Três décadas de tradição

A aventura das trilhas, o ar puro das montanhas e a saborosa comida mineira não são o que há de mais atrativo num dos bares mais conhecidos e tradicionais de Minas: o ingrediente principal do cardápio oferecido pelo Bar do Marcinho, em Macacos, é o ambien

Criado em 29 de Agosto de 2016 Capa
A- A A+

Efigênia Dusk

Os irmãos Márcio, o Marcinho, Maurício e Célia junto com o pai, Seu João, criador de um dos bares mais tradicionais em Minas
 

Dona Elena, que trabalha há 13 anos no Bar do Marcinho, atende aos clientes com muita satisfação, pois, segundo ela, aqui ela se sente em casa.

As mesas do então boteco eram montadas com tábuas de caixote que a família arranjava; a geladeira era a gás; a luz arranjada era a de lampião, e os frangos servidos no almoço eram mortos no próprio quintal da casa. Foi de modo bem simples que a família Rodrigues - o pai, João Gabriel Rodrigues, o Seu João, 76 anos; a mãe, Conceição Spósito Rodrigues, 71, e os nove filhos - iniciou a história de um dos bares mais conhecidos do Estado, o Bar do Marcinho, que fica no distrito de São Sebastião das Águas Claras, em Macacos.

Desde a inauguração, em 1987, o bar sempre foi muito procurado por motociclistas e amantes de trilha e aventura, os chamados “trilheiros”, conforme conta Márcio Rodrigues, o Marcinho, 43, o mais velho dos irmãos. “Essas pessoas nos acompanham desde o início, quando ainda nem tínhamos o bar e vivíamos de uma espécie de pedágio que cobrávamos delas para fazerem as trilhas na região”, relata. Segundo ele, nessa época, a família trabalhava em um restaurante próximo dali, recebendo comida como salário. “Daí os próprios ‘trilheiros’ que por aqui passavam nos incentivaram a montarmos nosso próprio negócio, o que, felizmente, acabou acontecendo em 87”, recorda-se o empresário.

Hoje, oferecendo mais conforto aos clientes e opções de lazer – próximo ao bar, seu João construiu uma pousada, a Pousada do Seu João, com 25 chalés –, o empreendimento permanece sob o comando dos pais – ele no atendimento, e ela, no controle da cozinha –, que contam com o auxílio de cinco dos nove filhos. Apesar das melhorias, conforme seu João faz questão de ressaltar, a simplicidade continua sendo “a alma do negócio”. “O mais importante de tudo nesta vida é você ter humildade e trabalhar sério. Com isso, você faz qualquer coisa”, ensina o patriarca, que se mudou para Macacos quando tinha 10 anos e ainda esbanja muita saúde e alegria. Ele lembra que, no começo, trazia as cervejas montado na mula Vaidosa do asfalto até sua casa. Foi tudo muito difícil na época. Mas o bar foi ficando conhecido, e as coisas foram melhorando. Nunca imaginei que chegaríamos até aqui”, ressalta, orgulhoso, Seu João.

A funcionária mais antiga do bar, dona Tetê, “comanda” a cozinha do estabelecimento, ambiente mais frequentado pelos clientes, como bons mineiros que são

A família, que, antes, trabalhava sozinha, hoje tem a colaboração de 12 funcionários no bar e de seis na pousada. De acordo com Marcinho, no fim de semana, que é o período mais procurado, o bar chega a receber entre 500 e 700 pessoas. Edelves Ramos, 54, a Tetê, que coordena a cozinha, sob a supervisão da mãe de Marcinho, Dona Conceição, acompanha os Rodrigues desde o início, há 28 anos. “Morava em Ipatinga e vi tentar a vida aqui, junto com meu marido. Tomávamos conta de um sítio, e eu ajudava a Dona Conceição na cozinha. Aprendi a fazer muitos pratos com ela. Eles são uma família para mim”, diz Tetê, que, com o trabalho no bar, conseguiu adquirir um lote na região e construir uma casa.

Outra funcionária antiga do Bar do Marcinho é Elena Parreira, 57 anos, que, há 13, trabalha no local, atendendo ao público. Assim como Tetê, ela diz se sentir em casa trabalhando com a família. “Eu gosto muito deste ambiente e das pessoas que eu atendo. Eu me sinto muito bem entre entres”, revela Elena.

Ao lado do Seu João, o produtor rural Carlos Hamilton se diz “um dos fundadores do Bar do Marcinho”, pois, conforme conta, também incentivou os Rodrigues a montarem o bar.

