Uma mulher múltipla
Milhares de mulheres no Brasil acordam cedo todos os dias, deixam os filhos em casa ou na escola e vão trabalhar. Andam belas, fortes, cheias de fibra e vontade de vencer. Dão aulas, fazem artesanato, são gestoras de grandes empresas ou de órgãos públicos
A empreendedora Cristiane Ferreira não se curvou ao diagnóstico de esclerose múltipla: divide seu tempo entre o lar, o trabalho e o cuidado com o corpo e a mente; para ela, equilibrar o emocional é a chave para manter a saúde
Da Redação
DENTRE TODOS OS SEUS TRABALHOS E SUAS ATRIBUIÇÕES, Cristiane se dedica também ao programa “Sou Múltipla”, que faz parte do “Hit Minas”, exibido na TV BH News e que vai ao ar todos os domingos, às 19h. Pela audiência e o sucesso, o “Sou Múltipla” vai ganhar seu próprio espaço na TV, a partir de março. Haverá quadros novos e algumas novidades que ela guarda para divulgar ao público quando estiverem concretizados.
Para o quadro, leva sempre mulheres que têm boas histórias para contar. “Converso com empreendedoras, mulheres que fazem parte de movimentos sociais, enfim, mostramos a riqueza de Minas Gerais”, diz. A primeira foi a amiga e empresária Beth Pimenta, fundadora da perfumaria Água de Cheiro. “É importante que a pessoa tenha algo bacana para contar. Com a Beth foi um sucesso”, relata.
Antes de ser fundadora, junto a outras empresárias de Betim, da Associação Mulheres Empreendedoras de Betim (AME Betim), Cristiane se consolidou como professora e gestora. Formada em Letras, na Universidade Federal de Minas Gerais, e especialista em linguística aplicada, ela morou um ano nos Estados Unidos, onde estudou inglês, na Universidade do Novo México. De volta ao Brasil, começou a dar aulas de inglês. “A sala de aula sempre foi minha grande paixão. Não me lembro brincando de outra coisa na infância sem ser de dar aulas”, recorda-se.
Em 1991, fundou sua primeira escola de inglês na cidade. Com um perfil de empreendedora, já teve quatro instituições de ensino de línguas no município, onde vive desde os 17 anos. Cristiane fala de Betim com carinho, mas mostra vontade de ver a cidade se expandir. “Acho que ela pode crescer ainda mais, sobretudo culturalmente. E os betinenses precisam prestigiar o que tem de bom por aqui: os serviços, o comércio, as empresas”, salienta.
UNIÃO
Ao perceber que muitos moradores ainda buscam estudo, lazer e cultura em Belo Horizonte, sentiu-se motivada a fomentar o empreendedorismo em Betim. O primeiro passo foi trabalhar com mulheres em situação de risco, principalmente as prostitutas. “Conheci a presidente do sindicato, vi que elas são bem organizadas e constatei que o empreendedorismo é o único caminho, explica. Criou-se então um grupo de mulheres, que realizou um planejamento estratégico para, primeiramente, fortalecer as empreendedoras de Betim e, depois, ajudar outros grupos. Assim, nasceu a AME Betim. “Conseguimos fazer muitos eventos e permitir que as pessoas se conhecessem, se relacionassem, fizessem negócios”.
Com o trabalho à frente da AME, a empreendedora foi convidada a assumir a Câmara Estadual da Mulher Empreendedora da Federação das Associações Comerciais e Empresariais de Minas Gerais (Federaminas). “Nosso objetivo é abrir câmaras em todo o Estado e fomentar o negócio de mulheres”, afirma.
Como múltipla que é, Cristiane Ferreira é também professora de empreendedorismo na Fundação Getúlio Vargas.
Para ela, toda mulher é múltipla, empreendedora, geradora de riqueza, capaz de mudar a história de uma família, de uma comunidade. Todavia, defende mais direitos e flexibilidade para o público feminino. “Temos, por exemplo, uma CLT muito perversa com a mulher, que não evolui nas questões trabalhistas. Precisamos ter humanização nas relações de trabalho para vermos o ser humano feliz, realizado e gerando riqueza. As pessoas infelizes não são produtivas”, avalia.
DESAFIOS
Cristiane é portadora de esclerose múltipla. A doença crônica atinge o sistema nervoso central, podendo afetar cérebro e medula espinhal. A estimativa é que, no Brasil, existam hoje 35 mil portadores de esclerose múltipla, sendo a maior parte composta por mulheres.
Mas, Cristiane não se curvou ao diagnóstico, feito em 2010. O primeiro surto coincidiu com um evento importante da AME. Cristiane se recorda de que precisou ficar uns dias na cama, sem ao menos poder levantar o pescoço. “Convivo bem com a esclerose. Faço atividade física, tenho uma alimentação balanceada e acredito muito na força espiritual”, enfatiza.
Em janeiro deste ano, contou sua história em outro programa da BH News, o “Revista BH News”, e revelou que suas outras duas irmãs também são portadoras da doença neurológica, que, infelizmente, não tem cura e pode atingir o organismo com perda da visão e dos movimentos. Ela diz que equilibrar o emocional é a chave para manter a saúde. “Olhar positivamente é fundamental. Temos de agradecer o que acontece de bom na vida”, conclui.