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Entrevista - Lenine

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Criado em 10 de Outubro de 2013 Música
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Apontado como um dos mais talentosos cantores e compositores do Brasil, o pernambucano com coração carioca Osvaldo Lenine Macedo Pimentel, o Lenine, falou para Mais, em sua recente passagem por Betim, durante a apresentação no Sexta Melhor, na Casa da Cultura, sobre carreira, família e seu trabalho mais recente, “Chão”
 
Ana Flávia Belloni
REVISTA MAIS – Como você ingressou no cenário musical? Por que deixou Pernambuco e foi morar no Rio de Janeiro?
 
Lenine – Cheguei ao Rio na década de 1970. Nessa época, tínhamos pouco espaço e recursos para música em Recife. Já o Rio apontava para um possível ou provável crescimento. Inicialmente, morei com alguns amigos, compositores, que, até hoje, são meus parceiros em tudo. Dividimos por algum tempo um imóvel na Urca, uma casinha em uma vila em Botafogo, famosa por ter sido moradia de Macalé e Sônia Braga. Depois, fomos para Santa Teresa, mas sempre juntos, compondo, criando e tentando sobreviver em uma época em que nosso som era uma mistura sem definições e o mercado só trabalhava com o rock. Não foi fácil, mas, certamente, fundamental para o que faço hoje.
 
Quais suas principais influências musicais?
A minha principal influência foi o grandioso movimento musical, encabeçado por Milton Nascimento, intitulado Clube da Esquina. Esse grupo foi a minha grande escola, minha universidade de música. Foi focando nas suas produções que eu aprendi a tocar, buscando sempre a mesma qualidade das músicas que ouvia. Devo o meu crescimento e desenvolvimento como cantor a esses mineiros.
 
Depois da gravação do seu primeiro trabalho em parceria com Lula Queiroga, você atuou em outras áreas, como roteirista e até como vendedor de livros. Em algum momento pensou em desistir da música?
Não, nunca. Mas em alguns momentos dessa trajetória tive muitas dúvidas e permaneço com elas. O fato de tentar descobrir outras formas de gerar receita foi impulsionado pela certeza do caminho da música. Eu precisava sobreviver para continuar produzindo.
 
Você valoriza muito a família. O que faz para conciliar a vida corrida de cantor e o convívio com esposa, filhos e netos?
Não tenho a mínima ideia, mas estou há mais de 30 anos casado, tenho três filhos lindos e saudáveis, dois netos incríveis, e o núcleo continua cheio de carinho e amor. Minha casa é minha sanidade e, portanto, não só o meu reduto, mas também o da minha família.
 
Dih Leeal/ Divulgaçã
 
Seus filhos também têm se revelado excelentes profissionais do meio musical. Sente-se orgulhoso?
Se eu fico orgulhoso? É lógico! O Bruno e o João sempre me provaram uma competência além da idade. O João comemora 12 anos de estrada com a banda Casuarina e o Bruno já produziu comigo anteriormente. A novidade, desta vez, foi estarmos lado a lado em todo esse processo, cairmos na estrada mesmo. Sou muito criterioso, não firmaria parcerias com meus filhos somente pelos laços familiares. Agora, chegou a vez do mais novo, Bernardo, que já compõe e se apresenta com a sua banda Maktube.
 
Um dos seus grandes diferenciais é a capacidade de se renovar, transformar e inovar. De onde vem essa inspiração?
Não é algo que me preocupe ou que me direcione. É mais uma fidelidade a uma parceria que eu carrego há muitos anos com uma senhora chamada “estranheza”. Eu a ouço muito, mas não demais, porque essa senhora é muito egoísta e corro o risco de que ela me faça descolar da realidade, somente pela estranheza. E esse não é o caso. Prefiro acreditar que consigo, com o que eu produzo, entreter as pessoas, educá-las e levá-las um pouquinho mais além.
 
Você é compositor, produtor, contrata instrumentistas, grava e negocia os seus próprios CDs. Por que resolveu assumir as rédeas de toda a sua produção musical?
Quando o mundo sorriu amarelo para mim, não tive dúvidas de que a única maneira de continuar fazendo música seria me autoproduzindo. Todos os meus projetos fui eu quem realizou, depois, licenciei, ou mesmo vendi. Mas em cada caso fui o produtor e, com isso, garanti o meu desejo. Só faço o que quero .
 
Em “Chão”, o décimo e mais novo álbum de sua carreira, você buscou algo mais leve e orgânico, deixando de lado o som pesado e o uso da bateria. O que o inspirou a buscar esse estilo?
A primeira coisa foi a escolha do nome do disco e a decisão de gravar um álbum sem bateria e percussão. Em uma das primeiras gravações, a porta do estúdio ficou aberta e, quando fomos ouvir, havia o canto de um passarinho no fundo – era Frederico VI, o canário-belga de minha sogra. Foi quando percebemos que ele solou, criou arranjos para a música. Foi a grande janela. A partir daí, os sons de meu cotidiano passaram a fazer parte de “Chão”.
 
Quais sentimentos e reações você esperava despertar no público?
Não me contento em meramente entreter, preciso ter a certeza de que a minha interferência, fazendo o que eu faço, vai além do show. Isso é muito importante para mim. Acho que, ao longo dos anos, só procurei ser honesto com o desejo genuíno de fazer música e não me distanciei disso. Talvez por causa disso mesmo, eu ainda tenha essa sensação quase juvenil, de quando estou, por exemplo, me preparando para o show e vou passar o som. Já poderia estar sem saco de passar o som, mas eu gosto tanto e é tão fundamental para mim que isso virou minha religião. Isso é meu contato com o divino, é minha missa. Eu respeito muito todo esse processo e continuo me divertindo em demasia.
 
Como foi se apresentar em Betim?
Incrível. Tenho um carinho muito especial pelo mineiro e espero retornar em breve a Betim.

 




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