E, por falar em clientes – que, para Seu João e família, são considerados amigos, já que muitos deles não só os incentivaram a conceber o Bar do Marcinho, como até hoje frequentam o local, trazendo parentes e amigos –, eles confirmam o que há de melhor no bar, além, é claro, da comida: “aqui é a casa da gente”, diz o produtor rural Carlos Hamilton Gonçalves, 52, que frequenta a região há 34 anos e é um dos “trilheiros” que impulsionaram a família a criar o Bar do Marcinho. “Eu me considero um dos fundadores deste lugar”, brinca Carlos.

Já os amigos ‘trilheiros’ Gustavo Fagundes, 38 anos e administrador, Tomaz Gomide, 35 e empresário, Cristiano Silísio, 32 e empresário, que fazem trilha na região há mais de dez anos, destacam o segundo ingrediente mais importante do cardápio do Bar do Marcinho: a comida. “Aqui temos comida mineira de verdade”, relata Gustavo, que acrescenta: “Além disso, o atendimento proporcionado pelo ambiente familiar é muito bom”. Os quatro amigos contam que costumam fazer trilhas em várias cidades mineiras – Raposos, Rio Acima, Sabará, entre outras –, mas preferem Macacos pela tradição e pelo conforto oferecidos no Bar do Marcinho.

 

A cozinha

Quem já adentrou a cozinha do estabelecimento entende bem o que funcionários e clientes querem dizer quando afirmam que se sentem em casa no local. É que, como acontece na maioria dos lares mineiros, a cozinha é o ambiente mais visitado pelas pessoas da família. E, no Bar do Marcinho, não é diferente. Você entra na cozinha para se servir – de tira-gostos ou de almoço –, pede um ovo frito caso queira complementar o prato e quase sempre volta para repetir (porque é tudo bom demais da conta!). E, como se isso não bastasse, Dona Conceição, a matriarca, dona Tetê, a “comandante” da cozinha, e suas colaboradoras ainda recebem todos com um sorriso largo e bonito.

 Segundo Marcinho, o restaurante também funciona como boteco e, por isso, os tira-gostos são muito solicitados, como o Mineirinho, composto por torresmo, mandioca e linguiça. De bebida, vai a tradicional limonada ou, para quem não estiver dirigindo, uma boa caipirinha. O preço do almoço custa em torno de R$ 30, de acordo com Marcinho, e o dos tira-gostos, R$ 40. O bar funciona de quarta a domingo, das 9h às 19h. Já na pousada, o valor de um fim de semana para o casal é de R$ 400, com estada de segunda a domingo.

É de praxe os amigos “trilheiros” Tomaz, Gustavo, Cristiano e Edson fazerem uma parada no Bar do Marcinho para tomarem uma cerveja gelada e degustarem um tira-gosto.

Shows e eventos

E a diversão proporcionada pela família não fica restrita ao bar e à pousada. Segundo conta Marcinho, eles já promoveram centenas de eventos no local, como o famoso Aniversário do Seu João, realizado anualmente desde 1997, o Forró da MTV, que começou um ano antes, e muitos eventos voltados para os motociclistas e os “trilheiros”, como a Copa Brow, a Copa Pró-Moto de Enduro, a Iron Adventure, entre outros. “Também já fizemos muitos shows com artistas famosos, como Zé Ramalho e J Quest”, cita. Marcinho conta que, por 20 anos, eles se dedicaram a esse projeto, que, mais recentemente, a família deixou em segundo plano. “O segredo é saber a hora de parar. Para vivermos bem, não precisamos ter muito dinheiro. O mais importante é ter qualidade de vida”, afirma.

Reconhecimento

Por conta de tanta tradição, o Bar do Marcinho, conforme pontua o proprietário, já recebeu dezenas de homenagens. Uma delas foi oferecida pela revista “Veja”, em 2005, denominando o bar como o Melhor da Cidade, prova de que o ingrediente “simplicidade” realmente não pode faltar, como bem disse Seu João.  




AVISO: Os comentários são de responsabilidade de seus autores e não representam a opinião de Revista Mais. É vedada a inserção de comentários que violem a lei, a moral e os bons costumes ou violem direitos de terceiros. Revista Mais poderá retirar, sem prévia notificação, comentários postados que não respeitem os critérios impostos neste aviso ou que estejam fora do tema da matéria comentada.