pesquisas não compartilhar com outras pessoas suas experiências em hotéis, restaurantes e pontos turísticos pelos quais já passou – tanto no Brasil quanto no exterior. Foi então que nasceu, no início de 2011, o blog Cadeira Voadora, diretamente da vontade de Laura Martins, autora da ideia, de incentivar outras pessoas com deficiência física ou mobilidade reduzida a criarem coragem para “levantarem voo” e ganharem o mundo.

Cumprindo bem a missão de ajudar viajantes com deficiência ou mobilidade reduzida, o blog Cadeira Voadora é o único no país a prestar informações sobre turismo acessível de graça.

Aos 5 anos, Laura teve mielite transversa, uma doença neurológica derivada de uma inflamação na medula espinhal, provocada por um vírus, para a qual ainda não existe vacina. Ela já usou aparelho ortopédico e muletas canadenses, mas, atualmente, locomove-se exclusivamente com cadeira de rodas para preservar a musculatura. A partir da própria necessidade de saber mais sobre a acessibilidade dos locais que pretendia visitar, Laura resolveu falar a respeito das aventuras que já havia encarado a fim de ajudar mais gente.

“Fui para a Europa, para visitar o filho de uma amiga em Genebra, na Suíça, e ela me perguntou por que eu não escrevia a respeito da viagem. Foi o ‘clique’ que faltava”, relembra. Há sete anos, ela já mantinha um blog sobre assuntos variados e, então, resolveu criar outro, especificamente voltado para o turismo.

Apesar do início despretensioso, o resultado deu tão certo que o blog cresceu, deixou a plataforma original para ganhar um domínio .com.br, há cerca de um ano e meio, e, hoje, conta inclusive com textos de colaboradoras, todas cadeirantes: uma advogada, que aborda questões jurídicas, uma publicitária, que escreve crônicas, e uma carioca, que adora viajar.

Depois de passear muito Brasil afora e pelo exterior, Laura garante que o quesito acessibilidade não é falho só no Brasil; mas Toledo, na Espanha (foto), foi uma surpresa positiva para ela.

Altos e baixos

O compartilhamento de “bagagem” com os leitores tem ajudado a desmitificar o universo das pessoas com deficiência e a romper paradigmas equivocadamente instituídos pela sociedade, a começar pela possibilidade – e liberdade! – de ir e vir. Além disso, segundo Laura, a troca de informações evidencia que, ao contrário do que muitos pensam, o quesito acessibilidade não é falho somente no Brasil.

“Quando fui visitar muitos países que as pessoas falaram que eram acessíveis, vi que a propaganda não era verdadeira. Nos Estados Unidos, Nova Iorque é bastante acessível, mas só na parte turística. Mesmo assim, é impressionante a quantidade de restaurantes e hotéis sem acessibilidade. Achei o Parque do Ibirapuera, em São Paulo, melhor do que o Central Park nesse aspecto”, diz a blogueira.

Por outro lado, Toledo, cidade histórica espanhola, foi uma surpresa positiva, já que as construções modernas geralmente são mais bem-equipadas, em função das novas legislações, que exigem adequações. Durante a estada na cidade, Laura encontrou transporte público, museus e até igrejas muito antigas acessíveis a todos.

“Muitas pessoas me disseram, antes de eu ir, que, mesmo para quem não é cadeirante, esses locais são difíceis, mas acho que elas não sabiam que até o trem para chegar lá é acessível. Quando cheguei, pedi informações turísticas, e eles me deram um mapa com indicações de locais com menos e mais acessibilidade”, conta Laura.

Voando mais alto

Cumprindo bem a missão de ajudar viajantes com deficiência ou mobilidade reduzida – o Cadeira Voadora já é referência em território nacional e o único no país a prestar informações sobre turismo acessível de graça –, a autora do blog quer, agora, profissionalizá-lo para assessorar também empresas e escolas. Para isso, Laura, que é formada em letras, está cursando marketing digital e pretende fazer outros cursos na área de turismo no próximo semestre.

“Tenho que trabalhar com empresários e estudantes porque as oportunidades são imensas, e as necessidades também. Com a expectativa de vida só aumentando, cada vez mais vamos ter idosos com poder aquisitivo para viajar. Além deles, temos pessoas que quebram a perna, pais com carrinhos de bebês. Os cidadãos podem deixar de ser deficientes se as cidades forem adaptadas. A função do blog é esta: explicar para o cadeirante que o problema não é dele, é da sociedade”, conclui.

 




AVISO: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião de Revista Mais. É vedada a inserção de comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros. Revista Mais poderá retirar, sem prévia notificação, comentários postados que não respeitem os critérios impostos neste aviso ou que estejam fora do tema da matéria comentada.