Um alerta em quadrinhos

Criado em 21 de Julho de 2016 Talento
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Roteirista cria histórias para conscientizar as pessoas quanto ao futuro da água no planeta; revista “Mirage – o Caos da Água”, que convida os leitores a imaginarem o universo sem recursos hídricos, foi lançada na última Feira Internacional de Quadrinhos, a FIQ.

Iêva Tatiana

“O mundo caminha para a escassez total de água. Dentro de, no máximo, 30 anos, o abastecimento global sofrerá um colapso que desencadeará o maior conflito mundial da história. Os que sobreviverem terão que lutar contra a sede, a fome, novos tiranos e a incoerência de um mundo caótico!”.

Com essa introdução, na qual antecipa um cenário pós-apocalíptico, o roteirista e professor de inglês Paulo Corrêa dá as boas-vindas aos leitores da revista em quadrinhos “Mirage – O Caos da Água”, lançada no último Festival Internacional de Quadrinhos (FIQ) de Belo Horizonte, em 2015, na versão impressa.

Hoje com 33 anos, o belo-horizontino vem desenvolvendo esse trabalho desde os 13. A inspiração para a história – que narra uma ficção já não tão distante de nossa realidade – surgiu em uma aula sobre as duas Guerras Mundiais, ocorridas de 1914 a 1918 e de 1939 a 1945.

Cerca de 20 anos atrás, os professores de Corrêa já especulavam a motivação para um terceiro grande conflito entre os países: a falta d’água. O aprendizado da sala de aula encontrou um terreno fértil na cabeça do então adolescente ao se unir ao filme “Mad Max”, produção australiana de 1979 assistida por ele em meados da década de 1990. “Tive contato com a história e usei o filme como referência para quase tudo, antes mesmo da crise (hídrica) que tivemos agora. A revista gira em torno de vários personagens tentando sobreviver”, explica o roteirista.

A proposta da “Mirage” é chamar a atenção das pessoas, convidá-las a imaginarem um universo sem recursos hídricos na forma como são encontrados hoje e desmistificarem a ideia de abundância e renovação que foi criada no passado. “Tento descrever como seria o mundo sem água potável disponível como temos hoje. Trabalho a conscientização do leitor e a expectativa de como seria terrível viver sem água”, define Corrêa.

DESAFIOS

Antes de a história em quadrinhos ganhar forma física, em papel, o autor lançou, em 2013, também durante o FIQ, uma versão digital em aplicativo e contou com o apoio da Casa dos Quadrinhos no evento, com a cessão de um espaço. No mesmo ano, ele buscou o apoio de leis de incentivo à cultura e teve o projeto aprovado, mas não conseguiu captar recursos.

Além de ajuda financeira, Corrêa precisava completar a equipe e encontrar ilustradores que dessem vida à narrativa criada por ele. Dois anos mais tarde, na edição seguinte do Festival Internacional de Quadrinhos – que é bianual –, o esforço do autor teve resultado. Welberson Lopes (roteiro), Eduardo Pansica (desenho), José Luis (desenho), Alzir Alves (cores) e Luís Carlos Sousa (letras) juntaram-se a ele. “No começo, tinha só ideia, alguns rascunhos, mas não possuía condições de produzir no nível em que gostaria. Comecei a trabalhar com uma equipe e a produzir tudo do meu bolso. Para o FIQ 2015, tive que juntar mais dinheiro”, lembra.

A “Mirage” conta, agora, com versões em português e inglês, e está disponível em dois grandes aplicativos do segmento: o Social Comics (nacional) e o Comixology (internacional). Além do Brasil, Estados Unidos, China e Inglaterra reúnem leitores da história de Paulo, que chega a registrar de 700 a 1.000 downloads mensais.

Com o sucesso, uma continuação já está em fase de pré-produção para ser lançada no ano que vem. “Quis contar essa história porque é algo que eu acredito que vá acontecer. Fico preocupado com isso. A ideia é conscientizar os leitores a terem outra abordagem em relação à água”, diz Corrêa.

E o autor rebate quem acha precoce conceber um futuro apocalíptico aos 13 anos. “Normalmente, quem tem ideia de produzir já se preocupa com problemas universais. Quem tem acesso à leitura e, principalmente, à produção pensa muito sobre conscientização, sobre como ajudar na formação dos indivíduos”, conclui. 




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