Semana Santa , tradição e fé

POR Lucas Fortunato Carneiro*

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Criado em 14 de Abril de 2014 Comportamento

Foto: Reprodução Internet

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Semana Santa, tradição e fé, um movimento complexo mas possível. Tradição como fruto de uma cultura que se desenvolve o tempo todo, que precisa de suas tradições para crescer e agir, sempre de forma adulta e responsável
 
Estamos prestes a viver um dos momentos mais intensos da cultura ocidental e brasileira: a Semana Santa. Ela consiste, segundo a tradição cristã, nos últimos momentos de Jesus Cristo, o chamado tríduo pascoal, no qual Ele lava os pés dos discípulos, morre na cruz e ressuscita. Tentemos entender, então, o que significa tudo isso para nós, brasileiros.
 
Somos seres inseridos em uma cultura que tem sua origem no mundo judaico-cristão. Não quero fazer apologia a religião ou credo. Mesmo sendo cristão católico, busco ver os fatos como situações concretas do cotidiano. A celebração da Quaresma e da Semana Santa são momentos marcantes, cultural e religiosamente. Devemos as nossas origens culturais a homens e mulheres que acreditavam que vivenciar esses momentos publicamente era de suma importância.
 
Quem de nós já não ouviu uma história relacionada à Quaresma ou à Semana Santa? Penitências de toda sorte, sacrifícios que beiram o fundamentalismo, mas, também, ações de solidariedade para com os pobres e os marginalizados, reflexões de valorização da vida e, principalmente, de valorização e de respeito ao próximo.
 
Páscoa, segundo a tradição judaico-cristã, significa passagem, travessia, mudança, quando se relembra o povo hebreu que sai do Egito como escravo para buscar a terra prometida, atravessando o deserto. Busquemos entender aqui os variados símbolos que trazemos impregnados no nosso imaginário cultural: comunidade, deserto, escravidão, libertação, transformação, passagem, vida nova.
 
O que podemos tirar de tudo isso? Negar essas tradições? Mascará-las com ovos de chocolate e presentes? Fingir que tudo isso é irrelevante para mim, pois não acredito em nada? Entender tudo isso como parte de nossa cultura? Valorizar, independentemente de nossas crenças? O caminho para a civilização do amor, da fraternidade, da igualdade como valores humanos e edificadores passa pela valorização da cultura. Digo isso porque presencio uma rivalidade entre religiões que se digladiam incansavelmente para provar quem está certo ou errado. Creio que o caminho para a conciliação não é a tolerância pura e simplesmente, mas, sim, a compreensão, pois tolerar por tolerar demanda quase que uma cegueira. Posso negar e não enxergar o que o outro tem, mas compreender significa, primeiro, entender o que tenho como tradição e costume e, a partir disso, caminhar para o encontro com o outro. Só faço o movimento de compreensão quando tenho certeza do que e no que eu creio.
 
Semana Santa, tradição e fé, um movimento complexo mas possível. Tradição como fruto de uma cultura que se desenvolve o tempo todo, que precisa de suas tradições para crescer e agir, sempre de forma adulta e responsável. Movimento que devemos entender como necessário para o desenvolvimento das gerações futuras. Negar a elas o direito de vivenciar isso não nos cabe. Devemos abrir caminhos. Influenciar jamais, mas, sim, indicar trajetos que passam pela cultura e pela tradição e, quem sabe, por alguma prática de fé.
 
Costumes, todos nós temos. Desde a forma como pegar no talher, que aprendemos com nossas mães, pais, avós ou tios, ou da maneira que nos vestirmos, até os mais variados pensamentos, sejam eles religiosos ou não, tudo isso forma o nosso ethos.
 
Portanto, leitor(a), convido você a refletir com sinceridade o que desejamos com nossas tradições e práticas de fé. Respeito? Conscientes do que recebemos de nossos pais e avós, o que buscamos? A passagem, o caminho, o amadurecimento para uma sociedade melhor, para um existir de qualidade, passa pela mediação entre tradição e fé. Não deixe que isso pare sua vida, mas faça de tudo o que tem uma ponte para se tornar um ser humano que busca o melhor que vive dentro de você.
 
*Educador, graduado em filosofia pela PUC-Minas, graduando em teologia e Pós-graduando em psicopedagogia pela Fumec - [email protected]



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